O filme O Estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon, que estreia dia 20 de junho nos cinemas, trata, em última instância, da impermanência. Tanto das pessoas quanto dos lugares que habitam.
Com cenas bastante recortadas e filmadas de maneira um tanto enfadonha, o filme parece ter sido filmado a partir da perspectiva de uma só câmera. E poderia muito bem ter sido caracterizado como um documentário, sem necessidade de atuações.
O longa parece se perder em uma tentativa de crítica e reflexão sobre a voragem do tempo, que talvez se torne rica e surpreendente apenas a quem participa da filmagem. Parece, de fato, que para assisti-lo temos de fazer vênia ao olhar forçosamente poético da direção cinematográfica. Que nos aborda com temas interessantes, mas que perde o telespectador em uma busca tépida sobre a real importância do processo de retomada dos povos indígenas; dos sítios arqueológicos escondidos e de camadas de significações desnecessárias.
O filme levanta questões importantes, mas fica por isso mesmo. Uma tentativa idiossincrática de trazer a tona questões sociais através de um pensamento em comum das diretoras. Tão irritante quanto palavras mal utilizadas.
Palavras como “ativação da memória ancestral”; autoconhecimento individual”; “construção da paisagem”. Expressões ditas por Dias e Mallon. Mas que são esvaziadas de suas essências vocabulares, por assim dizer. Uma poética forçada sob o véu de um tipo de consciência védica do mundo e das coisas que o habitam.
O tema é bom e faria sentido dialogá-lo. Mas não como uma “guiança espiritual” no meio de Guarulhos (SP). Distribuição Embaúba Filmes.
