Oh, Deus, perdoa-me por ser tão invejoso.
Tenho ciúme de tantas coisas, que chego
a pensar que o mundo me voltou às costas,
porque queria ver, tocar, só uma única
vez a mulher que tanto amei.
Tenho ciúme do dia, quando o Sol ilumina
com seus límpidos clarões de luz, a face, o
sorriso meigo e gentil das flores, que me
remetem ao passado quanto a conheci.
Tenho ciúme do amanhecer, quando o céu
se veste com trajes de gala, e ao som do
acordar da natureza, dança valsa com sua
musa à Terra, rodopiando por todos os
salões da vida. E eu sem você.
Tenho ciúme da noite, que chega trazida
pela carruagem de estrelas, coberta do
manto real, bordado com fios de luz e
lantejoulas de cristal, presentes da Lua.
Meus olhos se perdem à tua procura.
Tenho ciúme da despedida da noite, sua
saída lenta e agradecida aos aplausos,
calorosos de uma plateia embriagada de
emoção, onde as lágrimas se misturam a
alegria do esperar, mais um espetáculo do
nascer a vida.
Clamo teu nome, em vão.
Tenho ciúme da chuva, que move as nuvens
no apartar os raios que tentam se desprender,
dos braços do tempo, lutam e depois aceitam
o recolher das águas, em forma de gotas que
caem molhando os homens, animais, florestas,
transformando a terra seca e dolorida em risos de mananciais.
Só queria voltar a beijar teus lábios sem fim.
Tenho ciúme do vento, que sopra o outono,
carregando as folhas caídas e mortas para os
braços de um novo alvorecer, trazendo lindas
flores de todas as cores, perfumes suaves e
inebriantes, sorrindo e cantando a primavera.
Imploro, necessito só sentir tua meiga presença.
Tenho ciúme do voo dos pássaros, que alçam
o céu, em gorjeios de alegria, encantando os
anjos e querubins, sentados nas alvas nuvens
louvando e abençoado seus cantos de amor.
Queria voar como pluma e te encontrar no céu.
Tenho ciúme do mar, que todas as noites volta,
no seu vai e vem, com respingos do orvalho
desperta o marulhar e afaga, beija sua eterna
amante a fina e branca areia, que finge
surpresa ao ser abraçada.
Sufoco de anseios, sinto falta do teu calor.
Tenho ciúme do amor, que embala os amantes
em noites frias ou quentes, entrelaçando seus
cabelos, pele, hálito e beijos, promessas de um
amor que viverá para sempre.
Louco fiquei, você se foi sem me esperar.
Tenho ciúme da vida, pois ela renasce a cada
dia, em todos os cantos do mundo nos
presenteando sem distinção de cor, religião,
pobre ou rico, aqueles que se voltaram e
acreditaram no prelúdio do amor.
Amor, escute-me só mais uma vez.
Todavia, preciso falar somente um segredo!
Eu sempre desejei o melhor para ti, queria
ter colocado a teus pés, tudo o que o mundo
pudesse oferecer. Todas as cores de rosas que
tu tanto amavas, o brilho, faiscar das estrelas
cortejando e implorando teu olhar. O voar do
beija-flor pairando no ar e tocando teus lábios
de mel, a Lua sorrindo apenas para ti, a chuva
caindo e molhando teu rosto sereno, verbo de amar.
No entanto, necessito confessar, tenho
ciúme. Inveja, quando no meu sonho a vejo
feliz sorrindo sem mim. E quando o dia se
finda, assisto ao despedir do Sol, fugindo pelos
vãos das minhas mãos; a noite chegando, eu
morrendo aqui, outro dia sem poder te amar.
Pois, tudo que faço é chorar, meu sorriso
é apenas mais um ato da comédia da vida.
Preciso acreditar, que um dia em algum
lugar, voltarei te encontrar.
Apesar disso, não posso mais mentir, antes de terminar…
Tenho inveja, ciúmes dos anjos e querubins,
das nuvens, das estrelas, do Romeu e Julieta,
que vivem ao teu lado, caminham, cantam e
conversam com ti. Eu apenas queria que
tu ouvisses, somente mais uma vez:
“Como é grande o meu amor por você”.
