A Disney e a BBC anunciaram para 12 de abril a estreia de novos episódios de Doctor Who na plataforma Disney+. Os oito episódios da nova temporada serão disponibilizados semanalmente. Ou seja, se você é do tipo maratonista, terá de esperar dois meses para assistir a todos os episódios de uma vez.
Entre as novidades da temporada está a participação especial de Alan Cumming (The Good Wife) como Sr. Ring-a-Ding. O personagem é uma criatura alegre que vive em Sunny Town com sua amiga Sunshine Sally. Mas, em 1952, após anos de reprises nos cinemas, o personagem de animação olha para fora das telas e vê o mundo real, com sérias e assustadoras consequências.
Os novos episódios vão também mostrar o encontro do Doutor com Belinda Chandra (Varada Sethu) e a viagem para levá-la de volta à Terra combatendo uma força misteriosa que tenta impedir a tarefa.
Confusão nas contas
O anúncio da Disney, entretanto, confundiu os fãs. Isso porque a empresa informou que esta será a estreia da segunda temporada. Uma ideia estranha considerando que Doctor Who é um dos maiores clássicos da TV que estreou na BBC em 23 de novembro de 1963.
Uma das explicações é que esta será a segunda temporada da série desde que a Disney Branded Television passou a ter uma participação na produção de Doctor Who, ao lado da BBC Studios e Bad Wolf. Esta será também a segunda temporada com Ncuti Gatwa (Sex Education) no papel de Doutor. Para os não iniciados, é como ser o atual 007.
Mas, pode ser também que a Disney não queira assustar o público. Afinal, poucos – se é que existe alguém – entre as pessoas que não conhecem Doctor Who teriam coragem de assistir a nova temporada se soubessem que antes dela há 884 episódios. Ou uma maratona de 18 dias, 10 horas e 52 minutos estrelada por dezesseis atores diferentes interpretando o mesmo personagem.
Como diria outro icônico doutor, no entanto, não tema, com um pequeno guia, não há problema.

Doctor Who para iniciantes
Doctor Who é uma série de aventura protagonizada pelo Doutor, um alienígena do planeta Galifrey capaz de viajar pelo tempo e pelo espaço. Para isso, o Doutor usa uma nave cheia de recursos chamada TARDIS, abreviação de Time and Relative Dimension in Space, ou tempo e dimensão relativa no espaço.
Enorme por dentro, a Tardis é pequena quando vista de fora pelos habitantes da Terra, onde ela aparece camuflada como uma cabine telefônica azul. Assim como as cabines vermelhas que se tornaram ícones britânicos, as cabines azuis eram comuns no Reino Unido quando Doctor Who estreou e serviam para os policiais contatarem a delegacia, fazerem relatórios e para guardar kits de primeiros socorros e extintores de incêndio.
Graças à Tardis, as aventuras do Doutor podem acontecer em qualquer tempo ou lugar, o que permite encontros com personagens históricos como Charles Dickens, Shakespeare ou Agatha Christie. Churchill, a rainha Vitória e Nixon também já tiveram participação na série. Outros, como Gengis Khan e Janis Joplin foram apenas citados como velhos conhecidos do Doutor.
Mas, como nem tudo é festa, o Doutor enfrenta também poderosos inimigos. Entre eles, os Daleks, seres mecânicos que parecem ter um desentupidor de pia espetado na armadura. Longe de serem engraçados, eles são responsáveis pela destruição do planeta Galifrey.
A lista do mal inclui ainda The Master, outro cidadão de Galifrey cujo objetivo é dominar o universo e destruir o Doutor, os Cybermen, fruto de um planeta em que os habitantes trocaram seus órgãos por partes mecânicas até sobrar somente o cérebro, o apavorante Silence e os ainda mais assustadores Weeping Angels, matadores que parecem estátuas de anjos, entre outros.
A necessidade é a mãe da invenção. Ou, como trocar o ator principal sem perder público!
