Ninguém duvida da capacidade de Eddie Redmayne de trabalhar com personagens diversos e complexos do cinema e na televisão. Ele já cantou na versão de Os Miseráveis (2012), ganhou o Oscar® com sua versão do físico Stephen Hawking em A Teoria de Tudo (2014) e vestiu o manto da magia em Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016).
Agora, ele é um dos mais eficientes e letais assassinos profissionais do mundo, na série O Dia do Chacal, adaptação do livro de Frederick Forsyth escrito em 1971, exibido pelo Disney+. Uma história que o ator tem muito apresso por ela. Um de seus últimos trabalhos na televisão foi a série histórica Os Pilares da Terra, feita em 2010.
CriCríticos participou de uma entrevista coletiva internacional com o Eddie Redmayne, em Los Angeles, onde ele contou um pouco da série. Fazer a nova versão de O Dia do Chacal teve um sabor especial para Eddie:
“Eu cresci assistindo ao filme com Edward Fox (a primeira adaptação do livro em 1973) e era um dos filmes favoritos do meu pai. E apesar de assisti-lo em uma idade inapropriadamente jovem, havia algo nele que achava atraente. Havia algo, eu descrevo como meio analógico. Era sobre a arte da espionagem ou ser um assassino. Havia algo da velha escola sobre isso. Era sobre a criação de planos, o tipo de catarse quando tudo se desenrola na teoria de acordo com o plano. Adorei o filme e, quando os roteiros chegaram, fiquei um pouco apreensivo, pois não quero estragar a coisa que você ama”.
Eddie afirma que o fato da história se passar nos dias de hoje é algo novo:
“A história manteve todas aquelas qualidades analógicas que eu amava do original. E, honestamente, achei muito vibrante. É o tipo de televisão que adoro assistir, [risos]. E também pareceu diferente de qualquer outro personagem que eu já interpretei”.
Para o ator, a série foi feita com muito respeito tanto ao livro como no filme originais:
“Há citações diretas do livro. Há um momento no episódio cinco que é uma espécie de réplica tomada a cena do filme original. E o que eu achei intrigante sobre isso foi tentar replicar o que Edward Fox fez, há um momento em que ele joga uma corda em volta de uma árvore e a amarra em um nó, e parece tão fácil. Tinha um poste construído do lado do meu trailer, onde eu passei meses tentando meio que lançar uma corda e pegá-la sem que parecesse tão refinado quanto o que ele fez. Você sabe, ele faz com que pareça fácil. Mas quando você tenta replicar, você percebe quanto esforço foi envolvido”.
O romance original de Frederick Forsyth leva em consideração os aspectos políticos da França naquele momento. A série também combina isso com o alvo do assassinato, que não está ligado à política:
“O que achei interessante sobre o filme e o livro originais foi que havia muito mais um senso binário de bem e mal. A gente tinha a sensação de que De Gaulle era o mocinho e que o Chacal, embora carismático, era o vilão. E eu sinto que o que Ronan Bennett fez na nova adaptação deixou de ser binário, deixando quase tudo dentro do mesmo espectro. Ao invés de ter um político como De Gaulle, temos a figura do UDC, esse multimilionário da tecnologia. O poder que ele exerce e suas capacidades políticas. Descobri que, embora nunca defina nada, Ronan está empurrando para algo que parece muito atual”.
Diferente do livro, o Chacal da série tem uma vida paralela normal, mas tem dificuldade de colocar tudo no mesmo nível. Para Eddie, o Chacal é profundamente apaixonado pela esposa e pelo filho:
“É uma das coisas que me atraiu sobre ele, algo quase sociopata. Ele tinha essa existência solitária que depende dele ser um lobo solitário. E acho que ele acreditava que essa era sua vida. Essa foi a escolha que ele fez, até que essa pessoa chegou em sua vida. É seu calcanhar de Aquiles pensar que, por um momento, ele era capaz de viver essas duas vidas diferentes sem que elas colidissem”.
Na série, o Chacal usa vários tipos de maquiagem para se disfarçar em outras pessoas, algo que Eddie fez em diversos outros trabalhos no cinema:
“Já trabalhei com próteses antes, mas nunca trabalhei nos extremos disso. Acho que a maquiagem é um ofício extraordinário que é subestimado. O que eu queria fazer com isso era não apenas ver as transformações, mas também explorar e nadar no processo. A equipe de maquiadores era formada por Mel van Tongeren e Richard Martin, um artista de próteses brilhante”.
Eddie continua explicando que o processo de maquiagem com próstese é lento:
“O rosto é escaneado e depois volta com uma escultura de poliestireno, uma escultura exata da sua cabeça. E na verdade, leva uma hora e meia para tirar essas próteses. É brutal para sua pele. São óleos. E você sabe, leva três horas e meia a quatro horas para colocar. E uma hora e meia para tirar. É claro que quando isso acontece na série, é ‘feito’ em 30 segundos em uma montagem, para mostrar como é o processo. Então, tanto fisicamente quanto metaforicamente, você vê a revelação dessa pessoa. Eu amo esse lado das coisas. É a coisa que eu diria que é mais difícil e é por isso que tenho tanto respeito por grandes performances de próteses”.
O Dia do Chacal foi filmado em vários países importantes da Europa. E para Eddie Redmayne, esse é o lado atrativo desse projeto:
“Não vou mentir, essa foi uma qualidade muito atraente [risos]. Filmamos na Hungria; na Áustria, em Viena; em Londres; na Croácia, em todos os lugares. E em alguns locais realmente magníficos. O processo de filmagem foi quase como um circo. Nós meio que pegávamos nossa banda e surgíamos no lugar. Mas sendo televisão também, havia um ritmo, o que significava que quase parecíamos fazer dois filmes ao mesmo tempo. Muitas vezes eu estava na Croácia com uma equipe e Lashana Lynch estava em Londres com outra equipe. E parecia uma operação séria. Boa parte da televisão que eu fiz há anos (Os Pilares da Terra e Birdsong), foi em Budapeste, na Hungria. Tenho memórias muito boas dessa experiência. Foi maravilhoso poder voltar. Eu amo Budapeste. Eu nunca tinha ido para a Croácia antes e eu achei isso muito bonito. Tem um lugar lá chamado Pag, que é uma ilha onde nós filmamos, que não se parece com nenhum lugar que eu já tenha estado. Parece que você está na lua e isso dobra para o Afeganistão na série, mas foi bem impressionante passar um tempo lá”.
Vale lembrar que a série O Dia do Chacal e a atuação de Eddie Redmayne receberão indicações para o próximo Globo de Ouro.
