Crítica | Filme | A Grande Fuga

Crítica | Filme | A Grande Fuga

Era 6 de junho de 1944, 6h30 da manhã. Começa a maior invasão anfíbia da história das guerras com quase 7 mil navios desembarcando mais de 150 mil homens em cinco praias da Normandia com o apoio de 11 mil aviões e de 18 mil paraquedistas que haviam sido lançados sobre a França ocupada durante a noite. Era o primeiro passo para a liberação da Europa ocidental do controle nazista.  

Ao todo, 4.414 soldados aliados foram mortos naquele dia. Mais 5 mil foram feridos. As mortes entre os alemães são estimadas entre 4 e 9 mil. Na Batalha da Normandia que se seguiu ao desembarque, 73 mil soldados aliados morreram, mais 153 mil foram feridos. O bombardeio aliado das vilas francesas matou cerca de 20 mil civis.

A Grande Fuga tira a atenção desses números gigantescos para a história de Bernard Jordan (Michael Caine) um homem comum que vive um casamento feliz com sua esposa Rene (Glenda Jackson). Veterano da Segunda Guerra Mundial, ele sobreviveu ao Dia D e como tantos outros, seguiu com a vida. Não ficou rico, não descobriu a cura de uma doença ou inventou algo importante. Até o aniversário de 70 anos do desembarque, quando resolveu deixar o lar para idosos onde o casal vivia e comparecer à cerimônia em homenagem ao grande momento histórico. É certo que cada dia pode ser o último, mas aos 25, 30 anos, a frase é apenas um jeito de se desculpar por mais um gole ou mais um brigadeiro. Aos 90, cada dia com certeza pode ser o último.

A fuga de Jordan fez a alegria dos jornais ao lhes dar uma história pessoal em meio à solenidade das comemorações que contaram com a presença da Rainha Elizabeth II, que deve ter adorado ler sobre a aventura do nonagenário veterano ao lembrar como, em 1945, ela saiu secretamente do Palácio de Buckingham para comemorar o final da Segunda Guerra em meio à multidão nas ruas de Londres.

Mais do que o charme da história de um idoso que sai para uma aventura, no entanto, são os momentos mais íntimos e silenciosos que valem o ingresso de A Grande Fuga. Como quando o olhar de Michael Caine se volta para o oceano e faz o que os grandes atores são capazes, revela medo, saudade, perda e trauma. Ou no encontro com os veteranos alemães, quando os ex-inimigos se reconhecem na dor. Ainda mais marcante em sua última vez em cena, Glenda Jackson é uma delícia como Rene, que segura a informação de que o marido não saiu apenas para uma caminhada como faz diariamente até que Bernie esteja bem longe a caminho da França. Namorados desde jovens, o Dia D também lhe pertence. Como Caine, Glenda Jackson transmite toda uma história pelo olhar enquanto Rene revisita suas fotos e memórias.

Como outros filmes sobre as consequências da guerra, A Grande Fuga tem também sua quota de flashbacks, com Will Fletcher e Laura Marcus como Bernie e Rene quando jovens, ele bastante eficiente na cadência e tom da fala de Caine. Algumas cenas retratam o romance do casal, outros dão conta do desembarque, recriando o barulho que jamais vai desaparecer da memória de quem esteve lá. É um filme de sentimentos, mas não sentimental, estrelado por dois grandes atores, não tanto sobre guerra, mas sobre seus efeitos, o que deveria fazer parte do passado, mas que segue parte do nosso presente. Como Bernie diz ao visitar os mortos daquele dia, “que desperdício”. Estreia em 27/6 distribuído pela Diamond Films.

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