Poesia | Quando eu morrer

Poesia | Quando eu morrer

Quando eu morrer não quero choro

E muito menos velório tradicional.

Quero o caixão fechado para não ter que ouvir

As mesmices de sempre:

– Ele está sorrindo, tão sereno, como era lindo!

Não quero que babem em cima de mim.

Tenho horror do cheiro das flores que cobrem o caixão,

Misturado com o cheiro de vela queimando…

Me lembra macumba!

Dos dizeres, faixas, nas coroas “Da família que nunca te esquecerá”,

“Da esposa, filhos e netos – saudade infinita”, “Dos amigos…“,

Nada disso! Se querem me homenagear, façam em vida.

Não quero ser enterrado de roupa e sapato,

Quero voltar da mesma forma como cheguei… Pelado!

Quero apenas lembrar da beleza de todas mulheres

que os meus olhos testemunharam…

Brancas, quase marfim, cabelos lisos, negros, loiros, olhos claros,

das espanholas, eslovenas, alemãs e as eternas e lindas russas.

Brancas, marfim amarelando, cabelos lisos, negros, olhos puxados

e alguns até amendoados… Chinesas de Taipe, Macau, Hong Kong e

República da China. Das japonesas, coreanas, tailandesas, birmanesas, indonésias,

malásias e tantas e tantas mais…

Das brancas, morenas, mulatas, negras, cabelos lisos ou encaracolados, presos em

tranças, do gingado no corpo, do riso espontâneo, do perfume cravo e canela.

Brasileiras, africanas de Angola, Argélia até a República Árabe.

Do perfume e sabores inebriantes dos temperos de Portugal, Espanha, Itália,

França, Grécia, Turquia, Líbano, Egito, Israel, Índia, Marrocos, Brasil, Chile, Colômbia,

Peru e outros.

Das músicas e canções por onde andei em todas as três Américas e pelo mundo afora.

Do Radio City em NY, ouvindo pela primeira vez uma linda gazela de vós potente de

nome Whitney Houston in Who loves me.  De Las Vegas, no Rocked Caesar Palace,

escutando o imortal Tony Bennett in San Francisco. No Panamá, Teatro Anayansi

de Atlapa, o romântico Luís Miguel, Cuando la luz del sol se esté apagando.

Quero apenas sentir e sonhar com todos os matizes do azul do mar de toda costa

brasileira, do México, Barbados, Grécia, Hawaii, Tailândia, Malásia, Caribe, Porto

Rico, África do Sul e tantos que a minha memória não se lembra também…

Sim! Apenas isto eu quero quando morrer… E poder ouvir pela última vez o meu

poema, Asas ao mar, no declamar de um dos meus amigos para sempre:

“E quando os meus descalços pés

Não mais deixarem marcas na fina areia

Não chores…

Eu sou a gaivota que voa na morna brisa do teu olhar

E a cada mergulho, tua branca espuma vem beijar”.

Ao som do borbulhar do champanhe nas taças se brindando no relembrar o velho

poeta, de preferência, ao fundo, o som da inesquecível melodia Feelings…

E para finalizar, em minha Lápide o epitáfio após a estrelinha “Aqui jaz um velho

poeta, sonhou e amou na vida e por onde passou deixou rastros de versos em pétalas

de amor”.

Assim eu quero ser lembrado… Quando morrer!

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