O Las Navajas FC é um time pequeno. Um desses que você vê jogando num campo de várzea quando olha pela janela do ônibus num sábado qualquer. Para piorar, o Las Navajas corre o risco de perder seu campo, ameaçado de se tornar um cassino.
Mas, o que falta de poder econômico e de sorte – o técnico acaba de morrer, o time é roubado e o presidente da liga faz de tudo para atrapalhar – o Las Navajas tem de paixão de seus jogadores. Em especial seu capitão, Don Gil (Álvaro Guerrero, de Amores Brutos), que sai em busca de uma arma secreta para vencer o campeonato e usar o dinheiro para salvar o campo, El Veneno (José María de Tavira, El Candidato), o melhor jogador que o bairro já viu.
Esse é o universo de 90 Minutos, série mexicana disponível no Universal+ em que o futebol recupera seu elemento mais importante, a capacidade de unir pessoas.
“A série é baseada em muitos anos jogando futebol amador e nas muitas pessoas que conheci nesse mundo maravilhoso do jogador de futebol com mais de 40 anos, que não tem mais as habilidades, nem a garra, nem a técnica, mas que tem o coração voltado para defender suas cores, e acima de tudo, um espaço”, explica o criador da série Joe Rendón, com quem o CriCríticos conversou com exclusividade.
“Eu acho que o futebol consegue dar aos homens de uma certa idade, uma saída da vida cotidiana, permite que você recupere um pouco daquela essência de outros tempos, de quando você podia ser um pouco mais bobo, um pouco mais brincalhão com seus amigos. Um universo que eu acho que não tem sido muito explorado na ficção e é muito importante para o homem latino-americano.”
Com uma ideia na cabeça, Rendón partiu para povoar a série com personagens dos bairros populares e que, com certeza, existem também no Brasil.
“Don Gil é baseado no meu avô”, explica Rendón. “Ele era um mecânico, um malandro carismático”, continua o criador da série. “E Zindedín (Adrián Vázquez) é de fato o apelido dado ao irmão de um amigo nosso que perdeu os dedos quando criança, mas que tocava muito bem.”

Intérprete do valente capitão do Las Navajas, Álvaro Guerrero também se valeu do cotidiano dos bairros. “Eu vejo as pessoas jogando no final de semana. E há uma certa melancolia nesses jogadores que nunca vão alcançar a fama, o dinheiro dos grandes, dos profissionais famosos.
Guerrero também aponta a importância do bairro na vida das pessoas para explicar que manter o campo do time não é apenas uma questão de ter um espaço para jogar. “Tenho muitos conhecidos no bairro que seguem vivendo aqui e jamais sairão pelo enorme carinho que têm pelo lugar. A vida deles teria pouco significado se saírem daqui”, o ator continua, “e mesmo tendo a oportunidade até de viver em lugares melhores, seguem vivendo aqui.”
El Veneno – o salvador do Las Navajas

“Acho que Joe escreveu um personagem que é um herói clássico”, define José María de Tavira, que interpreta o trágico El Veneno.
“Ele é um homem que teve uma grande oportunidade quando jovem, mas sofreu uma tragédia e agora vive escondido, numa caverna, assombrado por seu passado. É quando surge uma oportunidade de vingança, uma segunda chance de cumprir seus negócios inacabados. Ao mesmo tempo, ele tem um talento, que é ter força, paixão e luta.
Interpretar Veneno exigiu uma camada a mais de Tavira, já que seu personagem usa uma prótese.
“Estudei para ver como as pessoas nessas circunstâncias andam. E eu tinha uma espécie de joelheira que bloqueou o meu joelho e me forçou a criar a biomecânica do Veneno.” A escolha pelo equipamento tem um motivo técnico: “eu já vi colegas que mancam de uma perna e se esquecem e passam a mancar de outra. Eu não queria que isso acontecesse. Então, pensei, vou me concentrar nas falas e nas cenas”, explica Tavira.
Acima de tudo, Veneno é um homem que desceu às sombras e volta à luz graças ao Las Navajas, com 90 Minutos tendo o futebol como cenário, mas a redenção como tema principal.
“Todos os personagens estão em busca de uma segunda chance em um universo que lhes é familiar”, diz Tavira. “Eles cresceram lá, mas hoje, 20, 30 anos depois, eles são pessoas diferentes.”
“Veneno está indo em direção á descoberta de que, com ou sem perna, ele sempre foi essa pessoa, porque seu coração, seu carisma e sua capacidade de unir as pessoas que o tornam tão cativante.”
Só vale o aviso de que o vocabulário inclui impropérios de todos os tipos. Alguns bem criativos. Ou você acha que todo mundo é fino e delicado quando joga por paixão e não por dinheiro?

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