Doctor Who não tem um criador como os irmãos Duffer são para Stranger Things ou George Lucas para Star Wars. A série nasceu de uma decisão corporativa do gestor da BBC Television, Donald Baverstock, que identificou a necessidade de uma série para as tardes de sábado e decidiu que a melhor opção seria um programa de aventura e ficção científica para crianças e suas famílias. A gestão do projeto foi dada a Sydney Newman, que comandou uma equipe de produção e roteiro.
Pronto o roteiro, o ator William Hartnell foi escalado para ser o Doutor, que surge com a Tardis no número 76 da Toter´s Lane. É quando dois professores preocupados seguem uma aluna e acabam sequestrados pelo Doutor, também conhecido como o Senhor do Tempo. Os dois serão os primeiros Companions, parceiros de aventuras do personagem.
Em 1966, entretanto, problemas de saúde obrigaram Hartnell a deixar a série. Para substituí-lo, a produção inseriu a ideia de regeneração, em que o Doutor troca de corpo, permitindo que outro ator assuma o personagem. Desde então, os whovians, como são chamados os fãs da série, se despedem de cada ator que interpreta o personagem comemorando a regeneração em um novo intérprete que dá seu toque pessoal ao Senhor do Tempo.
Originalmente, a mitologia da série dizia que o Doutor poderia se regenerar apenas até sua 12a vida. Mas, esse limite já foi ultrapassado. A “segunda temporada” acompanha as aventuras do 15º Doutor.
Morte e renascimento
Infelizmente, a regeneração não foi suficiente para manter a série no ar e Doctor Who foi cancelada em 1989, após 695 episódios. A história seguiu em quadrinhos, livros e programas de rádio, até que, em 2005, a BBC entrou em ação novamente e decidiu trazer a série de volta. O projeto de renascimento foi entregue a Russell T. Davies, que aprofundou a carga emocional do personagem e renovou o visual.
A nova fase começa com Christopher Eccleston, que assume como o 9º Doutor na série que definitivamente abandona sua raiz de programa direcionado ao público infantil. Não é uma mudança indolor, e não faltam acusações de que a série se tornou complexa ou assustadora demais, o que é bem verdade. Ao contrário da produção americana frequentemente apoiada em heróis, a série britânica tem um protagonista contraditório e moralmente complexo. Ele pode ser gentil, como quando traz Van Gogh ao presente e mostra ao torturado artista que um dia ele será reverenciado e amado, ou causar a erupção do Vesúvio que matou a população de Pompeia. Se uma vida humana tem momentos de dúvida, a vida de um Doutor capaz de viajar pelo tempo e espaço, e de regenerar-se experimentando a vida em corpos diversos é ainda mais repleta deles. Não à toa, a série tem entre seus roteiristas o anárquico Douglas Adams, criador de O Guia do Mochileiro das Galáxias.
O mistério dos episódios perdidos
Hoje seria impensável apagar um episódio de Doctor Who. Nos anos 1960 e 1970, no entanto, a prática era descartar filmes antigos e dezenas de episódios da série foram parar no lixo.
Mas o cenário mudou e a busca pelos episódios perdidos se tornou uma tarefa importante para os whovians e a BBC. Muitos foram localizados nos arquivos do próprio estúdio ou de emissoras de países como Canadá, Nova Zelândia, Nigéria e Hong Kong.
Muitos, entretanto, seguem perdidos. Ou quase. Em 2023, o jornal The Guardian noticiou que dois raros episódios de Doctor Who haviam sido localizados nas mãos de particulares que salvaram estes e outros programas dos cestos de descarte da BBC. O problema é que, mesmo estando no lixo, os filmes ainda eram propriedade da empresa e essas pessoas, em grande parte ex-funcionários da BBC, temem ser processados por estarem com o material. Para resolver a questão, esses particulares pedem que a BBC anuncie uma anistia a qualquer um que esteja com material antigo da emissora.
Até lá, os episódios seguem perdidos.

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