Crítica | Filme | O Brutalista

Crítica | Filme | O Brutalista

Não se pode criticar uma obra pelo tempo que dura na tela. Um conhecido dirigente da área de exibição afirmou certa vez que é preciso desconfiar de filmes com menos de 80 minutos, pois estariam mais preocupados em esvaziar a sala para iniciar uma nova sessão do que em contar uma boa história. Pode ser uma visão reducionista, já que, ao longo da história do cinema, a duração sempre foi uma ferramenta para a narrativa. No entanto, isso também pode ser um desafio, pois o roteirista e o diretor precisam equilibrar o tempo de projeção com a densidade da história que querem contar.

Há filmes que, mesmo com uma duração convencional, parecem uma minissérie condensada em uma única sessão. Posso afirmar isso com propriedade, pois já assisti, em uma das edições da Mostra de Cinema de São Paulo, a minissérie Berlin Alexanderplatz, de Werner Fassbinder, com mais de dez horas de duração. Ah, a juventude cinéfila…

Ao entrar na sessão de O Brutalista, indicado ao Oscar, eu desconhecia totalmente seu tema. Apenas me perguntava, como sempre, por que tantos cineastas não conseguem contar uma história em menos de 120 minutos. Sabia apenas que o filme tinha 3 horas e 26 minutos, além de um intervalo de 15 minutos. A pergunta era: essa longa duração justificaria a narrativa?

É sempre fascinante descobrir um filme sem ter visto trailers ou lido sinopses. Em um mundo saturado de informações sobre lançamentos, é um privilégio entrar na sala escura sem expectativas pré-concebidas. Desde o Oscar de 2023, adotei essa abordagem com alguns indicados, como Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse, ambos descobertos quadro a quadro. O mesmo aconteceu com O Brutalista.

Quando vi Adrien Brody interpretando um refugiado húngaro chegando a Nova York no pós-Segunda Guerra, imediatamente lembrei de seu papel em O Pianista (2002), que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. Mas seu novo personagem, o arquiteto László Tóth, é muito diferente do pianista polonês. Desde os primeiros minutos, percebi que o título do filme não se referia apenas ao estilo arquitetônico, mas também à jornada pessoal de um homem que enfrentou dores, amores e ambições. Forçado a deixar sua esposa (Felicity Jones, de A Teoria de Tudo) na Europa para buscar uma nova vida na América, Tóth representa uma geração de imigrantes que moldaram a paisagem urbana do século XX.

O filme não é apenas sobre a trajetória de um arquiteto, mas sobre como sua arte ajudou a consolidar o brutalismo, movimento arquitetônico que floresceu entre as décadas de 1950 e 1970. Essa homenagem a um talento desconhecido do grande público é um dos pontos altos do longa. Guy Pearce, como um influente aliado de Tóth, também entrega uma atuação marcante.

Agora, a grande revelação: são 3 horas e 26 minutos que passam sem que se perceba! Isso se deve ao trabalho preciso do diretor Brady Corbet, que fez escolhas ousadas, como uma fotografia que remete a documentários dos anos 1950 e o uso de planos-sequência em momentos-chave, como a chegada do protagonista à Ilha Ellis e a visão da Estátua da Liberdade. Essas decisões tornam a história mais fluida e envolvente.

Brady Corbet, que iniciou a carreira como ator antes de se aventurar na direção, já havia demonstrado talento na minissérie Entre Estranhos, da Apple TV+. Com O Brutalista, ele prova sua habilidade em conduzir uma narrativa densa sem excessos. Junto à roteirista e produtora norueguesa Mona Fastvold, Corbet entrega um filme que, assim como o brutalismo, é sólido, impactante e sem adornos desnecessários.

O Brutalista entra para a lista de grandes produções com mais de três horas de duração, ao lado de Cleópatra (1963), com 4 horas e 8 minutos; E o Vento Levou (1939), com 3 horas e 46 minutos; Lawrence da Arábia (1962), com 3 horas e 42 minutos; e Os Dez Mandamentos (1956), com 3 horas e 40 minutos. Mais do que um épico cinematográfico, O Brutalista é uma obra-prima sobre a resiliência e o impacto da arquitetura na sociedade. Estreia em 20/2 distribuído pela Universal Pictures.

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