Você pode até procurar, dizer que já ouviu algo parecido antes. Mas nada soa como Lifetime, o novo álbum da dinamarquesa Erika de Casier. Aqui, ela parece costurar tudo o que já havia experimentado em projetos anteriores, mas sem se prender a nada deles. É um turbilhão de pop eletrônico temperamental, com ecos de trip hop, R&B estelar e letras que flutuam no ar.
Como tudo o que ela faz, é profundamente atmosférico. A diferença está, no entanto, na forma como ela dosa seus elementos — afastando-se do tom gélido de álbuns anteriores, marcados por uma placidez quase ensaiada. Aqui, é o completo oposto: Erika se entrega, e nos arrasta junto. O que antes era frio, agora é quente — tudo revestido por um filtro sépia.
Seus vocais como entidades vivas
É por isso que, quando “Season” começa, somos surpreendidos pelo rangido do atrito entre os instrumentais, como a engrenagem de uma máquina que vira música. Seu tema traduz exatamente o que Erika propõe ao longo do álbum: um desapego rumo à maturidade, um afastamento de si e do passado — agora visto com paixão e distância.
Em outros momentos, Erika deixa evidente o amor no meio desse processo, como em “December”. E seus vocais brilham como nunca: parecem entidades vivas, que sustentam a música que ela cria — transformando essa entrega em um motivo de vida, em uma celebração do tanto que Erika tem a dizer, e diz como nunca antes havia feito.
