O documentário brasileiro O Contato, dirigido por Vicente Ferraz (Soy Cuba – O Mamute Siberiano), estreia no circuito nacional em 15/8, distribuído Pipa Pictures. Trata-se de um longa um tanto hermético não apenas no tema abordado, mas em sua realização.
O que não chega a ser um demérito. A ideia não é oferecer algo mastigado ao espectador e sim, propor reflexão sobre a situação e a cultura dos povos originais brasileiros em época de desmatamentos desenfreados, invasões de terras, conflitos armados e descaso governamental generalizado. Generalizado porque o trabalho de décadas de preservação, ambientalismo e respeito aos direitos dos brasileiros natos, eventualmente podem vir abaixo em poucos quatro anos de uma administração desastrosa e irresponsável. Não é preciso citar nomes, imagino.
O Contato foi filmado na região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e é falado em quatro línguas indígenas enquanto narra o dia-a-dia de três famílias de diferentes etnias: os Yanomami, os Arapaso e os Hupda. Curiosamente, São Gabriel da Cachoeira é conhecido por ser uma das regiões com maior diversidade étnica do Brasil, onde convivem 23 etnias falando 18 idiomas nativos.
Os personagens retratados no documentário compartilham histórias de suas vidas e de seus ancestrais com a câmera na forma de entrevistas. Em alguns momentos, seus dramas revelam-se infinitamente fechados à realidade que os cerca e ficamos concentrados apenas na travessia que os personagens realizam, da cidade para a aldeia ou vice-versa. Simbolicamente falando, seria quase uma metáfora explícita de uma retomada da ancestralidade frente o avanço da civilização branca invasora.
Daí a comunicação em seus idiomas nativos, talvez a única forma de resistência à colonização agressiva e imparável, que impõem convenções como uso de roupas e religião. Nada disso é novidade, desde que você não esteja varrendo essa triste realidade para debaixo do tapete.
O diretor Vicente Ferraz recupera imagens históricas dos primeiros contatos dos imigrantes brancos com os povos originais, o que corrobora com a narrativa dos personagens retratados. Naquele espírito de “Projeto Rondon”, que oferecia miçangas e doenças em troca da expansão territorial do homem branco, que começou a desalojar cada vez mais os povos indígenas. É dedicado à memória de Bruno Pereira (assassinado em Atalaia do Norte em 2022), que colaborou na realização do filme.
