Oscar® 2024: indicações, justiça e um ônibus superlotado

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood passou a última semana em festa. Isso porque a lista de indicados, ou melhor, a lista de não indicados para o troféu desse ano, fez até gente que jurava não dar a mínima para a estatueta falar do assunto. Ou seja, após anos rangendo os dentes com a queda na audiência, o executivos da Academia passaram os últimos dias felizes como meninas de laçarote.

Não é novidade que controvérsia gera engajamento, mesmo décadas antes dessa palavra se tornar o mantra da turma do marketing. Quantos lembram quem venceu a categoria Melhor Filme no 14º Oscar®? Muito mais fácil encontrar quem saiba que Cidadão Kane, um dos melhores filmes da história do cinema, saiu da cerimônia sem a estatueta (Como Era Verde o Meu Vale foi o vencedor). E para isso, nem é preciso lembrar que o fato ocorreu em 1942.

Mas o elefante quebrando a cristaleira da sala esse ano, sem dúvida, foi a não indicação para Greta Gerwig e Margot Robbie. Ainda mais com Barbie entre os indicados para melhor filme e Ryan Gosling na lista de coadjuvantes. E mesmo com Lily Gladstone como primeira indicação da história a uma pessoa nativo americana.

Oscar® 2024: indicações, justiça e um ônibus superlotado
Foto: Divulgação / Warner

Direção

A primeira reação à ausência de Greta Gerwig na lista de indicados é gritar preconceito contra diretoras. Para sorte daqueles executivos felizes, entretanto, Justine Triet está entre os indicados. Então, mesmo sem deixar de reconhecer o machismo na indústria, ou que a categoria de direção seja predominantemente masculina, o argumento cai. Não de todo, mas um pouco. E aí vale dar uma olhada na votação.

Barbie conseguiu a indicação para melhor filme, categoria em que todos os eleitores da Academia votam. Mas, Gerwig ficou de fora na categoria em que apenas os diretores votam. Então, o que vemos pode ser a soma de má vontade com comédias ao nariz empinado de uma classe de votantes que rejeita sucessos comerciais.

Além disso, Gerwig sai sem indicação, mas com um recorde. É a única cineasta a ter seus três primeiros longas, Lady Bird: A Hora de Voar (2017), Adoráveis Mulheres (2019) e Barbie, indicados ao Oscar® de melhor filme.

Pode ser inveja.

Oscar® 2024: indicações, justiça e um ônibus superlotado
Foto: Divulgação / Sony Pictures

Principal e coadjuvante

Já o caso de Margot Robbie tem outros tons. Para começar, o fato de o coadjuvante ter uma indicação ao Oscar® não é obrigatoriedade de indicação para o protagonista.

Bastardos Inglórios (2009) premiou Christoph Waltz como Melhor Coadjuvante, mas não rendeu sequer a indicação a Brad Pitt. O que, aliás, não gerou protestos. Outro exemplo é Se a Rua Beale Falasse (2018), que premiou Regina King como Melhor Coadjuvante e deixou Kiki Layne sem indicação para melhor atriz.

Mais complexa foi a situação em 1985, quando Tom Hulce e F. Murray Abraham foram ambos indicados na categoria de ator principal por Amadeus (1984). Nunca um empate foi tão necessário, mas Abraham venceu, e resumiu a situação dizendo que Hulce deveria estar com ele no palco.

Merece ou não?

Não há dúvida de que Margot Robbie fez um grande trabalho em Barbie. Não tão impressionante como a complexa protagonista de Eu, Tonya (2017), entretanto, digno de premiação.

Mas a primeira pergunta é: seu desempenho é um dos melhores de 2023? Lembrando que o prêmio é por um trabalho e não pela conjunto da obra, como aqueles troféus que a Academia dá quando acha que o homenageado está com um pé do outro lado.

E agora a situação fica difícil. Porque se Robbie merece entrar, quem mereceria sair da lista? Certamente não Lily Gladstone. Nem Annette Bening. Ou Carey Mulligan. Nem Sandra Hüller ou Emma Stone. Além disso, não foi apenas Margot Robbie que ficou de fora. Fantasia Barrino também ficou sem indicação por seu trabalho em A Cor Púrpura, assim como Greta Lee, por Vidas Passadas, Caillee Spaeny por Priscilla e Michelle Williams com Esculturas da Vida.

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Foto: Divulgação / Paramount / Apple

O que aconteceu, então?

Ao que parece, após constantes reclamações exigindo melhores papeis femininos, em especial para atrizes acima dos 40 anos como Anette Bening, a indústria ouviu. E o resultado é uma safra de ótimas performances. Mais do que o número de vagas para o Oscar®, o que é muito bom para todos os envolvidos. Incluindo quem não foi indicado.

Só falta agora Ryan Gosling vencer e arrastar Margot Robbie para o palco, causando um bocado de barulho que duraria semanas. Aí, aqueles executivos da Academia iriam explodir de felicidade.

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