No começo de 1989, as primeiras fotos com Michael Keaton vestindo o uniforme de Batman, personagem criado nos quadrinhos em 1939 por Bob Kane e Bill Finger, causava um grande impacto na indústria de entretenimento. Afinal, a imagem mais popular de uma adaptação do personagem dos gibis era do seriado dos anos 60, interpretado por Adam West.
E, definitivamente, não era o Batman que eu conhecia dos quadrinhos da Ebal (Editora Brasil-América), que publicava as aventuras do personagem desde os anos 50. Especialmente no final dos anos 60, quando Neal Adams criou histórias de arrepiar com a nova alcunha de Batman, o Cavaleiro das Trevas.
Na história do personagem, Batman virou de carne e osso em 1943 no seriado de ação O Morcego, interpretado por Lewis Wilson. O personagem voltaria a um seriado de ação em A Volta do Homem-Morcego, de 1949, feito por Robert Lowery, até o longa de 1966, Batman – O Homem-Morcego, feito com o mesmo elenco do seriado da TV estrelado por Adam West, para aproveitar o sucesso da telinha.
Particularmente, nunca gostei desse Batman camp e psicodélico.
O que leva à minha empolgação quando a Warner Bros., dona da DC Comics, havia entregado na mão do jovem diretor Tim Burton, a primeira superprodução para o cinema para comemorar 50 anos de vida de Batman. Que responsabilidade. É claro que Burton e os produtores do filme, Jon Peteres e Peter Guber, seguiram a ideia da dupla de produtores Ilya e Alexander Salkind de ter um nome mais conhecido no elenco. Os Salkind fizeram isso contratando Marlon Brando para ser o pai do Super-Homem, enquanto Gene Hackman seria o arqui-inimigo do Homem de Aço, Lex Luthor.
E o nome de Jack Nicholson para ser o pior inimigo do Batman, o Coringa, foi a decisão mais do que acertada. Mesmo com a greve dos roteiristas de Hollywood assediando a produção, Sam Hamm e Warren Skareen construíram uma história forte, que conseguiu agradar os fãs do personagem e trazer para as salas de cinema milhares de outros fãs que estavam curiosos sobre como seria o personagem nessa nova versão. Sem contar a expectativa de ver Michael Keaton, que havia se destacado em comédias, interpretar o traumatizado Bruce Wayne, que virou o justiceiro de Gotham City.
Eu era um deles.
O filme chegou aos cinemas nos EUA em 19 de junho de 1989, tornando-se o grande campeão do verão americano, faturando cerca de US$ 250 milhões na temporada. Somente no primeiro final de semana, Batman arrecadou quase US$ 50 milhões, superando seu orçamento original de US$ 35 milhões. Ou seja, somente naquele final de semana, as bilheterias mostravam que fazer boas adaptações de quadrinhos era lucrativo. Mas isso é outra história.
O fato é que o filme só chegaria ao Brasil em outubro de 89, o que deixaria a ansiedade desse escriba muito alta. Felizmente, uma viagem a Miami, para participar de um congresso de produção de cinema, resolveria essa questão. O congresso aconteceria no final de julho e eu torcendo para que Batman ainda estivesse em cartaz.
E estava. Vi num cinema distante 35 minutos de táxi do hotel em Bayside, região central de Miami. Saí energizado do filme, impressionado com a ideia de um Bruce Wayne que construiu sua própria armadura para combater o crime em Gotham City, consciente de que não tinha um corpo marombado como nos quadrinhos. É claro que nem tudo é perfeito. Não sei de onde os dois roteiristas tiraram a ideia de colocar o Coringa como responsável pela criação do Homem-Morcego. Não vou entrar no assunto para não revelar nada, porque sei que tem muita gente que nunca viu esse filme, nem mesmo em mídia física. Afe!
O visual de Gotham criado pelo cenógrafo britânico Anton Furst é fascinante e assustador ao mesmo tempo. A Gotham de Batman parece uma cidade que ficou parada no século 19, enquanto o mundo se desenvolvia. Um trabalho soberbo que foi reconhecido pela Academia de Hollywood, dando à cenografia do filme o Oscar® da categoria. Aliás, o único do filme.
Batman foi um sucesso. Ele concorreu nas bilheterias com filmes importantes lançados naquele ano, como Pecados de Guerra, de Brian de Palma; Faça a Coisa Certa, primeiro grande sucesso de Spike Lee; o suspense Vítimas de uma Paixão, com Al Pacino e Ellen Barkin; as comédias Harry e Sally – Feitos um Para o Outro, Quem Vê Cara Não Vê Coração, O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra e Querida, Encolhia as Crianças; o segundo Máquina Mortífera; o filme que deu o primeiro Oscar® a Denzel Washington, Tempo de Glória; os sensíveis Campo dos Sonhos e Sociedade dos Poetas Mortos; a primeira indicação ao Oscar® de Tom Cruise, Nascido a 4 de Julho; o segundo filme de Timothy Dalton como James Bond, 007 – Permissão Para Matar; e os divertidos Indiana Jones e a Última Cruzada e Jornada nas Estrelas 5 – A Última Fronteira.
Agora é uma excelente oportunidade para comemorar os 85 anos de criação de Batman, com a volta de Batman, de Tim Burton e Michael Keaton, junto com a recente versão feita por Matt Reeves, O Batman, com Robert Pattinson vestindo o uniforme do Cavaleiro das Trevas.
E tudo isso numa bela sala de cinema.

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