Por motivos que envolvem o medo de arriscar e a ideia de que aproveitar sucessos estabelecidos vai garantir boas bilheterias, a Disney segue em seu plano de produzir versões live action – ou em CGI no caso do esquecível O Rei Leão – de seus desenhos animados. A estreia da vez é Branca de Neve, que chega após uma sequência de controvérsias – e antes de Lilo & Stich.
A discussão começou com a escalação de Rachel Ziegler, ótima cantora que após comprovar ser latina para assumir o papel de Maria do remake de West Side Story, foi escolhida para ser a princesa de pele branca como a neve. Em seguida, veio a crítica de Peter Dinklage, que elogiou a Disney por escalar uma latina como Branca de Neve, mas condenou o que classificou como história antiquada de sete anões vivendo numa caverna. Um dia após a publicação da entrevista com Dinklage, a Disney anunciou que os anões seriam substituídos por “criaturas mágicas”, o que gerou críticas da comunidade de atores com nanismo. O título também deixou de ser Branca de Neve e os Sete Anões para ser apenas Branca de Neve. A isso seguiu-se Ziegler chamando o príncipe da animação de “stalker” e o público fazendo piada sobre o espelho mágico dizer que Gal Gadot, escalada para ser a rainha má, não era a mulher mais bela do filme.
Para completar, Ziegler se colocou abertamente em defesa da Palestina, enquanto a israelense Gadot, obviamente, ficou do outro lado no conflito em Gaza. O clima esquentou e o relacionamento entre as duas atingiu temperaturas frígidas.
Em resumo, além de enfrentar o carinho e a memória que o público tem do clássico de 1937, longa que sobrevive ao tempo e é um marco histórico na técnica cinematográfica de animação, o projeto virou alvo primário do ódio popular e muita gente torceu para ser arquivado. O que, ao custo de US$270 milhões, seria tão impossível quanto agradar a todo mundo.
Algumas das polêmicas a produção escolheu encarar. O nome da princesa vem dela ter nascido durante uma nevasca e não da tez de sua pele. Filha de um casal de monarcas benevolentes, a menina cresce aprendendo que os governantes devem ser próximos do povo, algo que será essencial na conclusão da história, e ter o bem-estar de seus súditos em mente. A tragédia começa com a morte da mãe, seguida pela chegada de uma mulher que conquista o rei aparentando ser uma boa pessoa. Um dia, o monarca parte para defender o reino contra invasores e jamais retorna. A Rainha Má assume o comando, Branca de Neve cresce como prisioneira no castelo relegada ao trabalho doméstico e está pronto o cenário para seu despertar.
Mas se nos contos de fadas clássicos isso queria dizer a chegada da puberdade e encontrar o amor, a nova versão coloca a princesa em busca do que aconteceu com seu pai e da retomada do reino. O que elimina o príncipe e, por consequência, a linda canção “Someday my prince will come”.
Isso não quer dizer que o filme seja desprovido de romance. O despertar da princesa para o que acontece com seu reino vem com o encontro com Jonathan (Andrew Burnap), o charmoso líder de um grupo de ladrões, personagem mais próximo do interesse romântico de Enrolados (2010) do que dos distintos príncipes de outrora.
Já outros elementos do enredo original estão presentes. Branca de Neve é levada pelo caçador, foge pela floresta e tem a ajuda dos animais silvestres para chegar à casa das sete criaturas mágicas que têm os mesmos nomes dos anões da animação enquanto a Rainha Má consulta seu espelho mágico. A faxina na casa também acontece ao som de “Whistle while you work”, mas é agora um trabalho em grupo. As canções funcionam bem e não há dúvidas da qualidade da voz de Rachel Zegler. O filme, aliás, tem canções novas, embora o número cantado por Gadot pudesse ficar de fora.
O mesmo não se pode dizer do figurino. Por algum motivo, a figurinista Sandy Powell decidiu dar à Branca de Neve uma saia volumosa que não combina com sua posição de princesa relegada ao esquecimento e toma espaço demais nas cenas na floresta. Já os vestidos inspirados em vitrais da Rainha Má funcionam um pouco melhor. O CGI, especialmente dos animais tem a qualidade Disney. Mas, mesmo com Dunga tendo um momento inesperado que arranca suspiros pela sala de cinema, seria melhor ver os corajosos companheiros de Branca de Neve que na animação perseguiam a Rainha Má ao seu fim interpretados por atores.
Aliás, é perceptível o cuidado da produção em preencher todos os quadrados da tabela da diversidade com personagens de diversas etnias. Não à toa, o destaque do bando de Jonathan é um ator com nanismo. Mas o conflito se resolve com muita suavidade. Não há um sentimento poderoso de que o bem vence o mal.
Ainda assim, o filme surpreende. Não por ser uma joia que sobrevive ao tempo como o original, mas por não ser o completo desastre que se esperava. O filme estreia em 20/3 distribuído pela Disney.

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