Crítica | Filme | Fúria Primitiva

Crítica | Filme | Fúria Primitiva

É preciso coragem para executar uma vingança. Mesmo que o ódio seja alimentado por anos, na hora de matar o bandido, por mais “justificado” que o crime seja, é preciso cruzar a linha que separa o certo do errado, o civilizado da barbárie. E é esse passo final de Kid (Dev Patel) em Fúria Primitiva não consegue dar quando finalmente chega diante do foco de seu ódio. Mas, ele só precisa de mais tempo e alguma ajuda.  

Estreia de Patel na direção, Fúria Primitiva, como o nome anuncia, é uma história de violência em diversos níveis e nada indicada a quem não gosta de ver sangue na tela. O cenário é a Índia do alto posto no ranking das maiores economias do mundo e das maiores desigualdades sociais, onde corrupção e crime organizado são tão comuns quanto trabalho infantil. É um contraste profundo com as memórias de infância de Kid, que vivia com a mãe, uma mulher doce e religiosa que lhe contava histórias do Monkey Man – título original do filme, um herói do bem, é claro.

Essa fase acaba por ação do corrupto chefe de polícia local, conectado a empresários, políticos e a um guru, um pacote completo de tudo que está errado na cidade. Disposto a vingar a morte da mãe, Kid trabalha num ringue de lutas. Sua função ali é apanhar como parte do show. Não falta sangue e suor com Patel levando a câmera a ângulos invertidos para mostrar a dinâmica da pancadaria.

O enredo segue um traçado conhecido, aquele do herói que vem de baixo, que apanha muito, que se desgasta socando seguranças sem nome até chegar ao vilão. Não faltam revezes, como a falta de coragem para o golpe final que manda o herói para um período de reflexão, nem o apoio de pessoas que sofrem como ele na pobreza e no descaso, encontrando conforto no pouco espaço que lhes sobra. Nesse esquema narrativo, sabemos como as coisas vão terminar para o herói, mas o tom é de pessimismo. Afinal, não é a morte de um ou dois líderes e algumas dúzias de seguranças que vão mudar toda uma estrutura de poder. Na pele de Kid, Patel é efetivo em atrair empatia para seu personagem, embora o rapaz tenha pouco além da infância que sua memória torna idílica, e a sede de vingança.

Como coroteirista, coprodutor, diretor e protagonista, fica claro que é um projeto muito pessoal, que Patel preenche com muito movimento e edição rápida, construindo sua caótica cidade fictícia com eficiência. Em uma das sequências, acompanhamos o produto de um roubo passando de mão em mão com uma eficiência digna de uma lavagem de dinheiro, mas executada com talento pela classe mais ignorada do lugar. É uma boa estreia na direção. Mas é preciso estômago para a sanguinolência. O filme estreia em 23/5 distribuído pela Diamond Films.

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