Não é preciso dizer que com as estreias nos cinemas brasileiros coincidindo com o Dia das Bruxas, a mais americana das datas celebradas por aqui, iriam chover filmes de terror na programação. De fato, para quem gosta do gênero, este 31/10 é um prato cheio.
Acho que os dedicados fãs do terror vão acabar assistindo a tudo que estreia hoje, mas penso que ao ouvirem ou lerem o nome Nakata Hideo nos créditos de A Última Invocação (The Forbidden Play), vão pender para este filme, distribuído pela Sato Company.
Redundando, então, Hideo ostenta em seu currículo – eu diria – um marco no cinema de terror recente. Falo de Ring: O Chamado e Ring 2: O Chamado (1998 e 1999), um daqueles saltos de criatividade que acontecem de tempos em tempos. Não confundir com Ringu, telefime de 1995, que é menor tecnicamente falando, mas é a origem de tudo. Todos acabam explorando história semelhante e imortalizando o personagem Sadako. Que viraria Samara no cinema americano com a franquia O Chamado.
Voltando para A Última Invocação, vemos de cara o que nos aguarda. O menino Haruto Ihara brinca no quintal de sua casa ao lado dos pais e, na tentativa de capturar um lagarto, acaba ficando apenas com a cauda do animal na mão. Seu pai brinca com ele de que vai nascer outro lagarto daquela cauda se Haruto enterrá-la no quintal e entoar um tipo de feitiço. O garoto topa o desafio e não é que um novo lagarto surge do monte de terra?
Na sequência, a mãe de Haruto morre tragicamente e o menino decide, a partir da ponta de um dos dedos da mãe, tentar o feitiço novamente. É claro que – no melhor estilo Cemitério Maldito – certas coisas merecem ficam mortas. O que “ressuscita” do quintal desta vez é um espírito vingativo que vai infernizar a vida do pai de Haruto por ciúme.
A trama pode parecer óbvia, mas vão sendo somados tantos outros elementos ao filme e vão surgindo tantas outras informações complementares ao drama dos Ihara que fica difícil imaginar onde essa história vai acabar. O que é bom.
Para quem está mais acostumado ao ritmo dos filmes de terror americanos, A Última Invocação vai parecer totalmente original e dono de ideias bem peculiares. É de se imaginar que o que aterroriza a plateia americana seja bem diferente do que aterroriza o público no Japão. Para não mencionar o estilo de atuação, idioma e outros traços culturais.
Mas o que vemos aqui e ali são pontinhas de influência, como o já citado Cemitério Maldito. Temos também, contudo, telefonemas estranhos produzindo sons ainda mais estranhos; reflexos em espelhos que dão uma palhinha do tal espírito vingador (que lembra muito a Sadako); e o meu favorito: Eloim Essaim!
Essa é a frase que Haruto repete incansavelmente para o feitiço se ativar. Seria, grosso modo, o klaatu barada niktu ou uma nova leitura do seven days?
O filme é uma adaptação do romance de estreia de Shimizu Karma, Kinjirareta Asobi, vencedor do principal prêmio do 4th Hon no Sanagi Awards, com mais de 100 mil cópias publicadas até hoje, informa a Sato. Confiram uma ingênua cena pós-crédito, se estivem dispostos.

Um comentário sobre “Crítica | Filme | A Última Invocação”