Crítica | Filme | O Aprendiz

Crítica | Filme | O Aprendiz

As chamadas cinebiografias são sempre um terreno delicado para a cinematografia, porque oferecem normalmente uma versão para a vida da celebridade e não necessariamente a verdade plena. É bom saber disso ao decidir encarar O Aprendiz, filme que a Diamond Films entrega ao circuit nacional em 17/10.

Principalmente porque a tal celebridade é ninguém menos do que o polêmico playboy/político americano Donald Trump, atualmente tentando a reeleição à presidência dos EUA. E é o Donald Trump vivido por Sebastian Stan quem dá a dica a certa altura do longa. Algo como “exsiste a sua verdade, a minha verdade e a verdade de outra pessoa. Eu fico com a minha verdade”.

O Dr. Spock já havia dito na série clássica de Jornada nas Estrelas que “existe a minha, a sua versão e uma terceira versão, que provavelmente é a verdade”.

E esse é um bom ponto de partida para o que se verá em O Aprendiz. Uma versão (até bem concatenada) de como um jovem Donald Trump já ambicioso, tentando ficar à frente dos negócios do pai, é fortemente influenciado por Roy Cohn (interpretado por um Jeremy Strong bem convincente). Cohn equivale ao nosso “advogado de porta de cadeia”, aquele profissional sólido e que nunca cogita perder um caso. Custe o que custar.

Seus clientes chegaram até ele com causas praticamente perdidas e Cohn conseguiu reverter a situação favoravelmente à eles usando golpes baixos, como escutas, gravações e fotos comprometedoras. Eram outros tempos, mas o conceito de justiça já era proporcional ao número de dígitos na conta bancária.

Cohn vê potencial em Trump e lhe oferece favores em troca de um único pagamento: sua amizade. Trump multiplica seu dinheiro muitas vezes (parte em função da intervenção de Cohn), mas na hora do vamos-ver preferedeixar de lado esse passado um tanto escuso. Como se ele também não tivesse sido amigo de Jeffrey Epstein, lembram-se?

No meio dessa jornada, claro, Trump ainda conhece Ivana Zelníčková (Maria Bakalova), modelo e sua futura esposa. A primeira de três…

Por isso tudo e um pouco mais, O Aprendiz é uma versão mesmo. Porque se metade do que é mostrado na tela for verdade mesmo, a reputação de Donald Trump está mais suja do que pau de galinheiro. E isso sem mencionar seus “feitos” denunciados pela justiça americana recentemente. E que não deram em nada.

Mas o espectador tem que ter acesso ao filme e, quem sabe, buscar saber mais a respeito do playboy em outros lugares, afinal de contas, o Brasil tem o seu “Trump dos trópicos“! Cujos métodos de negar a verdade dos outros sempre e nunca admitir uma derrota se assemelham.

O Aprendiz é redondinho, ms não vai mudar sua vida. Sebastian Stan fica incrivelmente parecido com Donald Trump em determinados enquadramentos (muita boa maquiagem, aliás!), com direito a beicinho e dedo em riste. E Jeremy Strong também dá conta do recado. O que é bom, porque o filme de Ali Abbasi (Holy Spider) se ergue a partir da atuação da dupla majoritariamente. Uma boa reconstituição de época e uma fotografia no estilo anos 1970/1980 ajudam a embalar a história. Um entretenimento garantido.

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