Não tem jeito. O meu tempo de janela no mercado de entretenimento faz o sentido de aranha disparar quando alguma prequela aparece na grade de programação. Quando o assunto é terror, então, a ficha corrida recente mostra, como costumo dizer, que certas coisas merecem mesmo ficar mortas.
Sou tão sincero em dizer isso quanto dar a mão à palmatória no caso específico de Um Lugar Silencioso: Dia Um, filme que a Paramount Pictures lança no circuito nacional em 27/6. Confesso que me surpreendi com essa prequela, que assim como outras produções do gênero suspense/terror, vai explorar um pouco da origem da crise que vemos no primeiro Um Lugar Silencioso (2018), estrelado, dirigido e co-roteirizado pelo boa praça John Krasinski.
Na verdade, não explora nada! O público vai deixar a sala de cinema depois do fim de Um Lugar Silencioso: Dia Um sem entender o que aquelas criaturas alienígenas vieram fazer aqui. E tudo bem. O filme funciona porque não entra nessas. Ao contrário, o diretor Michael Sarnoski deu forma ao roteiro assinado por ele, Krasinski e Bryan Woods (também do primeiro) para estabelecer um clima mais de suspense do que de terror. Com direito a um pouquinho de drama e de fofura, esta, garantida por um gatinho de nome Frodo.
Frodo é o grande companheiro de Samira (Lupita Nyong’o, de 12 Anos de Escravidão), uma poetisa em fase terminal de doença que, assim como todos os nova-iorquinos, testemunha a chegada devastadora das tais criaturas alienígenas. Se nos dois filmes anteriores os protagonistas passavam apertos encarando dois ou três monstros, imaginem agora, se vendo diante de centenas de invasores?
Samira escapa ilesa da primeira onda de ataque e se junta aos sobreviventes. A defesa americana, ainda operante, sugere via rádio que todos se desloquem para o rio, onde barcos garantirão a fuga. Desde que não façam barulho, claro.
Só que nossa “heroína” opta em realizar um último desejo antes de partir: comer um pedaço de pizza no Harlem. Além de Frodo, ela terá a companhia de Eric (Joseph Quinn, de Stranger Things) na perigosa jornada.
Um Lugar Silencioso: Dia Um não deve encaixar como uma luva no gosto do fã de terror que adora ver sangue aos borbotões. E nem é para isso. Contudo, não faltam sustos aqui e ali para fazer o público pular da cadeira. E esse efeito é óbvio, uma vez que Sarnoski nem precisa trabalhar o silêncio das cenas para prender a atenção do espectador. O silêncio, neste caso, é quase um personagem, que conduz a narrativa até o momento em que… BUM! Vem o susto apoiado por algum barulho.
Como a história toda exige silêncio, praticamente não temos como saber em que momento esse BUM vai acontecer. E isso sustenta uma tensão quase que permanente (desde que você compre a ideia, claro!).
A presença de Lupita Nyong’o – e mesmo a de Joseph Quinn! – dão credibilidade ainda maior à Um Lugar Silencioso: Dia Um porque, afinal de contas, ambos são bons atores. Lembram que mencionei “um pouquinho de drama”? Não é nada exagerado, é bom dizer, mas um ator de talento não precisa se esconder de um close generoso, com maior destaque para suas feições do que para sua fala. E ambos dão conta muito bem do recado quando a cena exige câmera fechada.
No mais, efeitos eficientes, locações impressionantes de uma Nova York devastada e um final mais ou menos previsível.

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