Crítica | Filme | A Filha do Palhaço

Crítica | Filme | A Filha do Palhaço

Seguindo uma fórmula parecida com o filme estrangeiro Aftersun, A Filha do Palhaço é um filme parado, muito embora isso não implique que o longa seja ruim. Muito pelo contrário, a direção de Pedro Diógenes vai de encontro às sutilezas.

Por exemplo, quando Joana (Lis Sutter) decide passar um tempo com o pai, Renato (Demick Lopes), fica evidente a dificuldade de aproximação entre os dois. O pai – humorista que se apresenta nos bares de Fortaleza sob o pseudônimo de Silvanelly -, em determinado momento, parece encenar um diálogo com a filha mediante um dos manequins que ele tem guardado em seu estúdio.

Sem sucesso, ele leva uma lâmpada em formato de ostra até a rede em que Joana está dormindo. Se analisada somente essa cena – com alguma semiótica -, poder-se-ia dizer que, muito embora Renato não consiga dizer palavra alguma à filha, ele ainda assim a enxerga como a pérola que ilumina sua vida.

O filme, portanto, se desnovela aos poucos com a dificuldade de diálogo e aproximação dos protagonistas. Tendo êxito ao exemplificar cruamente essa mesma dificuldade na vida real. Ou seja, a reaproximação, de qualquer tipo de afetividade, demanda tempo e persistência. E, por isso mesmo, o filme trabalha com essa linguagem mais demorada e atravancada. Como se de fato as barreiras comunicativas tivessem de ser quebradas pouco a pouco, todos os dias.

Ao final, contudo, pai e filha conseguem construir uma relacionamento sólido, embebido de confidências e admiração. Trazendo para a linguagem “memística” da internet, seria o perfeito exemplo do meme “ninguém sabe como está a mente do palhaço”.

O longa nos faz pensar para além do produto audiovisual, nos inserindo em conflitos dos quais todos já fomos parte em algum momento da vida. Bem como nos traz o sentimento bastante brasileiro de encontros inesperados em botecos sujos e acolhedores. De beber uma cerveja sentado no meio fio e confidenciar a vida a um estranho, como para lembrar de que ela só vale ser vivida quando compartilhada.

A Filha do Palhaço estreia em 30/5 distribuído pela Embaúba Filmes.

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