Wicked: dos palcos para a telona com a mesma qualidade

Wicked: dos palcos para a telona com a mesma qualidade

O filme Wicked (Universal Pictures) alcançou um sucesso notável nas bilheterias desde sua estreia. No fim de semana de lançamento, o filme arrecadou US$ 114 milhões nos EUA, estabelecendo um novo recorde para a maior estreia de uma adaptação de Broadway para o cinema. Durante o feriado de Ação de Graças, manteve um desempenho forte, adicionando mais US$ 118,2 milhões. Internacionalmente, Wicked também teve um desempenho impressionante, contribuindo para um total global que consolida seu status como um grande sucesso.

A crítica especializada recebeu Wicked de forma amplamente positiva, com destaque para as performances de Cynthia Erivo e Ariana Grande. O filme foi descrito como uma obra-prima e uma visão absolutamente deslumbrante, com alguns críticos sugerindo que pode ser um forte candidato na próxima temporada de premiações. Wicked foi indicado ao Globo de Ouro nas categorias melhor comédia/musical e conquista cinematográfica e de bilheteria, e Cynthia Erivo indicada como melhor atriz em comédia/musical, e Ariana Grande como melhor atriz coadjuvante.

Claro, a direção de Jon M. Chu e o design de produção do filme também foram destacados como elementos excepcionais. Embora algumas análises apontem pequenas críticas, a recepção geral indica que Wicked conseguiu capturar tanto a grandiosidade da produção original da Broadway quanto as sutilezas necessárias para uma experiência cinematográfica envolvente.

Enquanto as indicações para o Oscar® não saem, CriCríticos publica os destaques da coletiva de imprensa de Wicked, com as presenças de Ariana Grande e Cynthia Erivo, entre outros. Elas falaram sobre a importância de cantar ao vivo, suas conexões emocionais com Glinda e Elphaba e os intensos regimes de treinamento físico e vocal, entre outros temas. Acompanhe.

Primeiros contatos com Oz

Ariana Grande e Cynthia Erivo começaram falando sobre seus primeiros contatos com as histórias de Wicked e O Mágico de Oz, memórias marcantes para ambas, cada uma de um jeito. Ariana revelou: “Eu sempre fui uma grande fã de O Mágico de Oz, mesmo quando era bem pequena. Nós duas amávamos esse filme desde muito novas. E me lembro de adorá-lo. Eu tinha um vestido de Dorothy que costumava usar. Estranhamente, eu o usava com uma máscara de Pânico, o que não faz muito sentido, mas enfim. Não agrega nada à história (risos)”. Cynthia complementou com humor: “Eu já vi essa foto (risos)”.

Ariana ainda destacou sua conexão com a performance de Judy Garland: “Eu costumava sentar na frente da TV e estudar a Judy Garland, como ela cantava e como ela segurava os braços. Sempre foi uma forma de escape para mim”.

Quando perguntada se sentia uma conexão com Dorothy como protagonista, sendo uma jovem tentando encontrar seu caminho no mundo, Ariana Grande garantiu que sim: “Ah, com certeza. Acho que essa é a beleza disso. Acho que O Mágico de Oz, a Dorothy e todos esses personagens maravilhosos têm sido um espaço seguro para muitas pessoas que se sentem sozinhas, diferentes, perdidas ou que estão procurando por amizades”.

Cynthia, por sua vez, relembrou sua infância com carinho em torno dessa história imortal e internacional: “O Mágico de Oz era como o filme de sábado que sempre assistíamos quando eu era mais nova. Acho que conheci a história por volta dos seis anos de idade. Eu amava a música. Sou uma fã apaixonada da Judy Garland há muito tempo. Ainda ouço o álbum ao vivo dela no Carnegie Hall, onde ela canta Somewhere Over the Rainbow. Acho que foi a última vez que ela cantou essa música, e é de partir o coração”.

Ela também destacou a importância de O Mágico Inesquecível (The Wiz, 1978) e sua conexão com a representação de Diana Ross: “E então veio O Mágico Inesquecível e a Diana Ross como Dorothy foi um daqueles momentos em que me senti realmente representada e conectei muito com isso também. Então, houve essa conexão estranha que aconteceu”.

Por fim, Cynthia falou sobre sua descoberta de Wicked: “Finalmente, cheguei a Wicked quando tinha cerca de 23 anos, na escola de teatro. Comecei a cantar as músicas a partir dos 20, sem nunca ter visto o espetáculo, durante três anos. Quando finalmente assisti ao show, já conhecia as músicas como a palma da minha mão e já tinha uma afinidade com o que elas significavam. Quando me sentei no teatro para assistir ao musical, já estava completamente apaixonada.

