A Netflix ainda não divulgou os números de visualizações de um dos seus mais aguardados lançamentos de 2024, a minissérie Senna, produzida pela Gullane e estrelada pelo ator Gabriel Leone (chegou ao streaming em 29/11). Contudo, é possível imaginar que qualquer produção envolvendo o nome de Ayrton Senna da Silva tenha grande apelo junto ao público brasileiro. Mesmo passados 30 anos de sua trágica morte no Grande Prêmio de Imola, na Itália.
CriCríticos participou de uma mesa redonda virtual com as presenças do diretor de Senna, o brasileiro Vicente Amorim, e do ator Gabriel Leone (Ferrari), que interpreta Ayrton, dentro e fora das pistas. E Leone talvez seja o que mais impressiona em Senna (não a única coisa). Como ele se tornou parecido com o piloto. E foi Vicente Amorim, em resposta ao outro profissional de imprensa, que definiu Gabriel Leone como o protagonista não apenas porque ele se parece fisicamente com Ayrton Senna e é ótimo ator, mas porque ele lhe pareceu tão cativante quanto o próprio piloto.

Encontrando Ayrton
Para Gabriel Leone, ainda que julgue não se parecer exatamente como Senna, foi necessário deixá-lo viver dentro de si. Mudar sua aparência e seu corpo, fez parte do processo de construção do personagem que o público vê na tela. A partir da mudança física foram sendo construídos outros elementos: voz, gestos, energia, ritmo, etc. Segundo ele, “encontrar Ayrton não foi fácil”.
Ainda que tenha chegado no Ayrton, digamos, ideal, Leone optou por contar a história dele como personagem, mantendo-a acima de tudo. Até mesmo porque a vida de Senna (profissional e pessoal) já foi devidamente esmiuçada em documentários e noticiários.
Em 2024, ainda que muitas pessoas nunca ouviram falar em Ayrton Senna, principalmente no mundo da Fórmula 1, parece que o legado do piloto está mais vivo do que nunca. Como disse Vicente Amorim, tivemos muitos pilotos talentosos na Fórmula 1 depois de Senna, inclusive derrubando alguns dos seus recordes. Contudo, é a figura do herói Senna que perdura (principalmente no Brasil), a de um gênio, piloto extremamente talentoso e trabalhador, e também cheio de paixão. Para ele, o equilíbrio entre o lado técnico de Ayrton e sua paixão por correr é que o tornou tão especial.
Produção brasileira, feita por brasileiros
Fica evidente que essa paixão também existe no público brasileiro e fazer de Senna uma produção brasileira (da Gullane e com as bênçãos da Senna Brands) pareceu mais do que natural. Amorim, por exemplo, afirmou durante a mesa redonda que a série só faz sentido como uma produção brasileira, feita por brasileiros e, principalmente, para brasileiros. Apesar de acreditar que ela funcionará no mundo todo. Afinal, a série mostra vários pontos na vida e carreira de Senna, dentro e fora do Brasil. Como o seu relacionamento com a apresentadora Xuxa, a amizade com o locutor Galvão Bueno e os desafetos com Jean-Marie Balestre, ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Mas as atenções, claro, caem muito sobre a rivalidade de Senna e do piloto francês Alain Prost, para muitos, um vilão na minissérie. Ao mostrar um Senna com todo o seu gênio, com todo o seu coração e com toda a sua paixão, os realizadores também registram seus erros, humanizando ainda mais sua figura.

A relação ruim com Prost nunca foi segredo de estado, mas o fato de os dois terem se aproximado já nos últimos meses de vida de Senna também está na série. Nessa época, Ayrton compartilhou sua preocupação com a segurança dos pilotos na F1 com o francês, sendo totalmente correspondido. Não à toa, Alain foi um dos pilotos que carregou o caixão de Senna. Para Gabriel Leone, esse antagonismo nasceu com dois ases da Fórmula competindo entre si dentro da mesma escuderia. Era importante construir a rivalidade, mas também mostrar para o público que essa relação tinha várias camadas.
As cenas de corrida

Um dos desafios da produção de Senna certamente foi filmar incríveis sequências de corrida, mesclando cenas reais com efeitos digitais. Apesar de não ter dirigido nenhum dos carros de F1, Gabriel Leone afirmou ter realmente se impressionado com o trabalho de CGI e a edição vistos nas sequências finalizadas:
“Misturamos imagens reais com dublês dirigindo de verdade, CGI e estúdio com tecnologia LED. Foi uma mistura de linguagens e diferentes formas de filmagem. Achei o resultado incrivelmente bom. Para mim, as partes em que realmente participei ativamente foram, principalmente, no estúdio de LED, onde ficamos sentados não sei por quantas semanas, talvez duas ou três, dentro dos carros para gravar os close-ups. E isso foi bem no final das gravações. Mas também me lembro de conversar com o Vicente sobre como essas cenas eram o coração das corridas, porque o CGI podia ser incrivelmente bem feito e as imagens reais eram incríveis. Mas, como o Vicente dizia, Senna era puro coração, pura paixão. E isso foi um grande desafio para mim, porque eu tinha que atuar apenas com os olhos, através do visor que estava entre meus olhos e a câmera, e às vezes com chuva no visor. Lembro que eu e Vicente dividimos todas as corridas em pequenos pedaços para capturarmos. Ele vinha até mim o tempo todo explicando o que aquele trecho representava e qual emoção eu deveria transmitir apenas com os olhos. E gravamos por semanas, como eu disse. Foi complicado. Um grande desafio, porque o carro não se movia, então parecia um simulador. Era como estar dentro de um videogame, de certa forma. Mas também estávamos filmando o coração das corridas. Então, isso foi muito interessante para mim como ator, ter a experiência de trabalhar com essa nova tecnologia, eu diria. Mas acho que o Vicente pode falar mais sobre essa mistura de diferentes formas de filmagem”.
O mais real possível
O diretor Vicente Amorim lembra que as cenas de direção foram realmente feitas pelo Gabriel, pelo Matt Mella e por outros pilotos que participaram das gravações. Mas, especialmente pelo Gabriel, claro:
“Ele é o Senna. Ele é quem estamos retratando. Então, essa foi a direção real. Foi a fisicalidade real. E essa foi a expressão da paixão e da técnica do Senna. Tivemos a sorte de contar com dublês muito bons na Argentina, que recriaram todos os momentos das corridas famosas, as 21 corridas que estão na série. Essas corridas foram recriadas fisicamente com carros. Mas isso, por si só, não transmite a emoção que vem através dos olhos, das expressões dos pilotos, e do Senna, claro. De certa forma, a direção foi feita pelo Gabriel e pelos outros pilotos. E isso exigiu muita preparação. Foi necessário um ano de pré-visualização, storyboards e planejamento de cada cena que iríamos filmar. Nada foi feito ao acaso, nada foi improvisado. Cada cena foi planejada com um propósito. Não só para mostrar o que Senna estaria fazendo tecnicamente, mas também o que ele estaria sentindo. Qual era a história sendo contada através daquela corrida? Porque cada corrida, assim como uma cena de ação em um filme, só faz sentido se ela transformar o personagem, se ela for um passo importante na evolução do Senna. E essa mudança, essa evolução, foi capturada nesses close-ups que fizemos no estúdio de LED”.
Ao final, o diretor ainda lembrou Gabriel de que eles também fizeram todas as cenas de direção da Fórmula Ford e da Fórmula 3 de verdade: “O mais próximo que dá para chegar”.

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