Tudo Por uma Esmeralda ou no tempo em que uma aventura era só uma aventura

Tudo Por uma Esmeralda ou no tempo em que uma aventura era só uma aventura

Ao completar 40 anos, Tudo Por uma Esmeralda mostra como uma aventura romântica simples conquistou o público.

Joan Wilder é uma escritora de aventuras românticas. Seus romances são best-sellers, por mostrar personagens em diferentes cenários vivendo aventuras épicas, mas que sempre terminam com um beijo e um final feliz.

Mesmo vivendo uma vida tímida e reclusa, Joan está prestes a mergulhar numa aventura que vai mudar totalmente sua vida. Ela recebe um sinistro telefonema dizendo que sua irmã, que mora em Cartagena, na Colômbia, foi raptada. Para tê-la de volta, Joan tem que trazer um mapa que sua irmã a enviou para ela. Mapa este que mostra o tesouro escondido no interior colombiano.

Joan parte para a Colômbia, mas totalmente desinformada que é, acaba sendo enganada e levada para o outro lado do país. Um acidente com o ônibus mostra uma dura realidade para a escritora americana. Quando é confrontada com um dos vilões do filme, que viajam com ela, Joan é salva por um desconhecido aventureiro, que será conhecido como Jack Colton.

Joan pede que Jack a leve para Cartagena para salvar a irmã. Será uma jornada enfrentando o tempo chuvoso da mata colombiana, um militar corrupto que está atrás do mapa e outras pedras que surgem no caminho dessa dupla. Tudo isso para chegar ao fim da aventura e um final surpreendentemente feliz.

Foi com essa simples história, escrita por uma garçonete de Los Angeles, que Tudo Por uma Esmeralda conquistou o público dos cinemas do mundo. Assim como aconteceu com J.K. Rowling, Diane Thomas aproveitava seu tempo livre no restaurante onde trabalhava, para escrever essa divertida aventura.

Ela mostrou para Michael Douglas, que ela conhecia como um frequentador assíduo do lugar onde trabalhava. Michael havia se tornado um respeitável produtor, após o sucesso de Um Estranho no Ninho (1975) e achou o roteiro muito bom. Decidido a produzir o filme, ele comprou o roteiro de Diane por 250 mil dólares e depois da estreia do filme, Michael deu a ela um Porsche.

Por infelicidade, Diane, que havia escrito também o roteiro de A Joia do Nilo (1985), morreu em um acidente carro, meses após a estreia do filme. O namorado alcoolizado dirigia a Porsche.

A escolha do elenco também não foi tão simples, especialmente para Michael Douglas. Ele tinha saído da série São Francisco Urgente, tinha atuado em alguns filmes relevantes como Coma (1978) e Síndrome da China (1979); produzido um documentário sobre o maratonista Michael Andropolis e o polêmico Síndrome da China. Ele precisava de algo interessante e de sucesso como Tudo por uma Esmeralda.

Ofereceu o papel do aventureiro Jack Colton para Clint Eastwood, Jack Nicholson, Christopher Reeve e Sylvester Stallone, mas todos recusaram. Michael não queria assumir o papel para não ser rotulado de produtor que faz filmes para estrelá-los, pratica muito comum hoje em dia.

Trouxe para o filme seu colega de quarto dos tempos de batalha pela carreira em Nova York, Danny De Vitto, para fazer o atrapalhado vilão primo do sequestrador da irmã de Joan. Segundo Danny, esse foi um dos melhores papéis da sua carreira.

Kathleen Turner, que tinha feito o suspense Corpos Ardentes (1981) e a comédia com Steve Martin, Médico Erótico (1983), acabou sendo escolhida após Jessica Lange e Debra Winger, entre outras atrizes, não toparem ir para o México e enfrentar as agruras de tempo quente, muita chuva, muita lama e animais selvagens.

É engraçado ver o nome de tanta gente quente no cinema nos anos 80, abrindo mão de um papel fantástico para esse filme e se arrependendo gloriosamente.

O mesmo não se pode dizer do diretor Robert Zemeckis, que tinha feito as comédias Febre da Juventude (1978) e Carros Usados (1984), e estava parada com a carreira parada. Ninguém botava fé que Tudo Por uma Esmeralda pudesse ser um bom filme e ganhar uma grana na bilheteria.

Os executivos da Fox tinham demitido Zemeckis antes dele assumir a ficção Cocoon, que seria feita por Ron Howard em 1985. Tudo Por uma Esmeralda foi um sucesso de 1984. Colocou não apenas o elenco em destaque para o mundo, como também mostrou como a criatividade de Robert Zemeckis o levaria a outros grandes sucessos, como De Volta Para o Futuro (1985) e Forrest Gump – O Contador de Histórias (1994).

O melhor é que o filme tinha uma história simples e envolvente. Muitos críticos, especialmente aqueles que não sabiam de nada (mal informados, com certeza), disseram que o filme seria uma versão feminina de Os Caçadores da Arca Perdida (1981). O roteiro original foi registrado em 1979 por Diane Thomas dois anos antes de Caçadores.

Outro detalhe importante para aqueles que acham que a mulher tem que ser empoderada hoje nos filmes: Joan Wilder vai conquistando seu protagonismo ao longo do filme. Suas decisões sobre os próximos passos deixam de ser de uma pessoa insegura e tímida, para as de uma mulher que quer resolver o problema vital em que se envolveu. E melhor: termina o filme se afirmando como uma romântica incorrigível.

Quando vemos personagens como a Capitã Marvel ou a jedi Rey, que se consideram superioras a tudo e a todos, não levando em conta o trabalho em equipe ou motivações mais humanas, vemos uma personagem fantástica como Joan Wilder enfrentando dilemas e dúvidas como uma pessoa normal, e conseguindo sair dos problemas muito mais como uma pessoa consciente de sua própria natureza do que uma heroína convencional e vazia.

É uma pena que Tudo Por uma Esmeralda não está em algum canal streaming. Colecionadores de DVD ou Blu-ray devem estar comemorando os 40 anos do filme, vendo e revendo as melhores cenas. Mas isso fica para um outro comentário.

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