Sim, todos sabemos que a pandemia fez mal às pessoas. E no mundo todo. Aliás, sentimos isso na própria pele. E as pessoas (nós todos) são o “bem” de valor inestimável nesse panorama.
Empresas quebraram. O desemprego aumentou. Crianças ficaram atrasadas na escola (e também socialmente falando!). O pior das pessoas veio à tona. Tudo verdade. Contudo, no final das contas, existe sempre o elemento humano.
Ele é a força-motriz de tudo o que mencionei e muito mais. Pois as relações humanas foram testadas nesse processo.
O longa nacional 45 do Segundo Tempo não é um filme sobre a pandemia. Mas é um filme que tem os efeitos da pandemia impressos na frente e atrás das câmeras.
O primeiro que admitiu isso foi o diretor Luiz Villaça (A Mulher do Prefeito). Para ele, 45 do Segundo Tempo celebra a amizade entre as pessoas em sua trama e em todo o processo de sua produção.
Esse clima fraterno construído não é uma obrigação a todo projeto audiovisual. Quantas histórias não ouvimos de elenco que não se bica, de diretor que surta e coisas assim?
Villaça imprime esse ritmo em seus trabalhos. Cinema, televisão e afins não é algo que se realize sozinho. Por mais que um diretor ocupe a cadeira e a função de comandante máximo, responsável por tudo o que acontece, sabemos que qualquer ambiente de trabalho que se preze precisa ter o mínimo de harmonia e entrosamento para girar.
A história
Pois 45 do Segundo Tempo é um filme de ator, de degustação da vida. Ainda que ela alterne alegrias e tristezas, saúde e doença.
Na trama, Pedro Baresi (o sempre talentoso Tony Ramos) vê a cantina da família fazer água endividada. Por acaso, é chamado para refazer uma foto tirada 40 anos atrás, durante a inauguração do Metrô em São Paulo (SP), em 1974, ao lado dos amigos de colégio.
Pedro reencontra o advogado bem-sucedido Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França), agora padre, seus inseparáveis amigos de adolescência. Junto com as boas lembranças do tempo que dividiram, vem o update da vida de cada um.
A coincidência máxima é que os três encaram momento de crise. O casamento de Ivan e mesmo seu escritório estão balançando. Mariano já não sabe se acredita em Deus e questiona o celibato. E Pedro, depois da morte de sua cachorra, Calabresa, perde o sentido da vida e propõe finalizá-la em grande estilo.
Desde que os três juntos revisitem a paixão comum dos tempos de colégio, Soninha (Louise Cardoso, de Além do Tempo). E vejam o Palmeiras campeão novamente (o filme se passa em 2014). Ah, em tempo: Tony Ramos é torcedor do São Paulo. Bem como Ary e Cássio.
Road-movie
Pois 45 do Segundo Tempo é quase um road-movie. Totalmente paulistano e italianado. Sem valor pejorativo aqui.
O trio principal está muito bem afinado. Os três atores fazem rir e até mesmo chorar de maneira convincente. Ao lado deles ainda está Denise Fraga (De Onde Eu Te Vejo), esposa de Luiz Villaça e que não transpira para passar credibilidade ao seu personagem.
Não à toa, Tony Ramos classificou 45 do Segundo Tempo como uma joia que lhe foi presenteada por Villaça, autor do roteiro ao lado de Leonardo Moreira, Rafael Gomes e Luna Grimberg.
Amizade e crise dos 50
Se você está esperando uma comédia regional lascada, tire o cavalo da chuva. O filme tem situações de humor, mas também levanta questões muito pertinentes para o momento. Como o valor das amizades, as decisões que tomamos em nossas vidas e o que priorizamos nelas.
O personagem Ivan, por exemplo, acabou deixando um pouco de lado a família para se concentrar em uma carreira bem-sucedida. Mariano abriu mão dos próprios desejos. E Pedro se apegou tanto ao negócio da família que esqueceu de construir a sua própria.
Quem nunca, não é verdade? Ou melhor, quem nunca aos 50? Claro, o avanço da idade abre os poros da percepção para esses temas. O filme, portanto, presta até um serviço aos mais jovens, antecipando-os. Mas, como dizem, conhecer o caminho não é tão importante quanto a jornada em si.
A Paris Filmes e a Downtown Filmes distribuem 45 do Segundo Tempo no streaming. De quebra, ainda entrevistamos com exclusividade o diretor Luiz Villaça e os atores Cássio Gabus Mendes e Ary França. Faltou o Tony Ramos, viu Léo? Acompanhe esse bate-papo a seguir.

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