Soltando a voz ao vivo

Quando questionadas sobre como cantar ao vivo, em vez de utilizar faixas pré-gravadas, influenciou suas performances e proporcionou algo único à experiência, Cynthia Erivo e Ariana Grande compartilharam suas reflexões. Foi Cynthia quem começou: “Foi extremamente vantajoso para nós cantar ao vivo. Nós meio que sabíamos desde o início que faríamos isso. Somos cantoras, é o que amamos fazer. E isso nos permitiu nos aproximar mais da ação, das emoções que queríamos transmitir com esses personagens. Além disso, cantar ao vivo nos dá a capacidade de brincar. Quando você tem uma faixa pré-gravada, não dá para sair muito dos limites e, quando…”.

Ao que Ariana completou: “Nem improvisar ou surpreender uma à outra”. Cynthia concordou e lembrou que cantar ao vivo deu a elas a chance de realmente explorar a personagem, brincar um pouco mais com a música e até a oportunidade de se divertirem mais.

“E também nos conectar emocionalmente”, continuou Ariana, “acho que muitas dessas canções são emocionais demais para ficarem presas a uma faixa. Às vezes estávamos recuperando o fôlego, simplesmente abraçando uma à outra. Além disso, sentimos que tínhamos que fazer isso ao vivo em solidariedade às incríveis Elphabas e Glindas da Broadway, que fazem oito shows por semana. Se tivermos que gravar a música dezenas de vezes, faremos isso em solidariedade com nossas irmãs bruxas. Mas também porque o material exige isso, é muito emocional, muito espontâneo”.

Cynthia continuou analisando que seria uma desvantagem para as duas e para qualquer ouvinte não cantarem ao vivo. Até mesmo para suas “irmãs na Broadway”: “Não tentar fazer isso ao vivo seria como não se conectar com essa música dessa forma. Então, voltar ao começo e tentar de novo nunca foi um problema, foi uma alegria”.

O treinamento vocal e de dança para o filme foi uma jornada intensa e cheia de desafios, como relataram as duas entrevistadas. Cynthia descreveu a experiência de forma bem-humorada: “Éramos mulheres loucas. De verdade”. E Ariana concordou prontamente: “Éramos mesmo. Realmente éramos”.

Sobre a preparação vocal, Ariana explicou os desafios únicos que enfrentou: “Esse filme é fisicamente muito exigente de várias maneiras diferentes, e essa foi uma das partes gloriosas da experiência. Começando pelo treinamento vocal, para mim, esse é um estilo de canto completamente diferente do que costumo fazer. Na minha música pop ou no jeito que eu geralmente canto, eu uso muito mixing e belting, e a maioria está no meu registro de peito, eu diria. Até mesmo meus agudos, como os whistle notes, têm um tom completamente diferente, enquanto Glinda tem uma voz mais operística, bem clássica”.

Ela detalhou como precisou reeducar sua voz: “Embora minha extensão vocal sempre tenha sido alta, o estilo de canto exigiu muito re-treinamento. Comecei a treinar com meu técnico vocal, Eric Vetro, uns dois meses antes da minha primeira audição, porque queria estar pronta, caso precisasse. Eu não sabia o que me pediriam para cantar, e caso fosse No One Mourns the Wicked, queria estar preparada. Mas é um estilo muito diferente. Tudo, desde a minha voz falada até a minha voz cantada, mudou. Assim como qualquer outro músculo do corpo, a voz aprende novos hábitos com o treinamento e com o tempo. Para mim, o treinamento vocal foi o mais exigente. E para a Cynthia foi insano. Essa mulher foi absolutamente louca (risos)”.

Cynthia, por sua vez, compartilhou detalhes sobre sua rotina extenuante: “Foi insano. Era como acordar às 2 da manhã para cantar na esteira, fazer exercícios por duas horas e depois ir às 4 da manhã para passar entre duas horas e meia a quatro horas de maquiagem, dependendo do que estávamos fazendo, antes de começar no set. Parece uma loucura, mas me parecia algo normal de se fazer. Nunca questionei se faria ou não. Acho que, na época, nem pensei que era algo tão extremo. Mas agora, olhando para trás, vejo que era, mas eu amei”.

Ariana destacou a determinação de Cynthia: “Mas isso é o que ela já faz todos os dias, também. E até agora, ela não parou. Você continua cantando na esteira”. Cynthia confirmou com um sorriso: “Sim, continuo (risos). As músicas realmente exigem muito fisicamente de mim. E porque eu estava no ar durante a maior parte dessas músicas – acho que, exceto por I’m Not That Girl – , eu estava em cabos e usando um arnês na maioria das cenas musicais. Obviamente, em Defying Gravity, eu estava nos cabos o tempo todo”.

Ela ainda detalhou o desafio de cantar enquanto estava suspensa: “Eu precisava garantir que meu corpo estivesse preparado para cantar no ar, o que basicamente significa que não tinha chão sob mim. Eu estava em um arnês, usando um espartilho, girando. Tive que descobrir como posicionar minha voz, onde colocar o ar, como respirar e como alcançar as notas poderosas que precisava sem ter nada para me apoiar”.

