In Memoriam – Donald Sutherland (1935 – 2024)

In Memoriam – Donald Sutherland (1935 – 2024)

A impressão ao ver Donald Sutherland, um famoso na Hollywood dos anos 60, como um soldado preso arriscando sua vida pela própria liberdade, no clássico de guerra Os Doze Condenados (1967), não representava nada para mim, um pré-adolescente que foi com o avô no antigo Cine Astral, na Vila Pompeia, ver esse filme.

Os anos passam, o cinema entrou na minha área de consumo de cultura cinematográfica, e começo a notar alguns atores e atrizes que entram no meu radar de grandes talentos da telona. Um deles foi Donald Sutherland.

A série M.A.S.H., estrelada por Wayne Rogers e Alan Alda, me divertia na segunda metade da década de 70, quando a assistia na Rede Bandeirantes. Foi nessa época que vi o longa-metragem homônimo dirigido pela fantástico Robert Altman. E comecei a seguir as obras desse cineasta americano. Isso, é claro, é outra história.

Donald interpretava o cirurgião da unidade de apoio médico ao exército americano durante a Guerra da Coreia, nos anos 50. Seu personagem, Falcão Pierce, o mesmo de Alan Alda na série de TV, marcou sua presença no cinema. Ele já havia trabalhado em várias séries de TV nos anos 60, como Suspense, e várias produções inglesas como O Santo (1965), Os Vingadores (1967) e Os Campeões (1969), até entrar no elenco de Os Doze Condenados, dirigido por Robert Aldrich.

Depois disso, esse canadense nascido em 1935, na cidade de Saint John, as portas de grandes e importantes produções foram abertas para um fantástico e talentoso ator.

Nos anos 70, Donald esteve em produções cultuadas como Pequenos Assassinatos (1971) e Klute – O Passado Condena, ao lado da rebelde Jane Fonda. Em 1973 fez o suspense sobrenatural Inverno de Sangue em Veneza, considerado o filme com a cena mais erótica do cinema até aquele momento, com Julie Christie.

Três anos depois, Sutherland fez na Itália dois outros momentos em sua carreira: o violento fascista de 1900, de Bernardo Bertolucci, e o sedutor Casanova, dirigido por Federico Fellini. Em 1978, ele atuou em três momentos especiais: a comédia com John Belushi, O Clube dos Cafajestes, O Primeiro Assalto de Trem, com Sean Connery, e a versão moderna de Vampiros D’Alma (1956), feita por Phillip Kaufman, então chamada Invasores de Corpos.

Um dos dramas mais instigantes que abre a década de 80 para Donald Sutherland é Gente Como a Gente (1980), dirigido por Robert Redford, onde interpretava o inseguro marido de Mary Tyler Moore, no meio de uma crise familiar relacionada com a morte de um de seus filhos e a tentativa de suicídio do mais novo, feito por Timothy Hutton. O filme garantiu o Oscar® de Melhor Filme e Melhor Direção e colocou Donald novamente no centro das atenções.

Ele esteve também em algumas produções memoráveis dos anos 80, como O Buraco da Agulha (1981), A Revolução (1985) e Assassinato Sob Custódia (1989). Também nessa década ele atuou em Condenação Brutal (1989), ao lado de Sylvester Stallone, que lhe deu o prêmio Framboesa de Ouro, como pior ator coadjuvante do ano. Nem sempre se acerta tudo.

Em 1991, ele faz uma brilhante participação no filme Cortina de Fogo, onde interpretava um piromaníaco que ajuda na investigação de vários incêndios criminosos em Chicago.

Na década de 1990, ainda Donald esteve em algumas preciosidades do cinema, como JFK: A Pergunta Que Não Quer Calar (1991), Seis Graus de Separação (1993), Epidemia (1995), Tempo de Matar (1996) e Possuídos (1998).

Na virada do século, ele faria com Clint Eastwood Cowboys do Espaço (2000), O Senhor das Armas (2005), a nova versão de Assassino a Preço Fixo (2011) e A Convocação (2014), até chegar na franquia Jogos Vorazes, com seus quatro filmes que chegaram ao cinema a partir de 2012. Aliás, ganhou respeito popular ao ser indicado ao MTV Movie Awards como melhor vilão.

Tudo isso, sem contar sua participação em séries como Commander-in Chief (2005), com Geena Davis, Os Pilares da Terra (2010), Crossing Lines (2013) e o recente Homens da Lei: Bass Reeves (2023).

Donald Sutherland ganhou o Oscar® por sua carreira em 2018, que foi, como tentei mostrar nessa matéria, muito intensa. Esteve num episódio dos Simpsons e – meu favorito – e foi um militar russo procurando um assassino psicopata na União Soviética dos anos 80, no telefilme da HBO, Cidadão X. Brilhante, sedutor e eficiente, como tinha de ser.

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