CriCríticos esteve na coletiva de Um Homem Diferente com as presenças dos atores Sebastian Stan e Adam Pearson. Adam Pearson, ator com neurofibromatose, imprimiu a autenticidade necessária ao seu personagem, Oswald, à medida que questiona os padrões estéticos ditos convencionais em nossa sociedade.
E na história, Sebastian Stan vive Edward, um homem que, após uma cirurgia de reconstrução facial, enfrenta desafios inesperados enquanto se adapta a sua nova realidade. Seu caminho cruza com o de Oswald, um ator que atua em uma peça baseada na vida passada de Edward. Juntos, eles embarcam em uma jornada de autodescoberta, aceitação e intensos confrontos emocionais.
Acompanhe os destaques desse encontro a seguir. Em tempo: Sebastian Stan recebeu uma indicação ao Globo de Ouro 2025 na categoria de melhor ator em filme de comédia ou musical por sua atuação em Um Homem Diferente. Ainda foi indicado na categoria melhor ator drama por O Aprendiz. E também conquistou o Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Cinema de Berlim 2024. Um Homem Diferente também foi premiado como Melhor Filme no Gotham Awards de 2024.
Colaboração e conexão
Na coletiva, Adam Pearson refletiu sobre o processo de construção do seu personagem em Um Homem Diferente, destacando a importância da colaboração e da conexão entre ele e Sebastian Stan desde o início. Antes mesmo de começarem as filmagens em Nova York, ambos realizaram um call para uma conversa aberta e honesta. Durante esse encontro, compartilharam histórias pessoais, falaram sobre suas criações e discutiram como foram suas vidas enquanto cresciam. Para Adam, essas trocas foram fundamentais para identificar elementos que poderiam explorar e usar para criar uma conexão mais profunda como atores.

Ele acredita que, como ator, é essencial trazer elementos de si mesmo, incluindo suas próprias sombras, para Oswald. Isso, segundo Adam, torna o personagem mais relacionável, tanto para quem o interpreta quanto para o público: “Isso permite que você se conecte em um nível que o torna emocionalmente vulnerável consigo mesmo e também com seus colegas de elenco”, explicou, enfatizando ainda a importância da honestidade e da vulnerabilidade no processo criativo. Para ele, “a menos que estejamos dispostos a ser honestos e vulneráveis ao fazer filmes, não temos o direito de pedir ao público que faça o mesmo ao assisti-los”.
No início do processo, Adam e o restante do elenco tiveram várias conversas profundas e importantes que ajudaram a construir histórias de fundo, motivações e nuances sutis nos personagens. Essas discussões também foram essenciais para entender as dinâmicas e interações entre Edward e Oswald, permitindo que cada detalhe fosse explorado e desenvolvido de forma colaborativa e autêntica.
Sebastian Stan também falou sobre a responsabilidade e a pressão que sentiu ao assumir seu papel no filme, destacando o compromisso em fazer jus à história e ao personagem. Ele explicou que a parte envolvendo próteses e a interpretação de alguém com uma condição que ele mesmo não vivenciou foi uma fonte de inspiração, mas também de desafio: “Eu realmente queria me conectar com o Adam”.
Para isso, ele conversou com o roteirista e diretor Aaron Schimberg sobre a possibilidade de discutir com Adam Pearson sua experiência pessoal. Embora estivesse realizando sua própria pesquisa, Sebastian considerava essencial olhar para Adam e Aaron como guias: “Queria entender como poderia representar isso da melhor forma possível, como poderia estar à altura”, explicou.
Adam foi generoso ao compartilhar detalhes de sua experiência de vida, incluindo os desafios que enfrentou e suas motivações em relação ao filme. Sebastian descreveu essas conversas como extremamente úteis para compreender melhor o personagem. Além disso, ele destacou a importância de estabelecer uma conexão com Adam para garantir que pudessem trabalhar juntos de maneira colaborativa e autêntica, criando uma representação respeitosa e verdadeira.
Ferramenta poderosa
Ao comentar o aspecto cômico do filme, Sebastian Stan destacou como o humor pode ser uma ferramenta poderosa para processar tópicos difíceis, situações complicadas e sentimentos desconfortáveis. Ele elogiou Aaron Schimberg, roteirista e diretor do filme, pela habilidade em incorporar essa abordagem ao tom da história: “Aaron foi extremamente inteligente ao tentar encontrar o equilíbrio entre tragédia e comédia”, explicou ele.

