Crítica | Filme | Quando Eu Me Encontrar

Crítica | Filme | Quando Eu Me Encontrar

O cinema de um território há de mostrar sua cultura, suas paisagens, seus sentimentos e suas específicas cores e tons para, somente assim, condicionar a narrativa. Afinal, cinema não é homogêneo e sim, um processo de cultivação constante e diferente em cada nacionalidade.

Quando Eu Me Encontrar é o suprassumo de nossa cultura. A história aborda a vida de Marluce ao lado de sua filha, Dayane, que some misteriosamente de sua casa, embarcando em uma jornada sem rumo e sem avisar ninguém de seu ciclo, nem sua mãe, namorado ou irmã.

Mesmo Marluce sendo uma suposta protagonista, ao ter o maior tempo de tela dentre os três personagens que têm suas vidas atormentadas pelo sumiço desse membro importante de suas rotinas, aqui o personagem principal é a realidade brasileira mais nua e crua, assim como no Cinema Novo, por exemplo.

Tudo que engloba os mais diversos fatores no longa, indo de fotografia a caracterização de personagens, foca no degradante com suas luzes néon de boate e a bebedeira sem limites pelo desaparecimento da garota. Além de uma montagem que impõe cenas somente de observação de algo que já não está mais presente fisicamente.

Quando Eu Me Encontrar, através de sua forma, praticamente conta a história de um pós festa, onde tudo que era animado, com efervescência e luzes vermelhas e roxas, caiu em uma melancolia sem tamanho.

A narrativa também consegue concatenar pela montagem e edição esses elementos de queda com a temática proposta. Não há pontos felizes nas vidas daqueles ali abordados, nem mesmo antes de toda história de Dayane, como a obra induz o espectador a pensar.

O que corrobora para esse fator é o constante revezamento de protagonismo entre as três figuras que seguram a obra. E uma construção que não só sobrepõe a falta da irmã, mas a realidade daquela vida presenciada, onde abusos morais, sexuais, econômicos e formas de abandono e desentendimento familiar, são inerentes a todo aquele contexto.

Ao final, mesmo com o filme sendo sobre um suposto sumiço dessa personagem em uma família com diversos percalços e dificuldades (sendo uma história aparentemente minúscula e intimista comparada àquelas longas com temáticas épicas e mundiais), ele acaba falando muito melhor sobre um país inteiro e seu cotidiano de abandonos recorrentes, que podem ser retratados em qualquer obra de qualquer outro lugar.

Em suma, Quando Eu Me Encontrar seria, pelo menos para muitos espectadores, o típico filme nacional que foca na pobreza. Entretanto, acaba por ser muito mais ao percebermos que, mesmo sem pobreza, há sempre outros problemas em nosso contexto não desenvolvidos e que eles continuarão se disseminando, mesmo em condições melhores. A realidade fria de um país tropical. Estreia em 19/9 distribuído pela Embaúba Filmes. Colaboração especial de Lucas Tinoco

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