Pouco antes da batalha de Waterloo, Napoleão está em pé na entrada de sua tenda. No outro lado do campo de batalha, um atirador inglês vê o rei francês em sua mira e pergunta ao Duque de Wellington se deve atirar. O comandante inglês proíbe o tiro.
Impossível dizer se a morte de Napoleão cancelaria a batalha, evitando mais de 50 mil mortes. Mas, como ela aconteceu, Ridley Scott a reconstrói em seu longa, Napoleão. É um dos pontos altos do filme, assim como as demais batalhas em que o personagem título demonstrou seu talento estratégico e gana pelo poder.
Passeio histórico
Muito antes de Waterloo, entretanto, o longa vai ao momento crucial para Napoleão, a Revolução Francesa, que depôs a monarquia e instaurou a república. Bonaparte é, então, um ambicioso oficial de artilharia apoiador da revolução que recebe a incumbência de retomar Toulon, porto francês sob domínio britânico.
É o início de uma carreira de sucesso que vai levar o militar nascido na Córsega ao momento em que Napoleão coroa a si mesmo rei da França. Uma cena que reproduz no longa a pintura gigantesca (10m x 6m) de Jacques Louis-David, hoje no Museu do Louvre.
A belíssima reconstituição histórica, no entanto, não impede que o filme perca o ritmo entre uma batalha e outra. Contar a vida de alguém como Napoleão, que alterou a geopolítica do planeta, influenciando até a independência do Brasil, não é tarefa fácil e muita coisa fica de fora. Estão no filme apenas seis de suas dezenas de batalhas.
A ascensão de Napoleão ao trono francês também resulta simples demais no roteiro. Legendas ajudam a conduzir a passagem do tempo e a identificar figuras que habitam os livros de História. O relacionamento de Napoleão e sua mãe, entretanto, essencial para compreendê-lo como pessoa, não recebe a atenção necessária.
Tanto Vanessa Kirby como sua personagem, Josephine, também mereciam mais tempo. O roteiro ameaça falar de uma parceria entre ela e o marido, mas isso nunca aparece em cena. E as cenas de sexo a colocam por vezes como desinteressada e não refletem a paixão das cartas que Napoleão enviou à sua esposa.
Épica promessa
O que emerge do longa é uma história truncada, que varia entre lindas cargas de cavalaria e demonstrações de ego. Certamente, Napoleão não teria ultrapassado o bullying que sofreu por ser corso, falar com sotaque, não ser muito alto, e chegado ao trono da França se não tivesse uma personalidade para acompanhar a ambição. Mas em vários momentos, o roteiro se esforça para ridicularizá-lo.
Mas o veredito não está pronto. Scott prepara uma versão do diretor com quatro horas e dez minutos de duração. Nem sempre mais tempo significa um filme melhor. Mas, com uma criatura tão influente em nossa História, talvez seja essencial para um retrato mais complexo emergir da tela. Estreia em 23 de novembro distribuído pela Sony Pictures.

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