Crítica | Filme | Zé

Crítica | Filme | Zé

De uns anos para cá, parte da população brasileira optou por ressignificar os chamados anos de chumbo, período da ditadura militar no Brasil (mais ou menos do final da década de 1960 à meados dos anos 1970). Ressignificar é uma palavra elegante para um ato nada elegante que pretendia varrer da História brasileira perseguições políticas, prisões arbitrárias, torturas, mortes e outros atos inconstitucionais promovidos pelas Forças Armadas nessa época. A grosseria é tamanha que seria como dizer que não houve escravidão no país. Ou que a Terra é plana.

, longa-metragem assinado pelo diretor mineiro Rafael Conde (que divide o roteiro com Anna Flávia Dias), é mais uma produção brasileira que conta uma história real ocorrida durante a ditadura. O filme estreia em 29/8, distribuído pela Embaúba Filmes, e é uma adaptação da trajetória de José Carlos Novaes da Mata Machado, líder do movimento estudantil que se postou contra a ditadura militar no Brasil. foi perseguido pelo regime de então e viveu na clandestinidade enquanto pôde. Enquanto isso, ainda se dedicou à alfabetização e à conscientização política do povo menos favorecido no Nordeste do país.

O longa de Conde toma a obra de Samarone Lima como referência, escritor cearense que mapeou a vida de a partir de arquivos da repressão, entrevistas com outros militantes sobreviventes, familiares e amigos.

Talvez diferentemente de outros títulos que abordam o tema, o diretor e roteirista optou por focar na parte dramática da história de , desviando da violência característica da repressão e apostando na humanidade do personagem e daqueles que o cercaram em sua curta existência. Meio que para evitar fazer mais do mesmo. Além da curiosidade sobre a vida de , Conde revelou que lhe pareceu apropriado e necessário oferecer um pouco de História àqueles que hoje erguem cartzaes em praça pública pedido a volta dos militares e da ditadura: “Eu fico assustado, essas pessoas não sabem o que é viver sob o regime do medo, da censura e da repressão”.

A iniciativa é necessária e bem-vinda, mas está longe de ter apelo ao grande público. No máximo a metade dele, a julgar pela polarização política que vivemos. Corre até o risco de ser chamado de “filme cabeçudo” por conta do falatório excessivo. E talvez tenha faltado um pouquinho de verba para uma reconstituição de época que permitisse uma câmera mais aberta.

No elenco estão Caio Horowicz (A Batalha da Rua Maria Antônia), Eduarda Fernandes, Samantha Jones (Renascer), Rafael Protzner, Yara de Novaes, Gustavo Werneck e Alexandre Cioletti.

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