Crítica | Filme | From the River to the Sea

Crítica | Filme | From the River to the Sea

Em 1974, o documentarista Peter Davis entregou um dos mais fortes e reais relatos sobre a Guerra no Sudeste Asiático, onde tropas americanas tentavam barrar as forças revolucionárias do Vietnã. Mesmo com o conflito chegando aos seus suspiros finais, o documentário mostrou a necessidade de trazer os americanos combatentes de volta para casa e reestabelecer bases para que os EUA não saíssem em novas cruzadas sem sentido.

A história da invasão do Iraque e os atentados de 11 de setembro de 2001 mudaram o pensamento mundial sobre intervenções militares. É sobre esse cenário que o documentário From the River to the Sea chega para esclarecer vários pontos obscuros sobre o principal conflito do Oriente Médio: o fundamentalismo do Hamas contra o Estado de Israel.

Não vou entrar nas questões políticas intrínsecas desse conflito, que surgiu em 1947, com a criação do Estado de Israel. Muita água já passou por essa ponte e as pessoas que entendem os dias em que vivemos, sabem que a discussão é muito mais complicada.

A primeira meia hora da produção é uma exposição com depoimentos dos eventos da manhã do dia 7 de outubro de 2023. Além dos depoimentos dos sobreviventes do massacre organizado pelos militantes do Hamas, há imagens capturadas de vídeos feitos pelos próprios soldados da organização fundamentalista. São imagens fortes, que a produção usou para ilustrar os depoimentos. As imagens não ficam apenas no ataque ao evento musical, mas mostram os ataques em diversos kibutz naquela região.

Num determinado momento, o documentário mostra um depoimento que circula pela internet, de um militante ligando para o Whatsapp do pai, narrando a quantidade de judeus mortos pelas suas próprias mãos. A retaliação de Israel foi intensa, com vários prédios tidos como do Hamas detonados. A contrapartida dos sobreviventes dos bombardeios é tão comovente e forte como as declarações de quem viveu para contar o que aconteceu na manhã de sábado.

O roteirista e diretor Lucas Ferrugem disse durante a pós-produção que não tinha ideia de qual seria o documentário final, ou um longa-metragem ou uma série com vários capítulos. Optou pelo longa que, em duas horas e dezoito minutos de duração, com imagens dos atentados, depoimentos de ex-membros do Hamas e de outras organizações fundamentalistas, colocando um pouco de luz nas trevas dessa situação.

Até mesmo o nome escolhido para batizar a obra vem de uma questão política envolvendo os palestinos mais radicais em relação a questão de Israel. A frase From the River to the Sea, que numa tradução formal é “do rio para o mar”, fala da intensão dos fundamentalistas de expulsar o povo judeu daquela região, do Rio Jordão até o Mediterrâneo. A frase foi usada nos anos 60, quando a Organização para Libertação da Palestina, a OLP, foi criada.

From the River to the Sea é um documentário tão profundo e esclarecedor como Corações e Mentes fez com a crise do sudeste asiático. Ele não traz nenhuma conclusão sobre os eventos, a retaliação ou sobre o que pode vir no futuro. Ao contrário, indica que se houver uma derrota, ela irá repercutir dramaticamente no futuro da humanidade como um todo.

Algo que poderá afetar corações e mentes, numa correnteza mortal em direção ao mediterrâneo.

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