Quando Caçada ao Outubro Vermelho foi lançado no cinema em 1990, o livro de Tom Clancy era um best-seller desde sua primeira publicação em 1984. Ele ainda abordava a lendária Guerra Fria entre as forças lideradas pelos Estados Unidos e os países da União Soviética, mas com um viés em que a tecnologia era um componente importante.
Essa mesma tecnologia criada nos livros de Clancy ajudou a modernizar as histórias de espionagem, tirando o foco do inimigo vermelho para outros inimigos do Estado, como terroristas vindos do Oriente Médio, oligarquias mafiosas e traficantes de drogas. Veja o que Identidade Bourne era no livro de Robert Ludlum, de 1980, para o filme estrelado por Matt Damon em 2002.
Essa é uma comparação inevitável ao assistir Operação Vingança, que chega aos cinemas em 10/4, distribuído pela 20th Century Studios. O filme é baseado no livro de Robert Littell, jornalista da Newsweek, que escreveu o best-seller em 1981, sobre um ataque terrorista em Londres, onde a esposa de um analista da CIA acaba sendo morta. O livro fez tanto sucesso que a Fox o adaptou para a telona no mesmo ano, mas não teve o retorno que o estúdio esperava.
Passados mais de quarenta anos, a 20th Century Studios (a Fox após a compra pela Disney) decidiu atualizar a história, trazendo para o século XXI toda a incerteza sobre como a tecnologia atual pode ser usada de forma inadequada para causar o caos.
No caso, conhecemos Charles Heller (Rami Malek), um analista da CIA, feliz no casamento com Sarah (Rachel Brosnahan), e que descobre uma situação complicada envolvendo o chefe de seu setor (Holt McCallany) e algumas missões secretas da Agência. Um fato que ele não pode nem discutir, devido a um acontecimento que vai mudar sua vida completamente.
Enquanto sua esposa estava visitando Londres, um grupo terrorista invadiu um hotel e fez várias pessoas de reféns, entre elas a própria Sarah. Tragicamente, ela é assassinada e o grupo consegue fugir. Transtornado com a notícia, Charles pede a seus chefes que o deixem ajudar nas investigações. A recusa do pedido faz com que ele decida caçar, ele próprio, os assassinos da esposa.
E aí é o momento em que o filme traz uma visão diferente do que seria o homem que decide partir para uma vingança pessoal. Charles não é Bryan Mills, personagem vivido por Liam Neeson em Busca Implacável (2008). Ao contrário, Charles nem sabe usar uma arma ou artes marciais. O que ele tem de especial para enfrentar esses inimigos é a inteligência de quem tem um QI de 170. Munido de informações sobre o grupo terrorista, Charles começa sua jornada, que não é nem de longe a tradicional jornada do herói. É a jornada de um homem determinado a fazer justiça com as próprias mãos.
Por isso, não se iluda após ver o trailer de Operação Vingança. Lá estão vários momentos importantes do filme, mas que nem arranham a trama principal, que você vai descobrindo a cada nova cena. Como o encontro com a agente adormecida, interpretada pela fantástica Caitríona Balfe, da série Outlander – A Viajante do Tempo. Além de cheio de referências ao teatro da espionagem, há uma cena que mostra a solidão como forma de proteção de agentes isolados em suas missões.
A cena da piscina é, sem dúvida, uma das mais criativas do filme. Mas nada é melhor do que a forma como a mente de Charles articula para conseguir chegar até o homem responsável pela morte de Sarah, Sean Schiller, interpretado por Michael Stuhlbarg. O confronto entre os dois passa longe de confrontos similares, como os de Duro de Matar e Busca Implacável. O que acontece na cena entre os dois é um momento raro do cinema.
Rami Malek deixou de lado os maneirismos do vilão que fez no último filme de 007 com Daniel Craig e interpreta um homem comum com sangue nos olhos, sem perder totalmente sua alma. Cada momento que o aproxima de seu principal alvo mostra como sua atuação é uma das bases da história.
Operação Vingança não é uma obra-prima do gênero, mas abre caminho para outras histórias que revelam o lado sujo do que foi a Guerra Fria e o que aconteceu com aqueles que permaneceram no poder dentro das agências de inteligência. Especialmente aqueles que achavam que ficariam impunes em tempos de redes sociais.
