A Warner Bros. Pictures relança em circuito brasileiro em 19/9 o longa Batman, dirigido por Matt Reeves. CriCríticos republica a crítica feita na época de sua primeira exibição a seguir. Não deu tempo do texto envelhecer:
Imagino que seja difícil trazer algo exatamente novo em um filme cujo personagem principal é um super-herói que está em atividade há mais de 83 anos. Mas sempre é possível oferecer uma nova leitura de alguns dos traços desse mesmo personagem. Sem “reinventar a roda”. Ou desagradar a comunidade de fãs.
Pois The Batman, do diretor Matt Reeves (Cloverfield – Monstro), se concentra nas releituras não apenas do Homem-Morcego, mas de todos os personagens que habitam Gotham City.
Nomes aos bois
A começar pelo fato de que ninguém dá nome aos bois. Ninguém chama o Batman de Batman (acho que acontece somente uma vez em todo o filme!). Nem a Mulher-Gato de Mulher-Gato. E assim por diante.
Como Reeves assina o roteiro ao lado de Peter Craig, ficou mais fácil controlar o que iria para as telas. Por exemplo, optou por não mostrar a origem do Batman e dos vilões. E o que rola em Gotham?
No filme, o Cavaleiro das Trevas já veste o uniforme há dois anos “enxugando gelo” na cidade. O mundo do crime teve uma reviravolta, mas nem tudo é o que parece. A corrupção corre solta e nem todo o medo que o bat-sinal gera (para ficar claro, ninguém o chama assim!) é capaz de diminuir uma nova onda de violência.
Comandada por um novo vilão, que anda matando figurões do poder de Gotham com requintes de crueldade (é o Charada, em mais uma interpretação perturbadora de Paul Dano, de The Beach Boys: Uma História de Sucesso).
Com a ajuda do detetive James Gordon (Jeffrey Wright, de Westworld) e de Selina Kyle (Zoë Kravitz, de Big Little Lies), o “Vingança” tenta interromper as mortes em série e desbaratar um esquema de corrupção que envolve a cúpula da cidade e o crime organizado.
No comando da cadeia alimentar do submundo meliante está Carmine Falcone (John Turturro, da franquia Transformers) e Oswald “Oz” Cobblepot (um irreconhecível Colin Farrell, de Magnatas do Crime), mais conhecido como Pinguim. E o fiel mordomo Alfred Pennyworth (Andy Serkis, de Pantera Negra) aparece pouco, mas não poderia deixar de apoiar o patrão, Bruce Wayne.
O fator Robert Pattinson
E honestamente, o que poderia ser o calcanhar de Aquiles do filme (a escolha de Robert Pattinson, da franquia Crepúsculo, para viver Wayne/Batman), funciona muito bem! Porque, psicologicamente falando, Bruce Wayne é tão perturbado quanto qualquer vilão de Gotham.
O bilionário não tem muita razão para sorrir. E novamente percebe-se a mão de Reeves e de Craig aqui. Pattinson entrega um personagem atormentado o tempo todo. Pesado, soturno… Até o andar de Batman é pesado!
O ator já teve a oportunidade de interpretar algo semelhante em Cosmópolis, em Mapa Para as Estrelas ou mesmo na saga Crepúsculo. Tem gente falando que é o Batman mais sombrio já feito. E isso faz parte da releitura. Lembrados?
Quando entra em ação, entretanto, é o Cavaleiro das Trevas que todos esperam. Preciso, violento e enérgico em sua saga em busca de vingança. Traje, traquitanas e transporte também estão lá. E o treinamento pelo qual Bruce Wayne passou valeu cada minuto.
Mas o que seria de Batman se não levasse alguma vantagem sobre seus oponentes a partir da tecnologia? Seu traje é capaz de aguentar tiros à queima-roupa. Usa cordas e ganchos para encurtar caminho e até se livrar de oponentes. Como em seus videogames. Dirige motocicleta para driblar o trânsito e ter agilidade no deslocamento. E quando precisa de muscles debaixo de um capô, entra em cena um Batmóvel como nunca visto antes.
Toda essa tecnologia é bastante orgânica. Se é possível dizer isso. Porque não se torna o centro das atenções. São apenas ferramentas usadas por ele. A exceção das lentes de contato, as batutilidades são bem verossímeis.
Nada impede, porém, que Batman tome tiros, socos, pontapés e quedas de montão. Outro marco: talvez nunca o herói tenha apanhado tanto!
Trama de detetive
Então, não falta ação ao filme. Boa ação, calcada mais em proezas de dublês do que em CGI. Só que para segurar as quase três horas de duração do filme (melhor ir ao banheiro antes da sessão começar!), também era necessária uma trama cativante.
Lembrando as origens de Batman nos quadrinhos, a trama do longa exige a maior habilidade do herói: a de detetive. Sua inteligência e poder de observação são suas armas mais usadas na investigação aos crimes do Charada.
E o modo como o espectador acompanha essa investigação o segura na poltrona confortavelmente. Não dá para sentir a duração do filme. Existem muitos raros momentos onde a narrativa sofre uma queda de voltagem e a atenção se dispersa.
Reeves também contou com a ajuda de cenografia e figurinos para complementarem sua visão de Batman. Como não poderia deixar de ser, as sombras são muito bem exploradas em cena. Contudo, os figurinos sempre causam preocupação desde a época dos mamilos de Joel Schumacher. Aqui, tudo orna com o espírito da produção: orgânicos, de bom gosto e funcionando como uma segunda pele para os personagens.
A equipe de produção criativa de Matt Reeves inclui o diretor de fotografia Greig Fraser (Duna); o designer de produção James Chinlund e o editor William Hoy, dos filmes Planeta dos Macacos; o editor Tyler Nelson (A Máquina de Lembranças); e a figurinista Jacqueline Durran (1917). Todos nomes com boa reputação atrás das câmeras.
Por fim, a trilha sonora é do compositor Michael Giacchino (franquia Homem-Aranha) e lembra um pouquinho a marcha fúnebre, composta por Frédéric Chopin. Só um pouquinho, ok? Sombria como o personagem.
The Batman estreou em 3/3/22 nos cinemas brasileiros, com distribuição mundial da Warner Bros. Pictures, e também está disponível no streaming.

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