David Keith Lynch cresceu no interior do estado de Montana. Seus pais acreditavam que a melhor forma de educação era viajar pelo país para conhecer a história ao vivo. Foi assim que ele se matriculou na Academia de Belas Artes da Pensilvânia, onde decidiu que o cinema seria seu futuro.
Após escrever vários curtas, David Lynch, agora assumindo seu nome artístico definitivo, mudou-se para Los Angeles. Em meio às inúmeras fontes de inspiração na terra onde o cinema se consolidou, ele escreveu, produziu e dirigiu seu primeiro filme, o suspense surrealista Eraserhead, em 1977. O sucesso desse trabalho abriu várias possibilidades para sua carreira. George Lucas assistiu a Eraserhead e convidou Lynch para dirigir Star Wars: O Retorno de Jedi (1983). No entanto, ele recusou, acreditando que a visão de Lucas sobre a saga era muito pessoal.
Seu próximo trabalho foi um divisor de águas em sua carreira. Enquanto trabalhava como pedreiro, habilidade desenvolvida durante a juventude, recebeu uma proposta de Mel Brooks. Impressionado com Eraserhead, Brooks queria que David dirigisse O Homem Elefante, baseado na história real de John Merrick, que sofria de uma doença genética que deformava seu corpo ao longo do crescimento. O filme foi inspirado nos livros The Elephant Man: A Study in Human Dignity (1973), de Ashley Montagu, e The Elephant Man and Other Reminiscences (1923), de Sir Frederick Treves, médico interpretado por Sir Anthony Hopkins no longa.
A repercussão e o sucesso comercial de O Homem Elefante, que recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor direção para o jovem Lynch, impulsionaram sua carreira. Ele foi contratado pela De Laurentiis Entertainment Group para realizar dois filmes. O primeiro foi Duna (1984), baseado na obra homônima de Frank Herbert, uma ficção científica filosófica que fracassou nas bilheterias. No entanto, seu lançamento em VHS foi um sucesso sem precedentes no mercado emergente de entretenimento doméstico.
Devido aos resultados decepcionantes de bilheteria, Lynch renegociou seu contrato, resultando na produção de um roteiro original: Veludo Azul (1986). O filme, que rendeu a ele sua segunda indicação ao Oscar, explora o mistério em torno de uma orelha humana encontrada em uma cidade do interior. Reconhecido como um marco do cinema neo-noir, Veludo Azul é uma extensão contemporânea dos filmes de detetive dos anos 1940.
Na televisão, Lynch explorou os segredos das relações humanas em Twin Peaks. A série, que acompanha a investigação da morte de Laura Palmer na peculiar cidade de Twin Peaks, foi um sucesso ao mesclar técnicas forenses com elementos paranormais. Com 30 episódios, marcou a história da TV e recebeu 18 indicações ao Emmy, incluindo melhor direção e roteiro para Lynch. Em 1992, ele ampliou a história com o filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Em 2017, Lynch retornou à série com a minissérie especial Twin Peaks: O Retorno, composta por 18 episódios.
No cinema, Lynch continuou a impactar com obras que exploravam o brilho e a escuridão da humanidade. Entre seus filmes estão Coração Selvagem (1990), Estrada Perdida (1997), Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos (2006).
Lynch também criou uma série de episódios curtos chamada The Weather Report (2005), na qual apresentava boletins meteorológicos com bom humor. Segundo ele, sua criatividade era fruto de sua prática diária de meditação transcendental, iniciada em 1973.
Produtor, roteirista e cineasta, David Lynch faleceu nesta quinta-feira, conforme informado por sua família. Ele foi diagnosticado há alguns anos com enfisema pulmonar, consequência de décadas como fumante.
Deixa como legado imagens icônicas: John Merrick (John Hurt), em O Homem Elefante, gritando: “Eu não sou um elefante! Não sou um animal! Sou um ser humano! Sou um homem”; Sandy Williams (Laura Dern), em Veludo Azul: “Não sei se você é um detetive ou um pervertido”; e a grande pergunta de Twin Peaks: “Quem matou Laura Palmer?”. Para conhecer mais sobre David Lynch, assista a Duna e Veludo Azul, disponíveis no streaming Looke.

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