Crítica | Filme | Assassinos da Lua das Flores

Martin Scorsese está de volta com alguns de seus atores favoritos, Robert DeNiro e Leonardo DiCaprio, em mais uma história de violência, poder e ambição. O cenário, entretanto, não é a urbana Nova York de seus filmes de gângster. Assassinos da Lua das Flores é um western.

Deixe de lado, contudo, a imagem de guerreiros nativos americanos enfrentando a cavalaria dos EUA. Estamos aqui na década de 1920 e no epicentro de um choque cultural fadado à matança. O cenário, o território em Oklahoma para onde o povo Osage foi levado nos anos 1870. Uma terra ruim onde era provável – desejável? – que os Osage morressem ou apenas sobrevivessem dependentes de ajuda social.

Dinheiro e poder

Mas, quis o destino que o lugar indesejado tivesse o que todos passaram a querer, petróleo. Para explorá-lo, contudo, era necessário obter a licença de seus proprietários, os Osage. Estava a pronta a receita para o desastre. Que incluiu a decisão do governo dos EUA de que os Osage não eram capazes de cuidar do próprio dinheiro e precisavam ter tutores. Obviamente, escolhidos entre os brancos.

É aqui que surge Ernest, veterano da Primeira Guerra Mundial, que vai à Oklahoma a convite do tio, o influente pecuarista William Hale, King para os íntimos. Entre os dois, uma relação de poder em que o Ernest de Leonardo DiCaprio constantemente se submete ao King de DeNiro. A principal vítima é Molly, uma Osage que, mesmo enxergando a venalidade de Ernest, não consegue escapar dele.

Sem pressa (o filme tem mais de 3 horas de duração), Scorsese mostra como o sistema é arquitetado e retorcido contra os Osage. Como as mortes se sucedem até a pilha ficar alta o suficiente para que o governo federal e o nascente FBI se interessem. Enquanto vemos o casamento de Molly e Ernest oscilar entre o sentimento e a obediência às ordens de King. Dona de uma aura de dignidade, Lily Gladstone dá à Molly um enorme leque de emoções em meio ao desastre que a cerca.

Histórias esquecidas

Pois é uma longa demonstração do que de pior aconteceu com as minorias em uma sociedade movida pela ganância e o preconceito. Scorsese inclui imagens do massacre de Tulsa, a destruição da bem-sucedida comunidade afrodescendente da cidade em 1921, para deixar claro que Osage não foi um fato isolado.

É em tudo, da ambientação ao elenco, passando pelo guarda-roupa historicamente acurado, um grande filme. Encerrado com uma cena com um detalhe que não pode passar despercebido: os Osage sendo interpretados por atores brancos. Estreia em 19/10, distribuído pela Paramount.

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