O filme Maria Callas, dirigido por Pablo Larraín, é o capítulo final de sua trilogia sobre mulheres marcantes do século XX, sucedendo Jackie (2016) e Spencer (2021). Desta vez, o foco recai sobre a lendária soprano Maria Callas, interpretada por Angelina Jolie, explorando seus últimos dias na Paris dos anos 1970.
No período, Callas estava afastada dos palcos e um tanto abalada, física e emocionalmente. Contudo, cogitava uma retomada da carreira. Larraín transforma esse momento praticamente em um devaneio compartilhado com o espectador, levando-o a questionar o que é realidade e o que é fantasia.
Angelina Jolie não passou por mudanças físicas marcantes para viver a soprano, mas chama atenção sua entrega nas cenas de canto. Foram meses de preparação intensa em aulas de canto, focando especificamente em ópera. Tudo para que a dublagem labial fosse convincente. Parece que somente no final do filme a atriz solta sua própria voz, em uma cena impressionante, com veias saltando no pescoço e na têmpora.
O talento de Angelina segura o filme sozinho, reforçado por enquadramentos e uma estética caprichados. Ao lembrarmos de Garota, Interrompida (1999) vemos que a atriz consegue, mais uma vez, equilibrar vulnerabilidade e complexidade para dar vida a Callas. Nas cenas em que a personagem está com Aristóteles Onassis ou mesmo o presidente americano JFK é possível ver isso. Pontuadas ainda por texto esmerado e afiadíssimo.
Nessas horas me pergunto se as cinebiografias às vezes fazem jus à realidade dos fatos ou se apenas potencializam os cinebiografados conferindo-lhes frases cinemáticas marcantes. Seria a tal liberdade poética?
Se isso ocorreu, a responsabildiade é do roteiro de Steven Knight, que também assinou Spencer. Focar na reclusão e nas reflexões de Maria nos seus dias finais tentou explorar o mito Callas mais intimamente. O que, contudo, aproxima sua visão da faceta um tanto deprimida da soprano em final de vida. Deixando de lado a intensidade e a paixão que definiram sua arte. Decisões tomadas, cabe agora ao espectador julgar.

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