Sempre gostei de filmes sobre aviões. O primeiro que vi foi Aeroporto, baseado no best-seller de Arthur Hailey, de 1968. O filme, lançado em 1970, teve dez indicações ao Oscar®, com a veterana Hellen Hayes ganhando o de Melhor Atriz Coadjuvante.
Sua história é simples: sem dinheiro e perspectiva de futuro, um empreiteiro faz uma bomba para explodi-la quando o voo que vai para a Itália estiver no meio do Atlântico. Com sua morte, sua esposa ganharia o seguro de vida milionário.
Em O Sequestro do Voo 375, baseada em uma história real, o personagem central também quer usar o avião para resolver um problema pessoal. Desempregado durante a crise econômica do governo Sarney, Nonato (Jorge Paz) entra armado em um voo de Belo Horizonte para o Rio e obriga o piloto a mudar a rota para Brasília. Seu objetivo: jogar o avião contra o Palácio do Planalto e matar o presidente José Sarney.
Sarney, na cabeça de Nonato, é o mal de todas as coisas.
Diferente de Aeroporto, o filme de Marcus Baldini, não tenta construir um perfil psicológico de Nonato e nem mostrar o drama pessoal da tripulação ou dos passageiros. O foco do filme é a ação que ocorre a partir da tomada do avião por Nonato.
Ninguém fica questionando porque ele decidiu agir e sequestrar o Voo 375. O filme navega na ação e reação do personagem e seus opositores dentro do avião. É como se o público estivesse testemunhando em tempo real o horror de um ato passional.
Referências
Um dos filmes interessantes de acidentes aéreos é Aeroporto 77, quando um Jumbo 747 pousa no meio do Pacífico, manobra que os engenheiros da Boeing sempre disseram ser impossível realizar. O mesmo disseram sobre a manobra realizada pelo comandante Murillo (Danilo Grangheia), que conseguiu desabilitar momentaneamente Nonato.
Mesmo com o depoimento dos passageiros e da tripulação, a Boeing declarou que era impossível realizar a manobra. Algo similar ao voo invertido feito por Denzel Washington, em O Voo (2012). Mas o que o público irá ver em O Sequestro do Voo 375 aconteceu e é um dos momentos mais tensos do filme. E insuperável.
A reconstituição do que aconteceu naquele dia através de efeitos visuais e computação gráfica é um marco na história do cinema nacional. Em questão de minutos, o público consegue sentir o terror do momento, mesmo sabendo que a manobra conseguiu trazer os passageiros sãos e salvos.
Introdução discutível
O único exagero é a introdução da história, mostrando um videoclipe da situação no país naquele momento. Após a morte de Tancredo Neves, José Sarney assumiu a Presidência da República, o primeiro presidente civil depois do regime militar. E como qualquer governo de transição, a crise econômica se fez presente.
Toda essa introdução para justificar o que Nonato vai fazer?
Nonato tinha problemas, como o personagem de Van Hefflin em Aeroporto. Assassinar pessoas inocentes para justificar uma frustração vai além da ficção. Pode servir para as novas gerações digitais, que desconhecem a história recente do país e não tem ideia do que o Brasil já passou.
Felizmente, a introdução do filme não compromete a ideia e o desenvolvimento dessa história, que aconteceu em setembro de 1988. Muita gente esqueceu, mas felizmente existe o cinema para nos levar de volta no tempo.
É difícil saber se O Sequestro do Voo 375 vai trazer pessoas para o cinema para conhecer um fato marcante dos anos 80. A torcida, para quem sabe que a História é suprema, é que o filme desperte o interesse dessa nova geração de saber mais sobre a nossa própria história.
Quem sabe erros possam ser corrigidos por um futuro melhor. Estreou em 7 de dezembro de 2023 nos cinemas distribuído pelo Star. E agora chega ao streaming no Star+.
