Foi-se o tempo em que os efeitos visuais eram mais importantes do que a história que algum roteirista pensou em levar para o cinema. De 2001 – Uma Odisseia no Espaço, feito em 1968, passando por Guerra nas Estrelas (1977), os efeitos visuais passaram do analógico para o digital, criando momentos fantásticos como em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), Tron – O Legado (2010) e nos diversos filmes com os super-heróis da Marvel.
Os efeitos especiais ajudam a contar uma história e não são o principal objeto da trama de um filme.
Os irmãos Jonathan e Christopher Nolan sabiam exatamente a história que queriam contar quando escreveram o filme Interestelar, em 2014. O filme mostra um futuro em que a Terra pode acabar após uma praga que gradativamente extermina as fontes de alimento do planeta.
O personagem principal é o ex-astronauta Cooper, interpretado por Matthew McConaughey, que virou fazendeiro para fazer a diferença na luta contra o extermínio. Não entrarei em detalhes da história, mas Cooper acaba sendo cooptado pelo que sobrou da NASA, o órgão americano que administra as atividades no espaço, para pilotar uma nave que pode salvar a humanidade de sua extinção.
Não entrarei em detalhes sobre a história porque, como diz um antigo provérbio klingon, de que a vingança é um prato que se serve frio, acompanhar a epopeia de Cooper e seus novos amigos astronautas é um prazer que não quero tirar de ninguém.
O que é importante na história é que Jonathan e Christopher decidiram que essa ficção científica tinha que ser a mais próxima da realidade atual possível, para mostrar ao público o que o ser humano é capaz de fazer. Tudo isso para deixar de lado a ladainha da falta de petróleo, da poluição do ar, do derretimento das calotas de gelo por causa do aquecimento global, do fim da camada de ozônio e de outras ideias temporais que já colocaram na cabeça dos mais incautos.
Para isso, eles contrataram como consultor o Prêmio Nobel de Física, o professor Kip Thorne. A única exigência de Thorne foi seguir o mais fiel possível à realidade científica que temos hoje, para deixar o filme o mais realista possível. Na verdade, a grande contribuição do professor Thorne foi insistir que um buraco negro, “personagem” central da trama do filme, não é um buraco convencional. Não cabe aqui explicar nada, porque, quando surge o momento, esse fenômeno espacial é apresentado como uma homenagem ao final de 2001, de Stanley Kubrick.
Felizmente, a parte do senso comum é o que me chamou a atenção no começo do filme, quando Cooper é chamado à escola de sua filha Murphy (interpretada jovem por Mackenzie Foy e depois adulta por Jessica Chastain). A professora fala que Murphy vive pensando em viagens espaciais, lembrando do Programa Apollo, que mandou um homem para a Lua.
Segundo a professora, os EUA nunca foram ao nosso satélite natural. Tudo foi forjado para incentivar a União Soviética a usar seus recursos numa corrida insana para a Lua e, assim, acabar sem dinheiro e sucumbir ao capitalismo americano. Ela afirma que a queda da URSS, no final dos anos 1980, comprova isso. Pior: diz que os novos livros de história dos EUA estão reescrevendo os acontecimentos, omitindo a corrida espacial.
É claro que o roteiro deve ter tirado essa ideia do comentário do famoso livro de Bill Kaysing, We Never Went to the Moon: America’s Thirty Billion Dollar Swindle (Nós Nunca Fomos à Lua: A Fraude Americana de 30 Bilhões de Dólares), publicado em 1976. Todo o teor do livro já foi refutado integralmente ao longo dos anos.
Voltando à história, Interestelar é um dos melhores filmes sobre a conquista do espaço, viagens a outras galáxias e a luta pela real sobrevivência. Não parece ficção, mas um passo em direção a uma futura realidade. Não de tragédias naturais “causadas” pelo homem, mas de viajar a lugares onde ninguém jamais esteve.
O pé na realidade torna o filme mais divertido e apaixonante. As cenas em que Cooper assiste às mensagens de Murphy, sem ter tido contato com ela por mais de 20 anos, são pura emoção. Ah, dá-lhe Teoria da Relatividade do professor Albert Einstein para mostrar que viajar por um buraco negro é algo muito delicado.
Aliás, mesmo não estando na mesma cena, temporalmente falando, a energia gerada pela relação pai e filha é superior à de um quasar, com certeza.
Se você já viu Interestelar na TV, vá ao cinema para apreciar um dos visuais mais icônicos já feitos para o cinema. Um visual que, mesmo com a ajuda dos computadores, é fundamental para deixar nossa imaginação fluir como água de um riacho doce viajando para o mar. Reestreia em 9/1/25, distribuído pela Warner Bros. Pictures.

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