A técnica vocal de Cynthia foi essencial nesse processo: “Tive uma técnica vocal incrível que trabalhava e treinava comigo, e estava no set o tempo todo para me ajustar enquanto eu estava no ar, repetindo isso várias vezes. Eu precisei encontrar um jeito diferente de usar minhas cordas vocais sem contar com a gravidade. Foi um desafio interessante, mas gostei muito. Quando funcionou, foi empolgante”.

Desafio à simplicidade

Os personagens Elphaba e Glinda, interpretados por Cynthia Erivo e Ariana Grande, possuem complexidade e camadas que desafiam a simplicidade. Ao falar sobre a conexão com Glinda, Ariana refletiu: “Acho que, em Glinda, o que mais ressoa comigo é o desejo dela de se tornar cada vez melhor. A relação dela com os habitantes de Oz também é algo interessante para mim. Parece um pouco semelhante à minha relação com meus fãs ao longo dos anos, navegando por essa linha específica e querendo sempre dar o meu melhor para eles, enquanto, em alguns momentos, meu coração também precisava de cura e amor. Acho que isso é algo que senti várias vezes na vida”.

Ela destacou ainda uma característica marcante da personagem: “Mas minha coisa favorita sobre Glinda é que, uma vez que sua ‘bolha’ é estourada ao conhecer a brilhante Elphaba, ela desenvolve esse desejo insaciável de se tornar melhor. Por muito tempo, ela acha que as coisas precisam ser de um determinado jeito, mas descobre que não precisam, e que o que realmente significa ser ‘boa’ está em constante mudança”.

Cynthia Erivo refletiu sobre sua conexão pessoal com Elphaba, revelando aspectos inesperados: “Acho que o que descobri – e talvez tenha me surpreendido – é que existem muitos pontos de conexão entre mim e Elphaba e as vidas que vivemos. A relação dela com o pai é complicada, diferente e difícil, assim como a minha. Ela é a irmã mais velha, assim como eu. E há essa relação maravilhosa e complicada de tentar dar espaço para sua irmã mais nova ser quem ela quer ser, enquanto você sabe que há atenção voltada para você, mas ainda assim tenta garantir que haja espaço para sua irmã mais nova. Eu entendo como é essa sensação”.

Ela também destacou um paralelo mais profundo: “Mas, em um contexto mais amplo, também sei como é ser uma outsider, saber como é ser diferente, ser a pessoa que está à margem. Ser uma mulher negra e queer interpretando essa mulher verde tem seus paralelos. Eu sei como é sentir que o mundo não foi necessariamente feito para você ou não cria espaço para você, e ter que lidar com isso. Mas também encontrar maneiras de aceitar isso para si mesma, aceitar quem você é por completo e usar isso como sua força”.

Por fim, Cynthia resumiu o impacto dessa conexão: “Acho que essas coisas combinadas realmente me tocaram, porque as vejo nela e as vejo em mim”.

Temas universais

A história de Elphaba e Glinda reflete temas universais de amizade, resiliência e conexão, algo que Cynthia Erivo acredita ser extremamente relevante para os dias de hoje. “Bem, acho que não poderia ser mais perfeito. Acho que chegamos no momento certo. É algo que todos nós precisamos desesperadamente: conexão, amizade, a capacidade de mudança, a capacidade de aceitar os outros e suas diferenças. Espero que isso ajude a ensinar coisas que talvez as pessoas não estivessem dispostas a aprender antes”, explicou Cynthia.

Ariana Grande complementou, destacando a atemporalidade da mensagem: “Sim. É um tema muito atual e, ao mesmo tempo, atemporal. Forças do mal tentando excluir certas pessoas, agrupar ou dividir sempre existiram. Mas a amizade, o amor e a família – seja por laços de sangue ou família escolhida –, essas amizades platônicas e esses amores profundos que encontramos uns nos outros e em nossas pessoas sempre foram o que nos ajuda a sobreviver a isso”.

Ela também enfatizou a força do amor e da amizade como elementos centrais: “E acho que, embora o momento não pudesse ser mais perfeito, essa também é uma mensagem que sempre foi verdadeira: sobrevivemos através do amor e da amizade”.

Cynthia Erivo compartilhou sua expectativa sobre o impacto do filme no público, desejando que ele inspire reflexão e empatia. “Espero isso para todos, tanto para Glindas quanto para Elphabas. Espero que as pessoas se vejam neste filme. Espero que elas tenham a oportunidade de celebrar suas amizades, suas diferenças e, se houver dificuldades dentro dessas amizades ou diferenças, que isso lhes dê permissão para ter conversas, mudar de ideia, abordar as coisas de maneira um pouco diferente, serem mais empáticas, mais abertas àqueles que não são exatamente como elas. Porque é muito provável que, de alguma forma, você encontre semelhanças”, disse Cynthia.

Ela ainda destacou a conexão entre os personagens e o público: “Se essas duas mulheres puderam se encontrar, se nós conseguimos nos encontrar, então acredito que é muito provável que milhares, e espero que milhões de pessoas, também consigam se encontrar”.

Ariana Grande resumiu a fala de Cynthia com admiração: “Isso é lindo”.

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