Quis o destino que este filme chegasse aos cinemas no momento em que a Coreia do Sul vive uma crise política que por pouco não se transformou num golpe de estado. Candidato do país ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira deste ano, 12.12: O Dia relata como aconteceu o golpe de dezembro de 1979 que se seguiu ao assassinato do presidente Park Chung-hee em 26 de outubro daquele ano.
Suspense político eficiente em manter a tensão, 12.12: O Dia segue a teia de eventos, alguns meticulosamente planejados, outros reações aos acontecimentos, da noite em que o general Chun Doo-hwan ordenou a prisão do general Jeong Seung-hwa, chefe de staff do exército, alegando o envolvimento do oficial no assassinato do presidente Park Chung Hee. A ordem sem autorização do presidente em exercício do país, Choi Kyu-hah, deu início a um confronto entre militares, com grupos leais à Chun enfrentando os aliados de Jeong em plena capital sul-coreana.
No filme, que em atenção à lei coreana alterou os nomes dos envolvidos e alerta que houve a inclusão de elementos narrativos, vemos o general Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min) liderando a insurreição. Mas não há dúvidas de que o personagem representa Chun Doo-hwan, militar que – e isso não é um spoiler – após o golpe assumiria o comando do país e no ano seguinte ordenaria a repressão violenta dos protestos por democracia em 18 de maio em Gwangju que resultaram na morte de mais de 150 pessoas, além de milhares de feridos e outros tantos presos.
Seu oposto é o general Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), comandante da guarnição de Seul que tenta conter a insurreição e que em um momento ameaça esmigalhar o crânio dos revoltosos com um tanque. Na vida real, o comando da capital era do general Jang Tae-wan que em seu diário relatou ter de fato ameaçado dessa forma os militares que ameaçavam a democracia no país.
O roteiro concentra o conflito nesses dois militares de atitudes diametralmente diferentes, mesmo não deixando de lado outros militares e elementos políticos em ação nos eventos. Violento, sedento de poder, temido por subordinados e colegas, Chun é também um bom analista, tanto da oportunidade quanto de seus comandados e dos demais militares. Lee é o comandante carismático e admirado por sua retidão e personalidade.
Ao longo da noite, acompanhamos os dois numa corrida desesperada por apoio, tarefa que exige atenção do público para dar conta da sequência de ameaças, subornos, ordens e contraordens. Nesse jogo, vemos também o papel da idade como marca de autoridade, um elemento intrínseco da sociedade coreana que muitas vezes interfere no cumprimento do dever, inativando ações que poderiam ter detido o desastre. Também contrário ao cumprimento do dever é a Hanahoe, sociedade secreta criada por Chun e cujos tentáculos se estendem por toda parte, com militares mais fiéis a ela do que ao país.
Perfeito no papel, Hwang Jung-min faz de Chun a combinação ideal de monstruosidade, inteligência e carisma. Igualmente bem escolhido, Jung Woo-sung tem o tom e a imponência física do herói que acaba se tornando por simplesmente defender a ordem. Uma fatia de história que o filme revela tanto nas cenas de confronto com tanques tomando as ruas como no uso adequado da tela dividida. Um thriller que é tanto entretenimento como uma tremenda lição de história. 12.12: O Dia estreia em 20/3 distribuído pela Sato Company.

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