Crítica | Série | Acima de Qualquer Suspeita

Crítica | Série | Acima de Qualquer Suspeita

Se você acompanha CríCriticos regularmente, já deve ter lido um texto meu falando sobre a renovação para uma segunda temporada da série Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent). E sobre como eu estava com o pé atrás com essa produção, achando que poderia ser mais do mesmo. Ou um remake em oito episódios contando a mesma história.

Minhas desculpas públicas a todos, caso tenha ferido suscetibilidades. Mas vamos combinar? Tem faltado criatividade à indústria de entretenimento americana e o caminho mais fácil das prequelas e sequências tem sido estrategicamente escolhido. Claro, situação agravada pela recente greve de roteiristas nos EUA.

Voltando à Acima de Qualquer Suspeita, a série ainda não terminou. Se tudo correr nos conformes, o oitavo e último episódio deverá ser exibido em 24/7 aqui no Brasil.

E por que isso é relevante para esta crítica? Porque Acima de Qualquer Suspeita conseguiu entregar uma história boa o bastante para se distanciar (e muito) do filme homônimo estrelado por Harrison Ford em 1990. Ambos tomam como base o livro de Scott Turow, publicado pela primeira vez em 1987. Esse eu não li e isso seria adequado, para efeito de comparação.

Contudo, fiquemos no campo audiovisual. Demorei um pouco para engrenar com a série Acima de Qualquer Suspeita (já nem lembro o porquê), mas depois de assistir aos três primeiros episódios sequencialmente, fui fisgado. E como percebi que alguns elementos da história me pareciam diferentes dos apresentados no longa-metragem, comecei a ficar com vontade de revê-lo.

Acabei alugando-o no streaming e o devorei logo depois. Gosto muito dos filmes de tribunal e os anos 1990 foram férteis nesse gênero. E um tal Harrison Ford era o protagonista, então, era sopa no mel…

Acabado o filme, minha mente foi jogada de novo para a série, tentando estabelecer para onde aquela história descambaria. Sem sucesso. Hoje, às vésperas do último episódio, duvido que alguém crave com total certeza o nome do assassino de Carolyn Polhemus (Renate Reinsve). Podem até tomar o livro como base, para aumentar as chances, mas acredito que o final não seja idêntico. Apenas acredito…

Mesmo porque Scott Turow é coprodutor executivo da série e caberia a ele acenar para um desfecho inédito. Ou não.

E isso é o que importa. Um roteiro bom o bastante para cativar o espectador sem revelações de última hora, personagens tirados da cartola e algo que ninguém viu. É nessa hora que entendo perfeitamente a motivação do personagem de Truman Capote no filme Assassinato Por Morte (1976), ao reunir em sua mansão os melhores detetives em atividade. Cansado das reviravoltas, detalhes escondidos e explicações estaparfúrdias promovidas pelos autores dos livros de investigação (tipo Agatha Christie), o personagem decidiu descontar sua frustração em seus protagonistas (tipo Miss Marple e Hercule Poirot, só que com nomes semelhantes). Os desafia a desvendar o seu próprio assassinato…

Voltando à série, o leitor pode até não achar o Rusty Sabich de Jake Gyllenhaal (Matador de Aluguel) à altura do trabalho de Ford. E tudo bem, não precisamos da unanimidade. Mas o conjunto da obra funciona muito bem e é possível observar muita gente boa ao lado do ator. Casos de Ruth Negga, que vive Barbara Sabich, esposa de Rusty; de O-T Fagbenle (que já foi Barack Obama na série The First Lady), que interpreta Nico Della Guardia; ou de Bill Camp (Som da Liberdade), que faz um Raymond Horgan mais interessante do que o vivido por Brian Dennehy no longa.

Agora, o destaque mesmo é Peter Sarsgaard no papel de Tommy Molto, personagem vital para a trama da série e que coadjuvava no filme. Ele, que já trabalhou com Gyllenhaal em Soldado Anônimo (2005), está sólido, sutil e natural na série. Aquele típico vilão que faz você querer entrar na tela para dar uns sopapos! E aquele meio riso estampado? Muito bom!

Por essas e por outras, membros do júri, peço que assistam à série Acima de Qualquer Suspeita com imparcialidade, sem preconceitos, para que cheguem ao veredito em 24/7. E determinem se Acima de Qualquer Suspeita merece ser condenada ao esquecimento ou não.

Um comentário sobre “Crítica | Série | Acima de Qualquer Suspeita

Deixe um comentário