Crítica | Filme | Conclave

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Segundo o diário de Eban Ayers, secretário adjunto de imprensa dos EUA, durante a Conferência de Postdam, em 1945, Churchill comentou que o papa ficaria chateado com a situação dos poloneses. Em resposta, Stálin teria perguntado “quantas divisões tem o papa?”.

A pergunta faz sentido quando lembramos que o papa não tem mais sob sua autoridade os Estados Pontifícios, sua autoridade reduzida ao diminuto território do Vaticano e a Guarda Suíça, cujo uniforme colorido esconde militares altamente bem treinados, mas em pequeno número. O cargo, entretanto, está longe de ter pouca importância na geopolítica mundial.

Assim, a escolha de um novo papa atrai a atenção não apenas de católicos, mas de todo o mundo. O que explica a acalorada batalha interna que ocorre dentro da eleição, que o longa de Edward Berger procura revelar no que tem de mais tradicional e mais excitante, a luta pelo poder.

Adaptado por Peter Straughan a partir do livro de Robert Harris, Conclave começa com a morte do papa e as primeiras cerimônias que a cercam, a quebra do anel e o lacre dos aposentos. É o sinal de partida para um evento de regras estabelecidas, mas de desdobramentos que vão se mostrar inesperados e muito mais movimentados do que o público poderia imaginar. Alguns, é preciso dizer, um tanto exagerados e desnecessários.

Determina a regra que o cardeal decano conduza o conclave. Ironicamente, Thomas Lawrence, interpretado por Ralph Fiennes, passa por uma crise de fé, a ponto de pedir exoneração do cargo, o que foi negado pelo papa antes de morrer. O restante do elenco é igualmente de qualidade, incluindo Stanley Tucci com Bellini, o favorito da ala liberal e Sérgio Castellito como Tedesco, o candidato reacionário. John Lithgow é Tremblay, um conservador, enquanto Lucian Msamati é Adeyemi, o candidato que, se eleito, será o primeiro papa negro e africano. Já Carlos Diehz é Benitez, um cardeal apontado em segredo – in pectore – como arcebispo de Cabul. Ao lado deles, brilha também Isabella Rossellini como a irmã Agnes que, num dos vários momentos críticos, lembra que as irmãs recebem ordens para serem invisíveis, mas que apesar disso, ouvem e veem.

O enredo segue as maquinações e negociações que acontecem principalmente após a primeira votação, quando os candidatos mais fortes são definidos. É também quando elementos que podem influenciar a escolha começam a surgir. Fiennes é perfeito como o homem igualmente em crise pessoal e em meio ao turbilhão causado por esses homens que se engalfinham pelo poder, seja para si mesmos, seja para seu escolhido. Ainda mais interessante é perceber quanto poder o falecido papa detém em todo o processo de escolha de seu sucessor.

Poderíamos ficar sem os gritos de Tedesco, por demais barulhento e até ridículo em defender a missa em latim a essa altura da história mundial. Também não há uma boa explicação do porquê os cardeais ficam hospedados em quartos próximos aos aposentos do papa falecido. Mas o atormentado Lawrence de Fiennes, os closes no teto da Capela Sistina e imagens como a que mostra os cardeais com seus guarda-chuvas brancos valem a pena. Quanto ao escolhido, não é nenhuma surpresa. Conclace estreia em 23/1/25 distriuído pela Diamond Films.

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