Crítica | Filme | Detetive Chinatown: O Mistério de 1900

Crítica | Filme | Detetive Chinatown: O Mistério de 1900

O pôster de Detetive Chinatown sugere uma comédia simples com uma dupla típica água e óleo formada por um rapaz chinês e um nativo americano.

Nada é mais enganoso.

Para começar, o nativo está longe de ser americano e o longa é uma prequel da franquia Detetive Chinatown, já com três longas (o segundo lançado aqui como Um Detetive em Chinatown) e uma websérie. Então, vemos Qin Fu (Haoran Liu) e Gui (Baoquiang Wang) de volta como uma dupla de investigadores disposta a solucionar um crime, porém numa época anterior ao restante da série.

O ano é 1900, a cidade, São Francisco, lar de uma vibrante Chinatown, mas também de uma competição real entre chineses e irlandeses por oportunidade e emprego na América. Os dois grupos trabalharam na construção da Ferrovia Transcontinental, os chineses sob contrato da Central Pacific Company indo para o leste, enquanto os irlandeses da Union Pacific seguiam rumo a oeste, com as duas pontas da ferrovia se encontrando em 10 de maio de 1869. Uma foto, que tem papel importante no filme, eternizou o momento em que as duas locomotivas se encontraram, estabelecendo a comunicação ponta a ponta dos Estados Unidos.

Mescla de comédia, ação e mistério, o longa começa quando o filho do empresário chinês Bai Xuanling (Chow Yun-fat de O Tigre e o Dragão) é acusado de matar Alice, a filha do senador Grant (John Cusack). Entra em cena Qin Fu, até então intérprete do grande detetive Sherlock Holmes, que recebe a tarefa de investigar o crime e limpar o nome do acusado. A história se torna mais complexa porque na mesma noite e local, houve outro assassinato. A vítima, um nativo americano, cujo filho, Gui – na verdade, um garoto chinês adotado após a morte dos pais – jura vingança e se junta a Qin Fu na busca pelo real assassino.

É preciso um pouco de atenção para seguir o ritmo da dupla a partir do momento que Qin Fu despenca de uma janela vestindo apenas as cuecas e cai em cima de Gui, cena com direito a câmera lenta e jeitão de romance. Há brigas de todo tipo com a gangue irlandesa e com guardas chineses enviados pela imperatriz para capturar rebeldes na América, todas devidamente pinceladas com atores erguidos com fios como é normal nas lutas em produções chinesas. Gui é ainda capaz de ganhar poderes como super força e velocidade quando mastiga algumas folhas, o que, infelizmente, não pode fazer sempre que é necessário. Não falta sequer uma tradicional cena de perseguição pelas ruas de São Francisco com carroças e carros do início do século que imediatamente lembra tantos filmes com carros velozes riscando as ladeiras da cidade.

Vários momentos são de fato divertidos como sugere a imagem do pôster, e o tom é em geral positivo e animado, mas um bom espaço é dado à luta dos imigrantes chineses e o preconceito, cristalizado na Lei de Exclusão, que impediu a imigração e até mesmo a reentrada nos Estados Unidos para quem decidisse visitar a terra natal. Essa é a parte que cabe a Chow Yun-fat, perfeito como o imigrante que venceu, defende seus compatriotas e enviou o filho para estudar na Europa como qualquer outro milionário americano o faria. É também uma mudança de tom que ocupa a parte final do longa, deixando de lado a comédia para investir fundo na mensagem de quanto os chineses colaboraram com o crescimento americano. E que o país, que em 1900 estava sob o domínio de forças estrangeiras, será um dia poderoso, o que testemunhamos hoje. Para completar, os créditos finais são ilustrados com imagens mostrando a evolução da comunidade chinesa na América. E o que prometia ser apenas uma comédia cheia de absurdos soa bem diferente na última cena. Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 estreia em 15/5 distribuído pela Sato.

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