Se você se deixar levar pelo título deste filme, sequer imagina o que o aguarda na sala de projeção. E não falo isso em um tom pejorativo. Pelo contrário, Boa Sorte, Leo Grande foi uma boa surpresa para mim.
Como sabem, evito ao máximo tomar contato prévio com os materiais dos filmes para não me deixar envolver pelas ações de divulgações. Isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. Porém, me ajuda a limpar os olhos e a me colocar na poltrona como espectador. Acredito que tem funcionado mais positivamente do que negativamente. Digam vocês.
Bem, a professora aposentada Nancy Stokes (a sempre incrível Emma Thompson, de Cruella) enviuvou há dois anos. Seu marido morreu e desde então, nada de sexo para a cinquentona Nancy. Não que houvesse sexo durante os seus 31 anos de casamento… Ela descreve sua relação com o falecido marido como algo frio e formal, que obviamente era refletida também na hora da transa.
Algo parecido com sexo. Mas com satisfação unilateral. O marido fazia o papai-e-mamãe com a precisão do Big Ben e com o envolvimento do Big Ben.
Conclusão? Nancy nunca teve um orgasmo.
Metódica como é, meditou muito sobre a possibilidade de ter sexo mediante pagamento. Para tirar um pouco desse atraso orgásmico. Entre em cena Leo Grande (Daryl McCormack, da série Peaky “Focking” Blinders: Sangue, Apostas e Navalhas), o que nos dias de hoje é chamado de profissional do sexo.
A falta de experiência, o nervosismo e até um sentimento de culpa fazem do primeiro encontro dos dois um quase desastre. Leo faz o tipo terapeuta sexual, oferecendo compreensão e um bom papo antes de atender as clientes. Parece gostar e entender do que faz.
Ainda que improvável, rola um segundo encontro entre os dois. E um terceiro.
Leo meio que viola suas regras de engajamento e acaba se envolvendo com a cliente. O que também pode ser bom ou ruim.
Ainda que não seja exatamente novo, o plot de Boa Sorte, Leo Grande premia o espectador com elementos novos. É preciso entender que, ainda que a Inglaterra seja um país do chamado Primeiro Mundo, onde o sexo não parece ser tabu e onde a diversidade de gênero é respeitada, as coisas não são tão bem resolvidas assim nesse campo.
Parece incrível que em pleno século 21, existam britânicas que embarquem em relacionamentos machistas e descompensados. A pobre Nancy nunca teve prazer sexual graças ao seu relacionamento raso com o marido. E castrador, obviamente.
Tema tão delicado e eventualmente pesado, poderia ser um problema na telona. No caso de Boa Sorte, Leo Grande, não foi. O roteiro de Katy Brand é leve e delicioso. A direção da australiana Sophie Hyde transportou essa leveza para a tela durante os quase 90 minutos de duração do filme.
Onde a ação de desenrola quase que exclusivamente em um quarto. Poderia ser algo aborrecido e difícil de entusiasmar. Mas apoiada nas boas atuações de Daryl e principalmente de Emma, a história diverte e passa sua mensagem.
A ótica feminina é privilegiada e, por mais que possam julgar ser machista demais uma mulher contratar o serviço sexual de um homem para curar suas mazelas, é ela que move a trama. São os interesses do personagem de Emma que propõem o conflito e despertam o interesse.
Além do mais, muito corajoso da parte da atriz expor-se a esta altura da vida em nu frontal. E até isso orna com a história. Não é algo que fica deslocado no filme e pareça aproveitador. Assim como a Nancy, a Emma empresta seu corpo (e alma) para tentar algo novo. E consegue com um bom gosto e humor britânicos. Boa Sorte, Leo Grande estreou no circuito nacional em 28/7/22 distribuído pela Paris Filmes e hoje está disponível no streaming.

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