Better Man é um digno exemplo das cinebiografias de astros da música, desta vez contando a história de Robbie Williams. Tem o começo da vida num lugar humilde, problemas com o pai, a gana pelo sucesso, o topo e a dificuldade em lidar com a idolatria, os sentimentos gerados por milhares de pessoas berrando seu nome durante os shows em oposição à vida real onde tal sensação não encontra paralelo. E, claro, sexo, drogas e os elementos básicos da autodestruição. A diferença em relação a outras histórias, como Rocketman (2019) ou Bohemian Rhapsody (2018) é ver Williams substituído pela imagem de um macaco “interpretado” por Jono Davies.
O próprio Williams explica a escolha a partir do sentimento de ser jogado no palco para atuar como um macaco amestrado em troca da aprovação do público. E é assim, substituído por um macaco em computação gráfica quase perfeita – o longa amealhou uma indicação ao Oscar de efeitos visuais – que acompanhamos sua história de menino da classe operária até o auge e a descoberta de que o sucesso não é tudo isso que dizem por aí. E nem vai resolver problemas de autoaceitação ou sentimentos de inferioridade e abandono.
Membro mais jovem e mais bocudo da boy band Take That, sucesso dos anos 1990, Williams conta sua própria história com foco na diferença entre como o público o vê e como ele mesmo se vê. O que inclui uma dose cavalar de síndrome de impostor personificada por momentos em que o cantor encara versões de si mesmo que o acusam de ser uma fraude, um cara que está no palco por motivos outros que não o talento. Entram em cena também o relacionamento com Nicole Appleton, membro do grupo All Saints e a importância de figuras familiares, por um lado a avó de amor incondicional, e por outro o pai que o abandonou na infância justamente em busca do palco.
Como narrador da própria história, Robbie Williams não esconde que poderia ter chegado ao ponto drogas do triunvirato sexo, drogas e rock n’roll por si mesmo. O que a carreira de artista fez foi lhe dar condições financeiras para chegar lá aos 21 anos. Mas, biografias aprovadas pelos biografados ou suas famílias, costumam ser simpáticas aos erros da pessoa retratada ou deixarem o pior de lado e essa certamente não deixa de escolher o que mostrar. Não vemos, por exemplo, o show em que Williams criticou um grupo que não estava em pé dançando só para descobrir que estava xingando os cadeirantes. Mas a sequência ao som de Come Undone, em que Williams acelera até bater contra um ônibus, mergulhando num mar de paparazzi é poderosa em retratar o inferno em que a vida pública pode se transformar.
E ter um macaco digital certamente ajuda o público a deixar de lado a comparação constante entre ator e biografado durante as cinebiografias. Mas fica o aviso aos próximos: é um truque que não pode ser repetido. Estreia em 13/3 distribuído pela Diamond Films.
