Crítica | Filme | A Ordem do Tempo

Crítica | Filme | A Ordem do Tempo

O que você faria se soubesse que o mundo vai acabar? Ficaria ao lado das pessoas que ama? Tomaria um porre? Diria o que está preso em sua garganta há anos? Nada?

Esse é o dilema proposto por A Ordem do Tempo, longa inspirado no livro homônimo do físico teórico Carlo Rovelli, que aponta que vivemos no tempo como peixes na água, e que nossa realidade é composta por questões complexas que incluem uma Terra que parece plana, mas é esférica, um sol que dizemos que se move, mas somos nós que giramos e que o tempo, que vemos como linear, na verdade encerra mistérios que os físicos seguem estudando e tentando desvendar. Enquanto isso, seguimos nossa viagem lembrando do passado e nos preocupando com o futuro, o que nos aliena do presente.

Transposto para roteiro pelo próprio Rovelli, Paolo Costella e a diretora, a italiana Liliana Cavani, as questões do livro apoiam a história de um grupo de amigos que se reúne numa bela casa de praia para comemorar os 50 anos de Elsa (Claudia Gerini), esposa do médico Pietro (Alessandro Gassmann), pais de uma adolescente. Os convidados incluem a jornalista Jasmine (Angeliqa Devi), Paola (Ksenia Rappoport) e o novo namorado, Viktor (Richard Sammel), corretor da bolsa, Greta (Valentina Cervi) e Jacob (Fabrizio Rongione).

O ambiente muda, entretanto, com a chegada de Enrico (Edoardo Leo), físico especializado em calcular distorções temporais que revela que o asteroide Anaconda, nome em honra de sua forma alongada, avança em altíssima velocidade em direção à Terra. Se não mudar de curso, será o fim de tudo.

As reações, como é de se esperar, divergem. A jornalista acha que o mundo deve ser informado sobre a possível catástrofe em honra da “verdade”, mesmo que isso signifique pânico geral, afinal, para onde vamos correr no caso de impacto de um asteroide? Elsa e Pietro lutam para contatar a filha que está fora com amigos, enquanto a empregada (Mariana Tamayo) só pensa em voltar ao Peru e reencontrar o filho que há anos só vê em conversas de vídeo. Enquanto isso, outra física, Giulia (Francesca Inaudi) faz uma parada a caminho da festa para uma conversa sobre justiça divina com uma freira (Angela Molina), ela também envolvida em questões astronômicas, já que tem contato com um observatório no Chile.

Infelizmente, a multiplicidade de posições não gera um drama, uma boa comédia ou aquilo que foi prometido, uma discussão sobre o fim ou sobre o medo do fim. Ao ouvirem a notícia de que aquele pode ser o último dia dos humanos na Terra, o grupo até engata no sentimento de perda, de avaliar quantos absurdos, quantas ações vazias desperdiçaram o tempo que subitamente acabou, mas o tom não dura. As conversas vão e voltam sem muita profundidade além de sabermos um pouco mais das histórias dos personagens. Enrico e Paola são um casal do tipo que vai e vem ao longo dos anos, Viktor é um típico profissional do mercado financeiro que acha que tudo se resume ao movimento das ações, Elsa e Giulia têm uma história desde a adolescência. O ritmo se esgarça. Não faltam, também, incongruências, como a jornalista discutindo em inglês com seus editores sobre como estão escondendo a verdade do público por não divulgarem a possibilidade do fim, enquanto a empregada sabe de tudo por uma rádio peruana e a TV italiana fala abertamente do Anaconda, o que certamente já teria feito a notícia chegar a ouvidos anglófilos, queira a mídia ou não.

Até mesmo a cena que deveria ser catártica, quando todos resolvem simplesmente dançar pela sala, perde a força quando a empregada que há poucos instantes se desesperava para ver o filho, segue servindo bolo como se o mundo não estivesse por um fio e ela, mais do que ninguém, não merecesse ir para a praia e mandar que cada um que se virasse com a louça. A vontade de revelar segredos e acertar pontas soltas, típica das histórias de fim de mundo, não vai além de um ou dois casos amorosos e o surgimento de um personagem surpresa no final. Ficam as perguntas que o filme engata, mas não uma reflexão sobre o que fazemos com o nosso tempo e se isso deveria ser chamado de vida. Estreia em 13/6 distribuído pela Pandora Filmes.

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