Uma constatação simples sobre filmes que retratam a vida de celebridades ou pessoas importantes da História: nunca são perfeitos! Sempre há algo que é deixado de lado em detrimento de uma narrativa dramática mais abrangente, para que a plateia se interesse pela história do personagem. Suas histórias, em relação à realidade, podem sofrer alterações para deixar o público mais fascinado com o personagem. Afinal, ele é real, não é?
É o caso de Rocketman (2019), uma cinebiografia do cantor Elton John. Por mais que tenha se adotado uma visão mais pé no chão sobre sua vida e carreira, o diretor Dexter Fletcher decidiu criar momentos de pura fantasia para, talvez, se diferenciar de Bohemian Rhapsody, que ele dirigiu um ano antes de Rocketman, mostrando a formação e o sucesso do grupo britânico Queen.
Quando assistimos a Um Completo Desconhecido, dirigido por James Mangold, temos a sensação de que parte da história mostrada no filme parece fantasia. Mangold já dirigiu o filme de super-herói Logan (2017), uma comédia de ação e romance com Tom Cruise e Cameron Diaz, Encontro Explosivo (2010), e a cinebiografia do cantor country Johnny Cash, Johnny & June (2005), estrelada por Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon. Ou seja, Mangold tem experiência para transformar uma história sobre uma futura celebridade em algo maior do que uma simples cinebiografia. Mas alguma coisa faltou no conjunto da obra.
Um Completo Desconhecido mostra como o jovem Bob Dylan chega a Nova York no começo dos anos 60 para tentar encontrar seu ídolo, o cantor e compositor de folk e country music Woody Guthrie (Scoot McNairy). Este, por sua vez, está longe dos holofotes e apagado do seu passado de sucesso. Dylan decidiu ser músico por causa de Woody, o compositor que resolveu cantar a verdadeira América em suas músicas. Ele já teve uma cinebiografia estrelada por David Carradine, Esta Terra É Minha Terra, lançada em 1976. O encontro com Woody leva Bob a cruzar o caminho de outro grande nome da música folk, Pete Seeger, interpretado brilhantemente por Edward Norton.
Conhecer essas pessoas, consagrados intelectuais da contracultura do Village de Nova York, é a base do que será a carreira de Dylan, com suas canções de protesto bem colocadas historicamente. Aos 19 anos, o completo desconhecido começa a ser visto como um nome importante para mostrar a outra face da sociedade americana, mergulhada em preconceitos e conflitos internacionais no Sudeste Asiático, lutas pelos direitos civis, Guerra Fria e a morte de grandes líderes como JFK e Martin Luther King.
Quanto mais o filme avança para mostrar a ascensão de Dylan, mais percebemos que Mangold quer ir além de sua carreira musical. Ele quer destacar como o artista, mesmo jovem, já possuía uma visão crítica da sociedade. O diretor explora o impacto cultural das músicas de Dylan e como ele se tornou porta-voz de uma geração, mesmo que, em vários momentos, ele próprio tenha rejeitado essa posição.
Em suma, Um Completo Desconhecido é uma cinebiografia que tenta equilibrar realidade e fantasia para contar a história de Bob Dylan. Embora não seja perfeita, ela oferece ao público um olhar interessante sobre os primeiros passos de um dos maiores nomes da música mundial. Estreia em 27/2 distribuído pela Searchlight Pictures.

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