Se você curte motocicletas assim como eu, já deve ter passado por várias produções do gênero, saindo de 1953 com O Selvagem (The Wild One), com Marlon Brando, e vindo até a série Sons of Anarchy (2008-2014). Dentre muitos outros exemplares aí pelo caminho, ainda destacaria O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish, de 1983), que pegou carona no filme de Brando para o título em português.
E antes que a gente prossiga falando de Clube dos Vândalos (The Bikeriders), filme que a Universal Pictures entrega ao circuito nacional de cinema em 20/6, vamos deixar uma coisa bem clara. Se você quer se referir a uma pessoa que dirige motocicleta como motoqueiro, começou mal. O correto é motociclista. Apesar do Motoqueiro Fantasma ter conquistado sua reputação assim.
E nem todo motociclista participa de motociata. Me inclua fora dessa, por favor!
Pontuado isso, vamos para a Chicago do final nos anos 1960, começo dos 1970, para falar dos Vândalos, um clube de motociclistas fundado pelo marrento Johnny (Tom Hardy) e que reúne figuras tipicamente americanas no que concerne à cultura sobre duas rodas. Para muitos, contracultura! Nessa época, dirigir potentes Harleys, Triumphs e similares não era visto com muitos bons olhos pela maioria das pessoas na Terra do Tio Sam. Em compensação, o que parecia ser apenas um ato de rebeldia surgia como um estilo de vida genuinamente americano.
Claro que existiam motociclistas ao redor do mundo, mas foi na terra das highways e freeways que a coisa tomou forma e influenciou muitos países. Tanto, que nessa altura você deve estar lembrando do Born to Be Wild, de Steppenwolf, música-ícone do filme Sem Destino (Easy Rider), ambos de 1969.
Pois bem, Clube dos Vândalos quer resgatar esse momento de liberdade, rebeldia e comportamento cool, elementos-chave de Born to Be Wild. Por isso tomou como base o livro homônimo de Danny Lyon, que entrevistou e fotografou os riders que vemos na telona. Gente que não se incomoda com poeira na cara ou lama nas roupas. Muito menos capacete ou qualquer outro item de segurança.
Biker que se preza, então, se preocupa apenas com sua motocicleta, que precisa ser customizada para inspirar respeito. E quem vai apresentando esse universo em duas rodas para o espectador é Kathy (Jodie Comer), típica americana que, quis o destino, cruzou o caminho dos Vândalos. E de um deles, em especial, Benny (Austin Butler). O relacionamento de ambos é entremeado pelas desventuras do clube em seus piqueniques e bebedeiras. E o filme registra o passar do tempo para todos, até o momento em que os Vândalos parecem uma franquia do Burger King, com o âmago do seu espírito domado e transformado em algo mais parecido com o Hells Angels.
Tom Hardy dispensa apresentações ao meu ver. Para mim, lembra Marlon Brando (delimitadas as proporções). Porque, uma vez em cena, fica difícil tirar os olhos dele. Esse Tom Hardy, obviamente, está mais para a série Tabu (muito boa por sinal, assista) do que para Venom. Outro que sabe roubar a câmera para si é Austin Butler, que já deu mostras de talento com Elvis e se revela em ascensão. Jodie Comer segura a onda muito bem neste “filme de meninos”, mas sinto que ainda falta aquele filmão em sua carreira. Tanto que a gente a associa rapidamente à série Killing Eve e nada mais.
Michael Shannon (Animais Noturnos) ainda reforça o elenco como o esquisito Zipco, ao lado de Boyd Holbrook (Justified: Cidade Primitiva) e de uma participação especial de Norman Reedus (The Walking Dead), um motociclista confesso nas telas e fora delas. Jeff Nichols, que tem mais experiência em roteiro do que em direção (aqui assina ambos), entrega um filme redondo, com ritmo constante e eficiência no storytelling.
Claro, se o espectador curte o tema “vida em duas rodas”. Quem curte o trio de protagonistas também tem um approach. No mais, Clube dos Vândalos não compromete suas quase duas horas de entretenimento.

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