Iracema – Uma Transa Amazônica, o clássico de 1976 dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna, retorna aos cinemas em versão restaurada em 4K, 50 anos após sua estreia. Protagonizado por Edna de Cássia, o filme ressurge não apenas como uma obra cinematográfica de valor estético, mas também como um importante documento histórico, um olhar crítico sobre os efeitos devastadores da Transamazônica e do projeto de “desenvolvimento” imposto pelo regime militar.

E atual, muito atual. Por efeitos devastadores, entenda-se desflorestamento ilegal, exploração de menores, violação de direitos indígenas, etc. Bandeiras da administração federal de Jair Bolsonaro, dentre outros. E sempre com apoio militar, claro.

Mesclando documentário e ficção, o filme retrata o encontro entre um caminhoneiro (Paulo César Peréio)  e Iracema, uma jovem indígena que vive à margem da rodovia. O caminhoneiro, encantado pela promessa de progresso associada à construção da Transamazônica, aos poucos percebe que, por trás dessa fachada de “milagre econômico”, há um cenário de exploração, desmatamento e violações dos direitos humanos. Captado em 16mm.

O grande mérito do filme é justamente a sua capacidade de transformar um retrato da realidade em uma reflexão profunda sobre o preço do desenvolvimento. Em uma época onde o regime militar buscava silenciar as críticas ao seu projeto de crescimento, o filme não apenas documenta a destruição da natureza, mas também denuncia a exploração sexual, a grilagem de terras e o desrespeito às comunidades indígenas. A restauração em 4K dá uma nova vida ao filme, permitindo que sua estética crua e impactante ressoe ainda mais forte, ampliando seu valor como obra de arte e de resistência.

Com sua narrativa que mistura a ficção com o testemunho real, Iracema – Uma Transa Amazônica é uma obra atemporal, que transcende seu contexto histórico para dialogar com as questões ambientais e sociais atuais. A restauração do filme traz à tona a força do seu conteúdo, ao mesmo tempo em que reforça a importância de sua preservação para as futuras gerações.

Considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), o filme coleciona prêmios e continua a ser referência no cinema nacional. Ao retornar às salas de cinema, Iracema – Uma Transa Amazônica oferece uma experiência única, não só pela importância histórica, mas também pela sua relevância contínua, como um grito de alerta sobre os danos causados por um modelo de desenvolvimento que, até hoje, segue sendo debatido e contestado.

Iracema – Uma Transa Amazônica estreia em 24/7 distribuído pela Gullane+.