Era uma manhã comum na cidade de São Paulo, uma daquelas manhãs que o céu se veste de cinza e a garoa parece se infiltrar nas roupas e nos ossos. Eu caminhava pela Avenida Paulista, refletindo sobre o estado do mundo, sobre como as notícias eram uma colcha de retalhos, unindo os díspares de forma sútil, quase invisível.
De repente, vi uma manchete em um jornal suspenso em uma banca: “Israel e Palestina assinam acordo histórico de paz”.
Era um daqueles momentos que pareciam saídos de um sonho. Lembrei-me de meu avô, que tinha uma coleção de jornais antigos e sempre me dizia que o mundo era feito de ciclos, que a paz e a guerra se alternavam como as estações do ano.
Senti uma mistura de alegria e ceticismo. Talvez fosse uma alucinação ou tão só um sonho de verão…
Enquanto continuava minha caminhada, minha mente vagava para além das fronteiras da cidade e do país. Pensei na recente crise em Cuba, onde o governo socialista enfrentou uma nova onda de protestos.
Era um reflexo da insatisfação global, da fome por liberdade que parecia pulsar em cada canto do mundo, o que acabamos de ver na Europa. Cuba, com sua história de revoluções, comunismo e a grande farsa de tudo, Fidel Castro, o pai dos pobres e oprimidos, porém, nunca deixou de tomar o seu Black Label.
Passei por uma livraria e, na vitrine, vi um livro de contos de Jorge Luis Borges. Decidi entrar e folhear algumas páginas. Borges, com suas reflexões sobre labirintos e espelhos, sempre me fazia questionar a natureza da realidade.
Peguei um conto aleatório e comecei a ler. Era sobre um homem que se encontrava em um jardim onde todos os caminhos possíveis se cruzavam. Pensei no quão semelhante era à nossa vida moderna.
Saí da livraria com a mente borbulhando de pensamentos. Passei por um café e decidi entrar para tomar um expresso. Lá dentro, um grupo de jovens discutia animadamente sobre inteligência artificial e a ética por trás da criação de seres pensantes.
Lembrei-me de uma notícia recente sobre um robô que obteve cidadania em um país do Oriente Médio. A ideia de máquinas com direito à cidadania e mais algumas performances do ser humano é de arrepiar…
Enquanto esperava meu café, a conversa de uma senhora ao telefone. Ela conversou com uma amiga sobre os incêndios que devastaram a Amazônia. A floresta, liberando o mundo, estava sendo consumida pelas chamas da ganância.
Pensei nas palavras que todos deveriam conhecer, da famosa declaração do astrônomo Carl Sagan “Somos todos poeira de estrelas”. Sim, de fato somos compostos de poeira estelar, porém não de poeira extra solar, apesar de vivermos no Sistema Solar. Veja o paradoxo – somos daqui, feitos de material que não é daqui.
O café chegou e tomei um gole, sentindo o calor reconfortante se espalhando pelo corpo. Na mesa ao lado, um casal de idosos relembrava histórias de sua juventude. Falaram sobre como se conheceram em uma festa junina e como, apesar das dificuldades, encontravam-se juntos até os dias de hoje.
Era um testemunho do poder do amor e da resiliência humana.
Quando saí do café, o céu ainda estava cinza, mas a garoa tinha cessado. Caminhei mais um pouco e passei por um mural de arte urbana. Nele, uma frase em letras grandes dizia: “O futuro é agora”. Parei por um momento e refleti sobre isso.
Vivemos em um mundo de incertezas, onde cada dia traz novos desafios e oportunidades. Mas, ao mesmo tempo, cada momento é um sinal que devemos nunca desistir.
Cheguei ao meu destino, uma pequena praça onde crianças brincavam e idosos conversavam nos bancos. Sentei-me em um banco e observei a cena ao meu redor.
Pensei em como cada uma daquelas pessoas tinham sua própria história, seus próprios sonhos e medos. Somos todos narradores de nossas próprias vidas, tecendo histórias que se entrelaçam em um tecido complexo e belo.
Enquanto o dia se transformava em noite, levantei-me e comecei a caminhar de volta para casa, moro em uma travessa da Paulista na Eugenio de Lima e marquei de tomar um scotch com o Genaro.
A vida percebida é uma crônica contínua, um fluxo de memórias, reflexões e acontecimentos.
E, como disse Borges: “O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo desgraçadamente é real; eu, desgraçadamente, sou o Borges”.
E assim, enquanto os passos ecoavam na calçada molhada, senti-me parte desse vasto e intrincado labirinto, onde cada encruzilhada, cada decisão, nos leva a novas histórias, a novas realidades.
Afinal, a vida é um eterno conto, sempre surpreendente, sempre em construção. Talvez amanhã eu escreva uma nova crônica.
