O chamado cinema fantástico não é algo muito presente na cinematografia brasileira.
Na verdade, fazer cinema no Brasil já é um tremendo desafio por si só e por várias razões. Desde a falta de apoio adequado por parte das várias instâncias governamentais.
Até mesmo o preconceito do público, que ainda olha para o filme nacional cm um pé atrás
Mas talvez falte também um maior arrojo aos realizadores nacionais para se aventurarem pelo gênero.
Assim, de bate-pronto, não vem nenhum título à mente. Talvez O Homem do Futuro? Sei lá… É para se pensar.
Ainda bem que existem realizadores como Renata Pinheiro, que decidiu materializar Carro Rei a partir de roteiro escrito por Sergio Oliveira, Leo Pyrata e por ela mesma.
De cara é possível notar o tom pop e fantástico do seu filme.
Quem curte John Carpenter, Stephen King e até mesmo Planeta dos Macacos (o do Charlton Heston, please!), reconhecerá as influências desses belos exemplares do cinema americano em seu trabalho.
Segundo Renata, Carro Rei é uma fábula sobre a condição humana em um mundo cada vez mais antinatural e tecnológico: “Quando nossa realidade parece se tornar cada vez menos verossímil, talvez não seja de todo absurdo a possibilidade de se vislumbrar no fantástico uma forma potente de fabulação crítica da realidade. O estranho, bizarro ou improvável, e também o que desperta o riso, são os principais aspectos políticos do meu filme”, revela.
A história
Em Carro Rei, testemunhamos o parto de um menino a bordo do táxi do pai, ainda um pequeno empresário em Caruaru (PE).
O momento mágico do seu nascimento lhe garantiu o mesmo nome do carro que o transportou: Uno. E o dom de conversar com veículos automotores.
O carro e Uno se tornam grandes amigos, mas uma tragédia os separa e o veículo é aposentado no ferro-velho da família, onde mora o tio de Uno, Zé Macaco (interpretado magistralmente por Matheus Nachtergaele).
Dez anos depois, Uno, agora com 19 anos, revela ao pai o interesse em estudar agroecologia e não ajudá-lo com a frota de táxis da família.
Para piorar a situação, a Lei Zero Quilômetro aprovada pela assembleia começa a tirar de circulação os carros com mais de 15 anos de idade.
O que quebraria o pai de vez.
Uno tem a ideia de, ao lado de Zé Macaco, revitalizar o seu antigo amigo no ferro-velho, criando assim o Carro Rei (voz de Tavinho Teixeira).
O novo carro faz tanto sucesso com os clientes da cidade que os negócios prosperam. Outros veículos são customizados e surge a King’s Car, uma linha de automóveis únicos.
Únicos, porque todos têm vida própria e participam de um plano movido pelo Carro Rei, que comanda uma revolta contra os humanos.
Percebem pitadas de Christine – O Carro Assassino aqui? Filme que reuniu Stephen King e John Carpenter, curiosamente.
Pois além da história lembrar vagamente esse filme, a trilha sonora original, assinada por Dj Dolores, também o faz.
E a incrível cena de amor entre o Carro Rei e Mercedes, interpretada pelo ator transgênero não binário Jules Elting? Ao som de Automatic Lover, de Dee D. Jackson (1978)? Outra influência presente no roteiro e rebatida na tela.
À parte de tudo mesmo é a atuação de Matheus Nachtergaele como Zé Macaco. Ainda que o personagem estivesse ali, em roteiro, não fosse o talento deste incrível ator, não ganharia a mesma vida.
Seus movimentos símios comprovam a fisicalidade de suas interpretações.
Não por acaso, Matheus recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado 2021. Acompanhado pelos Kikitos de Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora.
Carro Rei é rico em cultura pop, humor e, principalmente, crítica social.
O automóvel deixa de ocupar lugar de destaque na lista de bens de consumo do brasileiro e passa a ser um vilão no filme.
Quem não conheceu alguém que põe “nome de gente” no seu carro? Pois em Carro Rei, um humano tem nome de carro. Total transhumanismo.
Renata Pinheiro contou que, em seus filmes, qualquer coisa pode se transformar em personagem e a linguagem visual é tão importante quanto o diálogo.
A seguir, acompanhe a entrevista que o CriCrítico Rogério Victorino fez com a diretora.
Carro Rei entra em cartaz em 30 de junho distribuído pela Boulevard Filmes.
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Carro Rei
Carro Rei é cinema fantástico com forte crítica social e referências pop. A atuação de Matheus Nachtergaele merece destaque à parte.
PROS
- Cinema fantástico na veia, repleto de referências pop
- Trilha sonora original funciona bem demais. Não à toa, foi premiada em Gramado
- Matheus Nachtergaele entrega um Zé Macaco genial, com uma fisicalidade impressionante
Análise da Crítica
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Roteiro
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Atuação
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Elenco
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Direção e Equipe
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Som e Trilha Sonora
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Figurino
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Cenários