Três pessoas, incluindo um funcionário de uma empresa aérea, foram indiciados na Coreia do Sul por vender informações confidenciais sobre viagens de artistas, incluindo o grupo BTS.

A investigação foi feita pela unidade de crimes cibernéticos da polícia de Seul sob as regras da lei coreana de proteção de dados. Segundo o processo encaminhado ao judiciário local, o tripulante estrangeiro obtinha os dados de voos de pessoas famosas e passava aos cúmplices, que vendiam as informações em plataformas online.

A Hybe Entertainment, empresa responsável pelos grupos BTS, Seventeen, TXT e Enhypen, entre outros, auxiliou as investigações. A agência de talentos criou um grupo dedicado a investigar o vazamento de informações de seus artistas em 2023. O grupo monitorou grupos e contas que participavam da comercialização de dados e passou as informações à polícia, levando à prisão do tripulante estrangeiro em fevereiro e de mais dois suspeitos em março.

O nome do terror: Sasaeng

Fãs obsessivos não são novidade no mundo do entretenimento mundial. Stephen King usou o assunto como tema de Misery – Louca Obsessão, história em que uma fã sequestra seu autor favorito.

Mas a ação das sasaengs, como são conhecidas as fãs obsessivas coreanas – embora sua existência e ação não se limite à Coreia, com homens e mulheres da China e Japão também envolvidos em casos de interesse abusivo por artistas – extrapolam qualquer noção de limite, comportando-se de forma agressiva e invadindo a privacidade dos artistas. A ação também inclui pessoas de outros continentes. Em 2020, um alemão foi preso por perseguir a cantora Nayeon, membro do Twice, grupo que participa da trilha sonora do sucesso KPop Demon Hunters, recém-lançado na Netflix.

É comum que idols recebam ligações durante lives, uma prova de que a sasaeng conseguiu o número do artista. Um idol relatou ter recebido uma ligação enquanto ainda estava na loja de celulares após trocar de aparelho e número. Em 2023, uma sasaeng invadiu a casa da família de Haechan, membro do grupo NCT. Em 2024, um localizador foi encontrado no carro do grupo The Boyz.

Também em 2024, o ator e membro da banda TVXQ, uma das pioneiras da onda coreana Kim Jae Joong (Spy) contou ter sido beijado enquanto dormia por uma sasaeng que invadiu sua casa. Em outra ocorrência, o artista recebeu uma foto de suas costas, provando que a pessoa estava em sua casa naquele momento. Kim disse ter vivido como um prisioneiro, constantemente checando se estava sendo vigiado e sentindo como se fosse alvo de um atirador.

Venda de informações

A investigação atual revelou a forma como os suspeitos adquiriam informações sobre as viagens de artistas e vendiam os dados para fãs. Segundo a Hybe, a quadrilha agiu não apenas contra o BTS, mas atingiu também outros grupos da empresa e artistas de outras agências

Em um dos incidentes investigados, um stalker usou os dados para reservar um assento próximo dos idols. Vários artistas revelaram ao longo dos anos que não se sentem capazes de dormir durante os voos por temer serem tocados por estranhos. Fatos semelhantes levaram o BTS a usar aviões fretados – recebendo críticas de que haviam enriquecido e queriam distância do público. Em um caso, os artistas descobriram que stalkers haviam alterado suas refeições em um voo, provando que os criminosos tinham acesso aos sistemas da empresa aérea.

Para os artistas que falaram do assunto, um dos problemas tem sido as penas leves dadas a sasaengs e stalkers. No passado, os culpados pagavam multas ou cumpriam penas curtas. Uma vez livres, voltavam a agir, restando ao artista mudar de endereço e muitas vezes enfrentar retaliações e até críticas por não aceitar o “amor” dos fãs. Foi somente em 2021, após intensas críticas do público que a lei foi alterada. Os casos recentes, entretanto, provam que o aumento das multas e do tempo de cadeia ainda não foi capaz de proteger os alvos de perseguição.