Poesia | Comédia da vida (Odes)

Poesia | Comédia da vida (Odes)

Oh, Deus, perdoa-me por ser tão invejoso.

Tenho ciúme de tantas coisas, que chego

a pensar que o mundo me voltou às costas,

porque queria ver, tocar, só uma única

vez a mulher que tanto amei.

Tenho ciúme do dia, quando o Sol ilumina

com seus límpidos clarões de luz, a face, o

sorriso meigo e gentil das flores, que me

remetem ao passado quanto a conheci.

Tenho ciúme do amanhecer, quando o céu

se veste com trajes de gala, e ao som do

acordar da natureza, dança valsa com sua

musa à Terra, rodopiando por todos os

salões da vida. E eu sem você.

Tenho ciúme da noite, que chega trazida

pela carruagem de estrelas, coberta do

manto real, bordado com fios de luz e

lantejoulas de cristal, presentes da Lua.

Meus olhos se perdem à tua procura.

Tenho ciúme da despedida da noite, sua

saída lenta e agradecida aos aplausos,

calorosos de uma plateia embriagada de

emoção, onde as lágrimas se misturam a

alegria do esperar, mais um espetáculo do

nascer a vida.

Clamo teu nome, em vão.

Tenho ciúme da chuva, que move as nuvens

no apartar os raios que tentam se desprender,

dos braços do tempo, lutam e depois aceitam

o recolher das águas, em forma de gotas que

caem molhando os homens, animais, florestas,

transformando a terra seca e dolorida em risos de mananciais.

Só queria voltar a beijar teus lábios sem fim.

Tenho ciúme do vento, que sopra o outono,

carregando as folhas caídas e mortas para os

braços de um novo alvorecer, trazendo lindas

flores de todas as cores, perfumes suaves e

inebriantes, sorrindo e cantando a primavera.

Imploro, necessito só sentir tua meiga presença.

Tenho ciúme do voo dos pássaros, que alçam

o céu, em gorjeios de alegria, encantando os

anjos e querubins, sentados nas alvas nuvens

louvando e abençoado seus cantos de amor.

Queria voar como pluma e te encontrar no céu.

Tenho ciúme do mar, que todas as noites volta,

no seu vai e vem, com respingos do orvalho

desperta o marulhar e afaga, beija sua eterna

amante a fina e branca areia, que finge

surpresa ao ser abraçada.

Sufoco de anseios, sinto falta do teu calor.

Tenho ciúme do amor, que embala os amantes

em noites frias ou quentes, entrelaçando seus

cabelos, pele, hálito e beijos, promessas de um

amor que viverá para sempre.

Louco fiquei, você se foi sem me esperar.

Tenho ciúme da vida, pois ela renasce a cada

dia, em todos os cantos do mundo nos 

presenteando sem distinção de cor, religião,

pobre ou rico, aqueles que se voltaram e

acreditaram no prelúdio do amor.

Amor, escute-me só mais uma vez.

Todavia, preciso falar somente um segredo!

Eu sempre desejei o melhor para ti, queria

ter colocado a teus pés, tudo o que o mundo

pudesse oferecer. Todas as cores de rosas que

tu tanto amavas, o brilho, faiscar das estrelas

cortejando e implorando teu olhar. O voar do

beija-flor pairando no ar e tocando teus lábios

de mel, a Lua sorrindo apenas para ti, a chuva

caindo e molhando teu rosto sereno, verbo de amar.

No entanto, necessito confessar, tenho

ciúme. Inveja, quando no meu sonho a vejo

feliz sorrindo sem mim. E quando o dia se

finda, assisto ao despedir do Sol, fugindo pelos

vãos das minhas mãos; a noite chegando, eu

morrendo aqui, outro dia sem poder te amar.

Pois, tudo que faço é chorar, meu sorriso

é apenas mais um ato da comédia da vida.

Preciso acreditar, que um dia em algum

lugar, voltarei te encontrar.

Apesar disso, não posso mais mentir, antes de terminar…

Tenho inveja, ciúmes dos anjos e querubins,

das nuvens, das estrelas, do Romeu e Julieta,

que vivem ao teu lado, caminham, cantam e

conversam com ti. Eu apenas queria que

tu ouvisses, somente mais uma vez:

“Como é grande o meu amor por você”.

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