Nunca fui um leitor das obras de Michael Crichton. Só o conhecia quando seu nome aparecia nos créditos de abertura de filmes como O Enigma de Andrômeda (1971), O Homem Terminal (1974) e Westworld – Onde Ninguém Tem Alma (1973). Todos esses filmes apresentavam conceitos de ficção fundamentados em ciência, já que Crichton era médico de formação.
Desses três, foi Westworld que me levou a conhecer o estilo do autor ao lidar com situações hipotéticas criadas pela ficção científica. Uma contaminação por um vírus vindo do espaço, como em O Enigma de Andrômeda. A instalação de um dispositivo eletrônico para controlar impulsos no cérebro de um homem com epilepsia, em O Homem Terminal. Nada é mais fascinante do que um parque de diversões para adultos, “habitado” por robôs, quando um erro de programação os transforma em máquinas assassinas. De humanos, claro.
Sabe aquela frase da Lei de Murphy que indica que, quando tudo está ocorrendo na mais perfeita ordem, é provável que o caos esteja próximo? Algo que passou pela cabeça do engenheiro que construiu o Titanic antes da catástrofe total. É isso que se extrai de O Parque dos Dinossauros, livro que Michael Crichton escreveu em 1990 e que seu amigo Steven Spielberg transformou num bilionário sucesso em 1993, com o título dado pelos gênios do marketing brasileiro da distribuidora do filme: Jurassic Park.
Crichton introduzia avanços tecnológicos no parque criado por um milionário visionário, como a clonagem de dinossauros. Não vou entrar nos detalhes técnicos, que estão muito claros tanto no livro quanto no filme de Spielberg. A grande sacada da obra é algo que o autor já havia imaginado em Westworld, aliás, dirigido por ele mesmo para a MGM: não existe controle total. Num piscar de olhos, tudo pode se tornar mortalmente incontrolável.
É exatamente isso que vemos nos primeiros minutos do mais recente filme dessa franquia dinossáurica: um erro idiota de uma pessoa atrapalhada libera uma força presa há milhões de anos. Assim começa Jurassic World: Recomeço, filme dirigido com competência e energia por Gareth Edwards, responsável por um dos mais criativos filmes de criaturas gigantes: o independente Monsters, lançado em 2010.
Esse filme recebeu elogios e prêmios internacionais, o que levou Edwards a dirigir a nova versão de Godzilla (2014), que inaugurou o Monsterverse. Gareth também assinou a direção do mais eficiente filme da franquia Star Wars neste século: Rogue One – Uma História Star Wars. Para assumir uma franquia que tem Steven Spielberg como criador e produtor desse universo imaginado por Michael Crichton, Edwards trilhou o caminho da homenagem, aliada a uma boa história.
O roteiro foi desenvolvido por David Koepp, o mesmo que adaptou O Parque dos Dinossauros para o cinema em 1993. A história se passa mais de uma década após o retumbante fracasso do parque temático mais ousado do mundo (Jurassic World, de 2015). Muitos dos animais criados geneticamente pelos cientistas da InGen, a corporação multinacional responsável pela pesquisa genética com dinossauros, foram transferidos para uma outra ilha próxima ao Jurassic World.
Lembra do erro idiota que pôs tudo a perder? É esse o ponto de partida do filme, que se conecta a um emocionante desfecho. Na região proibida à presença humana, para não prejudicar a sobrevivência dos dinossauros, um grupo de mercenários da InGen recebe a missão quase impossível de extrair sangue de três espécies de dinossauros gigantes, essencial para a indústria farmacêutica.
Se você viu o trailer de Jurassic World: Recomeço, já sabe mais ou menos o que esperar. Em parte, sim. Cenas de tirar o fôlego com criaturas que o tempo esqueceu, mas que a dupla Spielberg e Crichton trouxe para o cinema. O filme, contudo, vai além: presta homenagens aos longas anteriores, com referências à clássica história de um grupo tentando sobreviver em um ambiente hostil, feito para seres de milhões de anos atrás.
Há até uma homenagem sutil ao primeiro grande sucesso de Steven Spielberg, Tubarão, que completa 50 anos desde sua estreia. Tudo isso é apresentado ao lado de um grupo de personagens que sabe que sobreviver será um verdadeiro milagre. Nem preciso dizer que o elenco, por menor que seja a participação, tem presença marcante em cenas que causam tensão e até muito medo.
Um dos momentos mais marcantes, na minha modesta opinião, não envolve ataques ou confrontos com velociraptores, tiranossauros ou descendentes de Moby Dick. É o poético encontro de um casal de titanossauros, trocando carinhos sobre uma bela planície ladeada por rochas e vegetação. Com a trilha sonora de Alexandre Desplat, que se funde à criação original de John Williams, temos um momento de beleza quase perfeita.
Jurassic World: Recomeço é isso: uma fusão de belas imagens com referências poéticas e históricas, uma aventura imersa em ficção científica, com sustos e drama na medida certa. Há até uma cena comovente, em que um brontossauro morre em Manhattan, deslocado no tempo e lugar. Um filme em que a emoção, acima de tudo, vale tanto quanto a própria história contada. Estreia em 3/7 distribuído pela Universal Pictures.

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