Para Stan, essa combinação é uma das características que tornam o filme único. Embora a narrativa tenha momentos de partir o coração, o humor surge de maneira inesperada, refletindo como, muitas vezes, a comédia nasce da dor: “Você não consegue evitar também encontrar humor neles”, comentou. No entanto, Sebastian enfatizou que, como ator, nunca partiu do princípio de tentar ser engraçado ou de rir de alguma coisa: “Tudo se resumia ao compromisso com o que estava no roteiro e deixar isso falar por si só”.
Essa abordagem, segundo Sebastian, trouxe autenticidade ao filme, permitindo que o humor fluísse naturalmente das situações e das emoções dos personagens, sem forçar sua presença. Ele demonstrou como o equilíbrio entre tragédia e comédia foi essencial para a profundidade e o impacto da história.
Adam Pearson concordou com a reflexão de Sebastian Stan sobre o humor no filme, destacando como ele desempenha um papel crucial na narrativa: “É como aquela ideia de que dor somada ao tempo é igual a comédia”, comentou Adam, explicando que a criação de pequenos momentos de nuance permite ao público uma pausa, quase como um espaço para respirar. Esses momentos oferecem permissão para rir e colocam os espectadores à vontade por um breve período, antes que a tensão volte a crescer na cena seguinte.
Para Adam, a comédia, especialmente a comédia sombria, tem o poder de unir as pessoas. Ele acredita que dar ao público a permissão para rir e se sentir confortável foi essencial para a experiência do filme: “Estamos levando o público em uma jornada”, explicou. Segundo ele, é importante equilibrar momentos eufóricos com os momentos mais profundos e desesperadores que os personagens – e, consequentemente, o público – enfrentarão: “Caso contrário, o filme se torna apenas uma jornada de miséria absolutamente deprimente”, acrescentou.
Adam destacou que essa mistura de luz e sombra já estava no roteiro e que a forma como os atores se comprometeram com esses elementos foi fundamental para a recepção da história: “É o quanto conseguimos nos comprometer com isso que define como isso será recebido”, concluiu, reafirmando a importância de encontrar equilíbrio na narrativa para criar uma experiência emocionalmente rica e envolvente.
Processo de transformação
Sebastian Stan refletiu sobre o processo de transformação ao interpretar Edward, um personagem cuja construção foi profundamente influenciada pelo uso de próteses extensas. Ele explicou que passou um mês e meio pensando na história de fundo de Edward, explorando os motivos que moldaram sua personalidade. No entanto, foi apenas ao vestir as próteses, criadas por Mike Marino, que tudo se uniu: “Tudo que passei um mês e meio tentando pensar, sentir e elaborar se uniu quando usei as próteses”, afirmou.

A experiência de interagir com pessoas aleatórias em Nova York enquanto usava as próteses também teve um impacto significativo. Sebastian destacou como isso afetou sua postura, seu jeito de falar e até seu olhar. Ele mencionou que a visão limitada, enxergando por apenas um olho, alterou sua percepção de distância, criando uma sensação de ser puxado para dentro de si mesmo: “De repente, senti como se uma enorme gravidade me puxasse para dentro de mim mesmo”, explicou.
Esse processo trouxe descobertas profundas e transformadoras. Sebastian lembrou uma fala da mãe de Adam Pearson, dita em Berlim, que o marcou profundamente: “Sempre quis que alguém caminhasse no lugar dele por um dia”. Para Sebastian, essa experiência foi o mais próximo que ele poderia chegar dessa realidade. Ele descreveu a conscientização de como é sentir-se marginalizado, observado e julgado constantemente, algo que considerou um presente e uma lição inestimável. “Essa conscientização é algo que levarei para sempre, não importa o que aconteça”, concluiu.
Sem estereótipos, mais abertura
Adam Pearson refletiu sobre a abertura da indústria cinematográfica para representar a deficiência de maneira mais autêntica, sem recorrer a estereótipos. Ele reconheceu que, embora haja progresso, a trajetória histórica nesse aspecto tem sido problemática: “Historicamente, não fomos bem nesse aspecto”, afirmou, destacando os três estereótipos principais: a vítima, o vilão e o falso herói. Ele mencionou um exemplo emblemático de uma franquia que, apesar de avançar significativamente na representação de mulheres, ainda apresenta vilões desfigurados consecutivos, evidenciando uma contradição em sua abordagem.

Apesar disso, Adam acredita que a indústria está caminhando, lenta mas seguramente, na direção certa. Ele espera que o filme em que trabalhou ajude a manter essa conversa em andamento, incentivando escolhas de elenco mais corajosas e menos duvidosas: “Tenho visto uma mudança positiva e espero que ela continue por muito tempo”, comentou.
Para Adam, o verdadeiro marco de progresso será alcançado quando atores com deficiência puderem interpretar papéis em que a deficiência seja apenas um aspecto incidental, e não o motivo central de sua presença na narrativa: “É esse o lugar onde espero que possamos estar nos próximos anos”, afirmou, expressando otimismo sobre o futuro da representação no cinema.

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