Crítica | Série | Senna

Crítica | Série | Senna

Existe uma tendência mundial que meio que canoniza figuras ilustres no cinema e na televisão, normalmente após suas mortes. Isso não é uma regra absoluta. É como se os realizadores buscassem homenageá-las destacando suas qualidades, grandes momentos e frases marcantes. E optassem em deixar de lado as falhas, deslizes de condutas e eventuais derrapadas.

Sem o lado humano (afinal, errar é humano!), essas figuras rumam à imortalidade cinemática em condição quase superhumana.

Agora, imagem só o quão complicado é retratar em série ninguém menos do que Ayrton Senna da Silva, para muitos brasileiros, o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos? Um herói nacional mesmo após sua morte, uma celebridade do esporte e um ícone cuja imagem se aproxima da imaculação.

O desafio foi topado pela Gullane e pelo diretor Vicente Amorim, sabedores de que não seria fácil agradar a todos com a minissérie cinebiográfica Senna, que estreou seus seis episódios em 29/11. Por exemplo, já se fala muito do espaço dedicado ao namoro do piloto com a apresentadora Adriane Galisteu, em contraponto com o relacionamento de Ayrton com outra apresentadora, Xuxa.

Ao saber que a Senna Brands, empresa administrada pela família de Ayrton, se faz presente na série como produtora, fica mais fácil entender a decisão. Sim, porque muitas decisões devem ter sido tomadas de modo bem racional, privilegiando uma narrativa que valorizasse os feitos de Senna e não arranhasse sua imagem.

Principalmente junto aos brasileiros, ainda que a produção seja internacional. Tiro isso por mim mesmo, que sempre gostei mais do estilo de outro piloto brasileiro também tricampeão de Fórmula 1. Até o momento em que ele, claro, andou revelando seu lado mais político e se envolvendo em escândalos ao lado de um ex-presidente. Mas isso é outra história…

Isso, contudo, não me impediu de lamentar muito a morte de Senna, reconhecer o seu talento gigante e me arrepiar ao rever momentos marcantes em sua abreviada trajetória na F1.

Imagino que essa deva ser a reação de muitos que assistirão aos episódios da série, porque ela reconta magistralmente cenas que permanecem indeléveis nas retinas de todos que sintonizavam a Rede Globo aos domingos no final dos anos 80 e começo dos 90. Sejam cenas de corridas refeitas digitalmente ou não, sejam cenas em que o ator Gabriel Leone quase que literalmente encarna Ayrton.

Sim, existem muitas diferenças fisionômicas entre os dois, mas quando luz, fotografia, maquiagem e o talento de Leone estão combinados, o resultado é impressionante. Por isso, o que vemos na tela emociona e arrepia. Chegou um momento em que eu praticamente estava torcendo para que o Senna de Leone optasse em não correr no GP de Ímola em 1994. Circuito onde o Senna de verdade perdeu sua vida.

Portanto, penso que o objetivo dos realizadores foi cumprido com a minissérie. É claro que locações, carros, cenografia, elenco e tudo o mais que cercou a produção contribuem bastante para que Senna seja bem-sucedida. Tudo bem feitinho e capaz de envolver o espectador que quiser participar dessa homenagem a sua maneira: assistindo.

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